Projeções apontam vitória de republicano em eleição na Virgínia, termômetro da política nos EUA

Glenn Youngkin será novo governador do estado; disputa acirrada coloca pressão sobre governo Biden

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Washington

O republicano Glenn Youngkin será o novo governador da Virgínia, apontam projeções da agência de notícias Associated Press e as emissoras CNN e MSNBC. A vitória, se confirmada, colocará mais pressão sobre os democratas e o governo do presidente Joe Biden.

A eleição estadual, realizada nesta terça (2), costuma apontar os rumos da política dos EUA. Com 97% das urnas apuradas, Youngkin aparece com 51% dos votos, à frente do democrata Terry McAuliffe, com 48,3%. A diferença entre os dois é de cerca de 90 mil votos.

A distância entre os candidatos nas pesquisas de boca de urna chegou a ser tão pequena que as TVs americanas afirmaram que não era possível apontar o ganhador da disputa.

O candidato republicano ao governo da Virgínia, Glenn Youngkin, conversa com apoiadores do lado de fora de local de votação em na cidade de Chantilly
O candidato republicano ao governo da Virgínia, Glenn Youngkin, conversa com apoiadores do lado de fora de local de votação em na cidade de Chantilly - Elizabeth Frantz/Reuters

As urnas foram fechadas às 19h (20h em Brasília). O resultado final, com 100% dos votos, ainda pode demorar, pois serão aceitos votos enviados pelo correio postados até esta terça e que cheguem às autoridades eleitorais até, no máximo, sexta-feira (5).

Caso Youngkin confirme o bom resultado, essa será a primeira vitória eleitoral republicana de peso desde que o partido perdeu o pleito presidencial de 2020, em um revés ainda mais doloroso para os democratas porque em 2020 Joe Biden ganhou no estado por uma margem de dez pontos percentuais.

Outra eleição realizada nesta terça também preocupa os democratas. O governador Phil Murphy busca a reeleição em Nova Jersey, contra o republicano Jack Ciattarelli. Pesquisas apontavam Murphy mais de dez pontos à frente, mas a apuração mostra um resultado apertado. Com 78% dos votos já analisados, Ciatarelli somava 50,2% dos votos, contra 49% de Murphy.

Caso as derrotas se confirmem, elas serão mais um obstáculo na pilha de problemas do presidente. Além da queda de popularidade desde a caótica retirada do Afeganistão, dois pacotes trilionários de investimentos estão parados no Congresso, em grande parte devido à falta de consenso entre membros do próprio partido.

Youngkin, 54, é ex-presidente do grupo financeiro Carlyle, no qual trabalhou por 25 anos. Ele deixou a empresa no fim de 2020 e meses depois se lançou em campanha. Nascido em Richmond, capital da Virgínia, conseguiu uma bolsa na Rice University, do Texas, por jogar basquete, e chegou a disputar a liga universitária americana. Depois de se formar, começou a carreira no mercado financeiro em 1990 e entrou no Carlyle em 1995. Na empresa, construiu uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 440 milhões.

Na campanha, o republicano apostou no perfil de empresário que não é político e se colocou como defensor de valores cristãos e do direito dos pais de intervir no conteúdo ensinado nas escolas, uma maneira de tirar do currículo escolar temas como preconceito racial e livros que descrevem cenas de sexo, assim como outros assuntos que sejam considerados com carga política ou ideológica.

Youngkin também é contrário à vacinação obrigatória contra a Covid-19 em funcionários e prometeu reduzir impostos, afrouxar regras trabalhistas para gerar empregos e reforçar o ensino de matemática.

"Nos últimos oito anos, estados vizinhos têm crescido até 120% mais rapidamente do que a Virgínia. No meu mundo, se seus competidores crescem 120% a mais, você é demitido. Os democratas deveriam ser demitidos", disse ele, num comício em Richmond, ecoando o bordão de Donald Trump quando era apresentador do programa "O Aprendiz".

Youngkin recebeu apoio público do ex-presidente, mas buscou não se associar à figura dele, para não afugentar eleitores independentes. Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, fez um comício em apoio ao candidato, no qual o ex-líder dos EUA participou por telefone —o próprio Youngkin não compareceu.

Já McAuliffe, 64, começou a campanha com boa vantagem sobre o rival, mas chegou à reta final da disputa em empate técnico nas pesquisas. Seu mau desempenho na votação sinaliza que os democratas deverão enfrentar dificuldades nas próximas eleições legislativas de meio de mandato, no final de 2022. Atualmente, o partido comanda Câmara e Senado, mas com vantagem muito pequena.

O candidato democrata ao governo da Virgínia, Terry McAuliffe, ao lado de apoiadores durante evento em Falls Church
O candidato democrata ao governo da Virgínia, Terry McAuliffe, ao lado de apoiadores durante evento em Falls Church - Win McNamee/Getty Images/AFP

Filho de um político democrata, McAuliffe nasceu em Syracuse, no estado de Nova York, e começou a empreender ainda na adolescência. Além de fazer carreira no setor bancário, investiu em áreas como telecomunicações e carros elétricos e se envolveu em negócios um tanto controversos, como a venda de uma empresa com sede em Bermudas que viria a falir na sequência, deixando 12 mil desempregados.

Veterano, ele governou a Virgínia entre 2014 e 2018 e elegeu seu sucessor. Próximo da família Clinton, gerenciou a campanha de Hillary pela candidatura democrata à Presidência em 2008.

Na campanha atual, McAuliffe prometeu manter direitos civis, como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e combater a desigualdade racial. Também se comprometeu a gerar mais empregos e melhorar a educação pública, além de ampliar o acesso à saúde.

Devido à importância do pleito, os principais nomes do partido foram até o estado participar de comícios do candidato democrata, incluindo o presidente Joe Biden, a vice Kamala Harris, o ex-presidente Barack Obama e Stacey Abrams, democrata da Geórgia célebre pela luta pelo direito ao voto.

Nos discursos nos eventos eleitorais, eles indicaram que uma derrota significaria vitória do trumpismo e o risco de perda de direitos, como o aborto, como tem ocorrido em estados comandados por republicanos.

A eleição

A Virgínia aumentou as possibilidades de votar de forma antecipada neste ano. Além da participação pelo correio, diversos postos de votação ficaram abertos ao longo de seis semanas. A mudança buscou ampliar o comparecimento dos eleitores, que costuma ficar abaixo de 50% nos pleitos locais.

Em geral, a eleição para governador no estado indica para que lado a balança política americana está pendendo. Em 2008, Obama conquistou a Casa Branca com uma vitória marcante e viu, no ano seguinte, os democratas perderem o governo da Virgínia. Em 2010, então, os republicanos venceram de forma abrangente as chamadas "midterms", eleições legislativas de meio de mandato, e retomaram o poder no Congresso, travando boa parte das propostas do então presidente nos anos seguintes.

Em 2017, deu-se o contrário: os democratas venceram na Virgínia um ano depois de Trump chegar ao poder e, no ano seguinte, reconquistaram o controle da Câmara nas "midterms". Como o pleito que elege o governador no estado ocorre durante o primeiro ano de mandato do presidente escolhido no ano anterior, a disputa acaba se tornando uma fotografia da avaliação do ocupante da Casa Branca naquele momento.

Nesta terça, houve também votações para o governo de grandes cidades, como Atlanta, Boston e Nova York, onde vitórias democratas eram esperadas. Eric Adams, ex-policial e presidente —equivalente a subprefeito— da região do Brooklyn, tornou-se o segundo prefeito negro a comandar Nova York e manteve o domínio democrata, segundo projeções da Associated Press e da CNN.

O partido governa a cidade de forma contínua desde 2002. Pesquisas o mostram com 40 pontos percentuais de vantagem sobre o republicano Curtis Sliwa, um apresentador de rádio.

Em Boston, houve uma disputa incomum entre duas mulheres não filiadas a partidos. Uma delas, Michelle Wu, venceu e se tornará a primeira mulher a governar a cidade. Sua principal competidora, Anissa George, já fez um discurso reconhecendo a derrota. As duas atuam no conselho municipal —equivalente à Câmara de Vereadores— e receberam o apoio de democratas, que governam a cidade desde os anos 1930. A atual prefeita, Kim Janey, endossou a candidatura de Wu.

Em Atlanta, a atual prefeita, a democrata Keisha Bottoms, decidiu não disputar a reeleição. Agora, há 14 candidatos na disputa e três democratas negros são apontados como favoritos: o ex-prefeito Kasim Reed e os conselheiros municipais Andre Dickens e Felicia Moore.

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