Descrição de chapéu G20 g8

Entidades condenam agressões a jornalistas durante visita de Bolsonaro a Roma

Para Instituto Vladimir Herzog, Abraji e ABI, presidente estimula ataque a profissionais

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São Paulo

Entidades de defesa do jornalismo e da liberdade de expressão no Brasil manifestaram repúdio contra as agressões sofridas por repórteres que cobriam a visita de Jair Bolsonaro (sem partido) a Roma durante a cúpula do G20. Neste domingo (31), profissionais credenciados de Folha, UOL, TV Globo, jornal O Globo e BBC Brasil levaram empurrões e socos de seguranças não identificados, brasileiros e italianos.

Em carta aberta a Bolsonaro publicada nesta segunda (1º), o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jeronimo, afirmou que o mandatário incentiva a hostilidade contra os profissionais.

"Com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas", escreveu.

O presidente Jair Bolsonaro ouve gritos de 'assassino' e 'genocida' ao descer do carro na frente da embaixada brasileira em Roma
O presidente Jair Bolsonaro ouve gritos de 'assassino' e 'genocida' ao descer do carro na frente da embaixada brasileira em Roma - José Dias - 29.out.21/Presidência da República/Divulgação

Ele ressalta que o governo não pediu desculpas pelo ocorrido. "O senhor e os demais membros de sua comitiva, aí incluídos representantes do Itamaraty, foram incapazes de uma palavra de desculpa aos profissionais que estavam apenas trabalhando. Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas."

Para Jeronimo, as agressões aumentam o isolamento e o repúdio que Bolsonaro recebe da comunidade internacional. "Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa. O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente. Tenha compostura."

Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) lembrou que é dever da imprensa informar à sociedade atos do poder público, incluindo viagens do presidente no exercício do mandato, e que a sociedade tem o direito do acesso à informação garantido pela Constituição.

"Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal", diz. "Atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público."

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns - Comissão Arns informou que entrará com representações junto a autoridades brasileiras e italianas para investigar "o que levou funcionários pagos pelo Estado brasileiro a agredir compatriotas que atuavam no estrito cumprimento do dever profissional" e a "elucidar como e por que agentes de segurança da Itália participaram das mesmas cenas deploráveis".

"É estarrecedor constatar que a violência contra os profissionais da imprensa tenha ocorrido aparentemente com o propósito de livrar o presidente brasileiro do contato com quem precisa, por dever do ofício, apurar e levar informação ao público. Não seria diferente em um evento da relevância da Cúpula do G20, com a qual Jair Bolsonaro em nada contribuiu, a não ser com a sua irrelevância e capacidade de mentir sobre a nossa realidade", afirma nota de repúdio da entidade.

Segundo o Instituto Vladimir Herzog, o episódio não pode ser tratado de forma isolada. "Sob o atual governo, o Brasil se tornou um lugar hostil para o exercício da atividade jornalística. Questionar a imprensa ou discordar dela são atitudes legítimas; tentar silenciá-la com ataques e tentativas de intimidação é mais uma evidente e grave violação à Constituição e ao Estado democrático de Direito, que infelizmente se tornaram comuns no Brasil", afirma a nota.

A entidade reafirmou "o compromisso em promover articulações, desenvolver novas iniciativas e acionar todas as vias legais para responder aos complexos e perigosos desafios que atravessamos". "Somente assim seremos capazes de interromper a escalada de violações à liberdade de expressão e de ataques a jornalistas e comunicadores em todo o país."

No domingo, a Folha perguntou à Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência quem são os responsáveis pela segurança de Bolsonaro em Roma, mas não obteve resposta. Em nota sobre o episódio, o jornal afirmou: "A Folha repudia as agressões sofridas pela repórter Ana Estela de Sousa Pinto e outros jornalistas em Roma, mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional."

A TV Globo também se manifestou, condenando os ataques e pedindo que os responsáveis sejam punidos. "Quem contratou os seguranças? Quem deu a eles a orientação para afastar jornalistas com o uso da força? Os responsáveis serão punidos? A Globo está buscando informações sobre os procedimentos necessários para solicitar uma investigação às autoridades italianas", diz a empresa.

"Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa. Perguntas continuarão a ser feitas, os atos do presidente continuarão a ser acompanhados e registrados. É o dever do jornalismo profissional."

Em nota publicada nesta segunda, a BBC declarou que "condena fortemente qualquer tipo de violência contra a imprensa e insiste que o governo brasileiro assegure a segurança de jornalistas no desempenho de suas funções no espaço público".

No domingo, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) afirmou que "repudia com veemência e indignação as agressões sofridas por jornalistas brasileiros na cobertura das atividades do presidente" e que espera que os atos sejam apurados, e os culpados, punidos. "A impunidade nesse e em outros episódios é sinal de escalada autoritária."

A Comissão de Liberdade de Expressão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também divulgou nota de repúdio aos ataques contra os jornalistas. "É lamentável que incidentes como esse ocorram, refletindo uma postura frequente de desrespeito ao trabalho dos profissionais de imprensa."

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