O polemista de ultradireita Eric Zemmour, 63, formalizou nesta terça-feira (30) sua candidatura à Presidência da França nas eleições do próximo ano, encerrando meses de especulações sobre o assunto.
A cinco meses do pleito, pesquisas de intenção de voto mostram o jornalista atrás apenas do atual presidente, Emmanuel Macron, e da figura mais expoente da direita francesa, Marine Le Pen.
Sem trajetória política, Zemmour angariou apoiadores ao longo da última década com textos publicados em jornais e best-sellers nos quais ataca o feminismo, o islã, a imigração e o multiculturalismo. Devido a essa agenda, são frequentes as comparações feitas com o ex-presidente americano Donald Trump.
O anúncio da candidatura foi feito nas redes sociais acompanhado de um vídeo de dez minutos, no qual, entre outros pontos, ele critica a imigração e diz que os cidadãos franceses se sentem como estrangeiros no próprio país: "Devemos devolver o poder ao povo, retirá-lo das minorias que oprimem a maioria".
Com argumento típico de discursos da ultradireita ao redor do mundo, Zemmour justifica a decisão de se candidatar com a necessidade de "salvar o país do trágico destino que o aguarda". Ainda sobre imigração, acrescenta que não se trata da causa de todos os problemas franceses, "embora os torne ainda piores".
O material de lançamento da candidatura alude ao general Charles de Gaulle, figura importante da França no século 20 e responsável por liderar a resistência do país à ocupação nazista durante a Segunda Guerra.
Zemmour aparece falando em um microfone com uma estante cheia de livros antigos ao fundo, remetendo à imagem do general conclamando os franceses a se somarem à batalha em 1940 por meio de uma transmissão radiofônica.
Críticas ao presidenciável foram feitas por todos os lados do espectro político. O porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, disse à emissora Europe 1 que Zemmour se vendeu como um Trump francês, quando "é um Trump da Wish" –plataforma que Paris acusa de vender produtos falsificados na internet.
Já Le Pen afirmou, durante entrevista a uma rádio local, que sua provável candidatura é incomparável à de Zemmour. "Ele é um polemista, não um candidato presidencial", afirmou a líder da ultradireita a quem o rival chama de esquerdista e antiliberal. O Reunião Nacional, partido de Le Pen, ainda avalia quem será o candidato a disputar a Presidência, e o nome dela é o mais cotado.
Durante a entrevista, ela disse que pautas econômicas, de gênero e de política migratória evidenciam suas diferenças com Zemmour. "Ele coloca os homens contra as mulheres e continua afastando os franceses, enquanto nós fazemos o contrário."
O polemista já foi julgado duas vezes por discursos de ódio contra árabes, negros e muçulmanos. Durante um ato de pré-campanha em Marselha no último fim de semana, mostrou o dedo médio a uma mulher contrária às suas políticas, em cenas que foram registradas e amplamente criticadas pela mídia local.
Em entrevista concedida à Folha por email há um mês, Zemmour disse, entre outras pontos, que "o islã é incompatível com a República francesa", que "a luta contra a imigração é a prioridade imediata e vital" e que "Macron é prisioneiro do europeísmo e do globalismo".
O agora presidenciável desviou de questões sobre um possível alinhamento ideológico com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmando que respeita a soberania da população que o elegeu. Sobre o Brasil, disse que o retorno dos militares à política institucional é culpa da esquerda, que, se tivesse "combatido a insegurança terrível da qual sofrem os brasileiros, não teria permitido a eleição de Bolsonaro".
Zemmour nasceu em Montreuil e é graduado em ciência política pela Sciences Po. Trabalhou como jornalista no Le Quotidien de Paris e colabora com o Le Figaro. É, ainda, autor de biografias, ensaios e obras de ficção; seu último trabalho é "La France N'A Pas Dit son Dernier Mot".
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