Descrição de chapéu talibã refugiados

Bebê entregue a soldado dos EUA na retirada do Afeganistão está desaparecido

Refugiada no Texas, família continua busca; governo americano diz que atua com parceiros internacionais para localizar criança

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Nova York | Reuters

Foi uma decisão feita em frações de segundo. Em 19 de agosto, quando uma multidão caótica aguardava do lado de fora do aeroporto de Cabul, no Afeganistão, Mirza Ali Ahmad e sua esposa Suraya, acompanhados de seus cinco filhos, ouviram um soldado americano, de cima de uma cerca alta, perguntar se eles precisavam de ajuda.

Com medo de que seu bebê de dois meses, Sohail, fosse esmagado, eles o entregaram ao soldado, imaginando que logo chegariam à entrada, a 5 metros de distância.

Sohail Ahmadi, com cerca de dois meses, em uma foto feita em agosto de 2021, em Cabul
Sohail Ahmadi, com cerca de dois meses, em uma foto feita em agosto de 2021, em Cabul - Arquivo pessoal/Reuters

Mas, naquele momento, segundo ele, soldados do Talibã —grupo que assumiu o controle do país com a retirada das tropas americanas— começou a dispersar naquele ponto os afegãos que buscavam deixar o país. A família levou mais de meia hora para atravessar a cerca do aeroporto.

Depois de ter entrado, foi impossível localizar Sohail.

Ahmad, que afirma ter trabalhado como segurança na embaixada americana por dez anos, começou desesperadamente a perguntar sobre o paradeiro do filho a todo militar que encontrava. Um comandante afirmou a ele que o aeroporto era um local muito perigoso para bebês e que ele deveria ter sido levado para uma área especial destinada a crianças. Mas, quando chegaram lá, o espaço estava vazio.

"Ele caminhou comigo por todo o aeroporto para procurar em todas as partes", Ahmad disse à Reuters em uma entrevista, com apoio de um tradutor. Ele contou que nunca soube o nome do comandante, porque não fala inglês. Para se comunicar no terminal, era ajudado por colegas afegãos com quem trabalhara na embaixada. Depois desse episódio, três dias se passaram.

"Eu falei com cerca de 20 pessoas. A todo funcionário, militar ou civil, que eu encontrava, perguntava sobre meu bebê."

Segundo Ahmad, um dos civis afirmou a ele que Sohail pode ter sido colocado sozinho em um voo que partiu do Afeganistão. "Ele disse: ‘não temos recursos para manter um bebê aqui’."

Ahmad, 35, Suraya, 32, e seus outros filhos —com 17, 9, 6 e 3 anos— foram colocados em um avião de retirada para o Qatar, depois enviados à Alemanha e, por fim, chegaram aos EUA. A família está agora em Fort Bliss, no Texas, com outros refugiados, esperando para ser realocada em alguma outra cidade. Eles não têm parentes no país.

O afegão disse que viu outras famílias entregando bebês a soldados no aeroporto de Cabul. Um vídeo mostrando um bebê sendo puxado pelos braços viralizou na internet —esta criança conseguiu, mais tarde, ser localizada pela família.

Segundo Ahmad, as datas parecem se confundir em um borrão desde que seu filho desapareceu. Com cada pessoa que encontra —trabalhadores humanitários e funcionários americanos— ele fala sobre Sohail. "Todos prometem que vão fazer o máximo, mas são apenas promessas."

Um grupo de apoio a refugiados afegãos criou uma imagem com os dizeres "bebê desaparecido" e a foto da criança, e a mensagem está sendo enviada a grupos e contatos com a esperança de que alguém o reconheça.

Um funcionário do governo americano familiarizado com a situação disse à Reuters que o caso foi sinalizado a todas as agências envolvidas, incluindo bases nos EUA e em locais no exterior. De acordo com ele, ainda não foi possível localizar a criança desde que ela foi vista pela última vez sendo entregue a um soldado americano durante o caos no aeroporto de Cabul.

Porta-vozes do Departamento de Defesa e do Departamento de Segurança Interna dos EUA, que supervisiona os esforços de reassentamento, encaminharam a questão ao Departamento de Estado, uma vez que a separação ocorreu no exterior.

O órgão responsável pela diplomacia disse que o governo está trabalhando com aliados e a comunidade internacional "para utilizar todas as vias para localizar a criança, o que inclui um alerta internacional emitido pelo Centro Internacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas".

Suraya, que também falou à Reuters com ajuda de um tradutor, disse que chora a maior parte do tempo e que seus outros filhos também não param de pensar no assunto.

"Tudo o que faço é pensar sobre meu bebê", afirmou. "Todo mundo que me liga, minha mãe, meu pai, minha irmã, todos tentam me confortar e dizem: ‘não se preocupe, Deus é bom, seu filho será encontrado’."

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