Descrição de chapéu China Governo Biden

Biden faz 1ª reunião virtual bilateral com Xi, marcada por troca de advertências sobre Taiwan

Temas como Taiwan, direitos humanos e cooperação ambiental estão na pauta

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Washington

O presidente dos EUA, Joe Biden, realizou sua primeira reunião virtual bilateral com o dirigente chinês, Xi Jinping, na noite desta segunda (15), na qual os dois buscaram rever vários pontos para garantir que a competição entre as duas maiores potências do planeta não gerem um conflito em meio a advertências mútuas acerca da situação de Taiwan. A conversa entre os dois durou cerca de três horas e meia, ao menos 30 minutos mais do que o esperado.

No início da conversa, presenciada por alguns jornalistas, Biden disse que esperava um diálogo sincero e direto. "Temos uma responsabilidade com o mundo e com nossos povos", disse o líder americano.

Presidente dos EUA, Joe Biden, durante reunião virtual com líder chinês, Xi Jinping
Presidente dos EUA, Joe Biden, durante reunião virtual com líder chinês, Xi Jinping - Jonathan Ernst/Reuters

"Estou feliz por rever um velho amigo", disse Xi no começo da reunião. Os dois se conhecem há anos, pois tiveram várias reuniões quando o democrata era vice-presidente, de 2009 a 2017. "A humanidade vive em uma aldeia global, e encaramos muitos desafios juntos. China e os EUA precisam aumentar sua cooperação e integração", prosseguiu o líder chinês.

Antes da reunião, funcionários do governo americano indicaram, em conversas reservadas com a imprensa, que Biden pretendia deixar claro na reunião quais são as intenções americanas, de modo a evitar mal-entendidos futuros. "[A conversa] é uma oportunidade para o presidente Biden dizer ao presidente Xi diretamente que ele espera que ele siga as regras internacionais, que é o que se espera que as nações responsáveis façam", disse um funcionário da Casa Branca, sob anonimato.

Do outro lado, Zhao Lijian, porta-voz da diplomacia chinesa, afirmou que as relações entre os dois países estão "em um cruzamento crítico", e que a China espera que os EUA busquem formas de fortalecer o diálogo e a cooperação, de modo a trazer as relações de volta aos trilhos do desenvolvimento estável.

A mídia estatal chinesa informou após a cúpula que Xi advertiu Biden que alimentar a independência de Taiwan seria "brincar com fogo".

O governo de Xi considera Taiwan como uma província rebelde, e tem ampliado a presença militar na região, o que gera temores de um bloqueio ou invasão. A ilha, onde vivem 23 milhões de pessoas, recebeu os líderes chineses que se exilaram após a Revolução Comunista de 1949, e têm os EUA como aliado militar.

No comunicado da Casa Branca, Biden também reafirmou sua posição quanto à ilha, que está sob crescente pressão militar e diplomática de Pequim.

"Os Estados Unidos se opõem veementemente às tentativas unilaterais de mudar o status quo ou dizimar a paz e a estabilidade no estreito de Taiwan", disse o comunicado. O texto, no entanto, reforça não reconhecer a idependência da ilha.

China e EUA também têm embates em temas como a militarização do mar do Sul da China e dos países do Pacífico, segurança digital e regras de comércio internacional. Os americanos acusam os chineses de competir de modo desleal, ao subsidiar empresas chinesas com dinheiro público, por exemplo. Também apontam casos de desrespeito aos direitos humanos. Há denúncias de que muçulmanos sejam mantidos sob vigilância extrema e restrições de liberdade na região de Xinjiang, por exemplo.

Biden também planejava abordar temas em que os dois governos podem se ajudar. Foi anunciada na semana passada um termo de cooperação entre os dois países na área ambiental, para reduzir a emissão de metano e o consumo de carvão. No entanto, Biden fez duras críticas à ausência de Xi na conferência. "Acho que foi um grande erro, francamente, que a China não apareceu", disse Biden em entrevista coletiva , acusando o rival de "virar as costas" ao "gigantesco" problema que o planeta enfrenta.

Desde o começo do governo, Biden e Xi tiveram duas conversas por telefone, em fevereiro e em setembro, mas não se encontraram pessoalmente. O líder chinês não viaja ao exterior desde o início da pandemia.

Em seu primeiro ano de governo, o democrata baixou o nível de tensão com a China, na comparação com o governo do antecessor, Donald Trump, mas segue pressionando o país asiático. Ele tem deixado claro que pretende deixar os EUA em melhores condições de superar os chineses em diversas áreas, enquanto busca conter o avanço de empresas asiáticas no mercado americano, especialmente na área de tecnologia.

Na semana passada, por exemplo, Biden sancionou uma lei para impedir empresas consideradas ameaças à segurança dos EUA, como as chinesas Huawei e a ZTE Corp, de receberem novas licenças das autoridades reguladoras norte-americanas para seus equipamentos.

Xi comanda a China desde 2013 e vive um momento de reafirmação de seu poder. Na semana passada, uma resolução do Partido Comunista, considerada histórica, reforçou o apoio ao atual dirigente, que passou a ser considerado o líder mais forte desde Mao Tsé-tung, que comandou a Revolução Comunista de 1949. A resolução abre caminho para que Xi busque um terceiro mandato. O limite para reeleição foi retirado em 2018.

Nos EUA, Biden busca se recuperar após uma queda de popularidade, motivada por várias razões, incluindo a retirada abrupta do Afeganistão, em agosto, uma alta da inflação e a demora em aprovar pacotes de investimento. Um deles, o de US$ 1,2 trilhão em infraestrutura, foi sancionado por Biden na tarde desta segunda. O outro, de investimentos sociais e ambientais, está em debate no Congresso.

Apesar das tensões, as duas potências possuem economias fortemente integradas. Em 2020, os EUA importaram US$ 434 bilhões em produtos chineses, e exportaram US$ 124 bilhões ao país asiático.

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