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Deputado fala por quase 15 h para dar tempo a colega em quarentena votar impeachment no Chile

Congresso debate processo contra Sebastián Piñera; opositor só pode sair de casa nesta terça

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Buenos Aires

O deputado socialista Jaime Naranjo chegou ao Congresso chileno nesta segunda-feira (8) carregando uma pasta com 1.300 folhas de papel. Seu objetivo: ler um discurso por 13 horas. A tarefa faz parte de uma estratégia para esticar a sessão até meia-noite e, assim, aguardar um colega de oposição que só pode sair de casa nesta terça (9).

Giorgio Jackson está em período de isolamento por ter tido contato com uma pessoa infectada com o coronavírus. Apesar de liberado por um teste de PCR negativo, ele tem que cumprir a quarentena até a meia-noite.

O motivo do esforço para contar com Jackson é o tema debatido na sessão desta segunda: a abertura do processo de impeachment do atual presidente chileno, Sebastián Piñera. A oposição quer aprovar o texto, para o qual são necessários 78 votos. Com as duas partes contando votos um a um, a participação de cada parlamentar é considerada essencial.

O deputado chileno Jaime Naranjo durante seu discurso de horas em sessão desta segunda (8) no Congresso chileno - Rodrigo Garrido - 8.nov.21/Reuters

A sessão começou às 10h, com a leitura da acusação —esta, por sua vez, já tem 99 páginas. O texto acusatório, apresentado pela oposição no último dia 13 de outubro, trata da "violação do princípio de probidade e do comprometimento grave da honra da nação".

A acusação contra Piñera, cujo mandato termina em março de 2022 —as eleições presidenciais serão realizadas no próximo dia 21—, teve início depois da divulgação dos chamados Pandora Papers. A investigação jornalística, capitaneada pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), revelou que o mandatário teria realizado uma operação com potencial conflito de interesses envolvendo uma conta offshore nas Ilhas Virgens Britânicas.

A venda da mineradora Dominga, que pertencia à família do atual chefe do Executivo, foi fechada em 2010, ano em que Piñera também ocupava a Presidência do Chile. Segundo a apuração jornalística, o comprador, amigo próximo do político, exigiu que não fosse criada uma área ambiental na zona de operação da empresa, o que atrapalharia a exploração de minério na região.

A transação, que movimentou US$ 152 milhões (R$ 838 milhões), seria dividida em três parcelas, sendo que a última apenas seria liberada caso não fosse estabelecida a área de proteção, requerida por ativistas. Na época, o governo acabou não delimitando a área como zona verde, e o pagamento, portanto, teria sido confirmado.

Além da possibilidade de o Congresso iniciar o julgamento político, o Ministério Público chileno abriu uma investigação sobre a transação.

Na sessão desta segunda, o discurso de Naranjo enfileirou argumentos pró-impeachment —de impactos no meio ambiente envolvendo a operação da mineradora até pontos técnicos da Constituição sobre o impedimento de um presidente e o uso de contas offshore.

O deputado fez um breve recesso à tarde, durante o qual um médico mediu sua pressão arterial e informou a bancada de que ele estava liberado para continuar discursando e participar da votação. Em outros quatro intervalos, de 15 minutos, pôde ir ao banheiro.

Ele ainda fez pausas em sua fala por diversas vezes avisando que tomaria "um pouquinho de água".

Mais cedo, Giorgio Jackson, o parlamentar quarentenado, gravou um vídeo para ser divulgado entre os congressistas, pedindo que os deputados votassem com seriedade e dizendo que ele estaria pronto para ir ao Congresso, em Valparaíso, assim que sua quarentena terminasse.

"Esse é um presidente que colocou sua vontade acima dos interesses dos chilenos e do meio ambiente do país, essa acusação é grave e tem de ser avaliada com calma, não importa quantas horas sejam necessárias", afirmou.

Nem Piñera nem seus apoiadores no Congresso fizeram questionamentos à estratégia da oposição. Segundo a defesa do presidente, como a causa discutida não tem mérito, apresentar um recurso seria reconhecer esse ponto. "Nossa defesa é contra a questão de fundo, a falta de mérito da acusação", disse o advogado Jorge Gálvez.

O discurso de Naranjo durou quase 15 horas.

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