Descrição de chapéu China

China lança guerra à 'cultura de celebridades'

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Igor Patrick
Xangai

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A China quer colocar um fim ao que o governo define como "cultura de celebridades". Para isso, prepara um arcabouço legal para boicotar "artistas que infringiram a lei ou transgrediram a moralidade social".

O Escritório da Comissão Central de Assuntos do Ciberespaço anunciou em uma circular que vai proibir "atos irracionais de idolatria" na internet.

  • O texto é recheado de adjetivos e critica a "estética anormal" de celebridades, "responsáveis por deteriorar valores dominantes" da sociedade chinesa;

  • Reguladores prometeram criar uma lista com celebridades envolvidas em "escândalos vulgares e histórico de comportamentos antiéticos".

O cantor de K-Pop Kris Wu, preso após acusações de estupro, o ator Zhang Zhehan, que caiu em desgraça após visitar um santuário no Japão dedicado a criminosos de guerra, e Zheng Shuang, que sumiu dos buscadores após ser multada por fraude fiscal, estariam na mira das autoridades.

"Histórias não comprovadas sobre artistas ou atos irracionais de idolatria, entre outros conteúdos, serão proibidos na internet", reportou a agência de notícias oficial Xinhua na terça (23). Famosos também estão proibidos de "ostentar riqueza ou prazeres extravagantes" nas redes sociais.

Por que importa: O frenesi em torno de celebridades nunca agradou o governo, mas o assunto se tornou mais urgente quando Kris Wu foi preso e fãs se organizaram nas redes sociais para tirá-lo da prisão. As novas políticas, porém, vão muito além de uma resposta governamental a fãs adolescentes na internet.

  • O governo quer acabar com a cultura do excesso e da ostentação. A promoção do conceito de "prosperidade comum" tem levado a imprensa oficial e as empresas a divulgar conteúdos que exaltem o bem comum ao invés do sucesso de poucos.

  • Discursos sexistas ganharam força na China. Oficiais reclamaram abertamente de homens famosos "frágeis" e "femininos". São os casos que o Escritório de Assuntos do Ciberespaço classifica como modelos de "estética anormal".

O cantor de K-Pop Kris Wu foi preso após acusações de estupro e estaria na mira de autoridades chineses - Angela Weiss/AFP

o que também importa

O Escritório da China para Assuntos de Taiwan condenou o convite dos EUA à ilha para a chamada "Cúpula pela Democracia" organizada por Joe Biden. A reunião foi anunciada pelo presidente americano em fevereiro.

  • Ao longo de vários séculos, Taiwan foi ocupada por diferentes forças estrangeiras. Quando libertada da invasão japonesa e devolvida a Pequim, tornou-se local de refúgio dos chineses nacionalistas que escaparam da vitória comunista na guerra civil em 1949.

  • Pequim considera a região uma "província rebelde" e exige que aliados sigam o princípio de "uma só China", o que implica em cessar relações a nível de Estado com o governo da ilha.

O porta-voz do escritório, Zhu Fenglian, disse que o convite indica uma "postura clara e consistente" de desrespeito ao princípio de uma China pelo governo americano e exigiu o fim de qualquer contato oficial dos EUA com os taiwaneses.

Recentemente, Xi Jinping também declarou que os chineses não vão abrir mão do território e repetiu que Pequim não desconsidera o uso da força para reconquistar a ilha se necessário. O Pentágono respondeu às ameaças dizendo ser capaz de defender Taiwan militarmente.

A Tencent, dona do mensageiro WeChat e do jogo "League of Legends", será obrigada a submeter novos aplicativos e atualizações para inspeção governamental. O anúncio é mais um capítulo na cruzada da China contra empresas de tecnologia que se tornaram grandes demais sem regulação.

O Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação não explicou os motivos para a medida e afirmou que as restrições são temporárias. O noticiário local informou que a empresa feriu regras de proteção e armazenamento de dados.

A Tencent não comentou as restrições, embora tenha divulgado nota dizendo que todos os aplicativos permanecem disponíveis para download e que usuários não serão afetados pelas restrições.

O Escritório Nacional de Estatística da China divulgou os resultados completos do censo demográfico realizado no início do ano. Eles mostram que a taxa de natalidade no país em 2020 caiu para seu menor nível em mais de 40 anos.

Pela primeira vez desde 1948, a taxa de novos nascimentos por mil habitantes ficou em um dígito, 8,52. O resultado confirma os temores quanto à dificuldade para o país repor a sua população ativa, o que é um risco para o crescimento econômico chinês a longo prazo.

Neste ano, o país aumentou para três o número de crianças que cada casal pode ter. Até 2016, vigorou a política de filho único, que levou milhares de mulheres a serem forçadas a interromperem gestações.

Bamu Yubumu anda com suas crianças na vila de Taoyuan, na província de Sichuan - Zhou Ke/Xinhua

fique de olho

Discursando em um seminário direcionado a oficiais chineses envolvidos com a Iniciativa de Cinturão e Rota, o líder chinês, Xi Jinping, destacou a necessidade de combater a "corrupção transfronteiriça", educando empresas e cidadãos chineses "para que sigam as leis e respeitem costumes e hábitos locais". Xi admitiu que a conectividade entre as rotas comerciais terrestres e marítimas nos países envolvidos na iniciativa é uma tarefa difícil e fatores externos como a pandemia e a competição industrial tornaram a tarefa "feroz".

Por que importa: a Iniciativa de Cinturão e Rota está na mira do Departamento de Estado americano, que vem trabalhando para enfraquecer seu alcance e influência. Com a fala, Xi tenta ganhar pontos com a opinião pública internacional.

Contar com mecanismos para diversificação e escoamento de mercadorias nunca foi tão importante para a China, especialmente agora que o mundo começa a se abrir e o país segue firme no controle de fronteiras para mitigação da Covid.


para ir a fundo

  • A Observa China realiza neste sábado (27) mais um evento online da sua série de palestras em inglês. O convidado da vez é o professor Jiang Shixue, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Xangai e pesquisador sênior da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Ele vai falar sobre como promover as relações entre a China e os países da América Latina. (gratuito, em inglês)
  • O SCMP produziu uma longa reportagem sobre histórias curiosas envolvendo Macau, uma das duas regiões administrativas especiais na China e por séculos uma concessão aos portugueses. O material é uma bela linha do tempo de eventos que vão desde a pirataria costeira a casos anedóticos envolvendo o período em que Portugal geria a região. (paywall poroso, em inglês)
  • Lançada a obra "China: O Socialismo do Século XXI", de Elias Jabbour e Alberto Gabriele, da editora Boitempo. O livro tenta explicar o que é o tal "socialismo com características chinesas" empreendido pelo gigante asiático desde o início das políticas de reforma e abertura em 1978. (R$67,90, em português)
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