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'Estou muito satisfeito', diz vencedor da eleição na Alemanha após reunião com Lula

Favorito à sucessão da primeira-ministra Angela Merkel, Olaf Scholz quer manter diálogo com petista

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DW

Político social-democrata que venceu a eleição na Alemanha e pode ser o próximo primeiro-minstro do país, Olaf Scholz se reuniu com o ex-presidente Lula brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira (12), em Berlim. Vice-premiê e ministro das Finanças, o alemão disse ter ficado "muito satisfeito com o encontro".

Lula e Olaf Scholz durante encontro em Berlim
Lula e Olaf Scholz durante encontro em Berlim - Ricardo Stuckert/Lula no Twitter

"Aguardo com expectativa continuar nosso diálogo!", escreveu Scholz no Twitter em inglês, neste sábado (13). No momento, Scholz lidera as negociações para a formação de uma coalizão de governo que deve tê-lo como primeiro-ministro do país.

As conversas envolvem a legenda de Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD), o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático. O SPD terminou a eleição em primeiro lugar, com 25,7% dos votos. Se as negociações forem bem-sucedidas, Scholz deve ser o sucessor da conservadora Angela Merkel e passar a comandar a maior economia da Europa.

Lula aparece no topo das pesquisas para vencer a eleição presidencial de 2022 no Brasil. O petista afirmou nesta sexta que teve uma "agradável conversa" com Scholz e que eles discutiram "o processo que está em curso para a formação de um novo governo e sobre a importância de fortalecer a cooperação Brasil-Alemanha".

O encontro durou cerca de uma hora, segundo a assessoria de Lula. O PT e SPD mantêm laços há décadas e Lula manteve relações amistosas com figuras históricas da legenda alemã como Willy Brandt, Gerhard Schröder, Johannes Rau e Helmut Schmidt.

Contraste

O encontro e as trocas de gentilezas entre Lula e Scholz contrastam com um recente incidente entre o político social-democrata alemão e o presidente Jair Bolsonaro.

No fim de outubro, Scholz foi ignorado por Bolsonaro durante uma reunião do G20, em Roma. Na ocasião, durante uma recepção geral para todos os líderes do G20 presentes, Bolsonaro conversou rapidamente com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Na mesma roda, estava Olaf Scholz. Bolsonaro, aparentemente não sabendo quem era Scholz, ignorou completamente o alemão e não lhe dirigiu a palavra. Pouco depois, enquanto Bolsonaro reclamava da mídia brasileira e trocava observações banais com Erdogan, Scholz virou as costas e foi falar com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

A indelicadeza não passou despercebida pela imprensa e foi usada como um exemplo do isolamento e do comportamento errático de Bolsonaro durante seu giro pela Itália.

As relações da Alemanha com o Brasil esfriaram consideravelmente desde 2019, especialmente por causa do desmonte de políticas ambientais no Brasil. Naquele ano, a primeira-ministra Angela Merkel disse ver com "grande preocupação" a situação no Brasil sob Bolsonaro. Em 2020, o governo alemão ainda admitiu que a cooperação com o governo federal brasileiro em áreas como política ambiental e assistência aos povos indígenas estava sendo cada vez mais difícil.

Giro pela capital alemã

Lula desembarcou em Berlim na quinta (11), dando início a um giro europeu que vai se estender até a semana que vem e que tem como objetivo reatar as relações com políticos proeminentes da Europa. Lula também pretende oferecer um contraste com o isolado Jair Bolsonaro, que em três anos de governo não construiu nenhum relacionamento relevante com as potências europeias e se destacou mais pelos ataques que fez a líderes do continente.

"Começamos hoje por Berlim com uma intensa rodada de encontros. Outro Brasil é possível. E vamos lembrar o mundo disso", disse Lula ao desembarcar. O ex-presidente ainda teve encontros com outros políticos e sindicalistas alemães.

Em Berlim, ele também se reuniu com os políticos do partido Die Linke (A Esquerda) Gregor Gysi e Heinz Bierbaum. O primeiro é um membro influente da legenda e foi o último líder do Partido Socialista Unificado (SED) da antiga Alemanha Oriental. Já Bierbaum é atualmente líder do Partido da Esquerda Europeia, um agrupamento de legendas de esquerda da UE.

"Os brasileiros merecem um presidente melhor do que o incompetente e perigoso Jair Bolsonaro", disse Gysi depois do encontro, em comunicado. "Desejamos a Lula sucesso nas eleições presidenciais e, juntamente com outros, o apoiaremos tanto quanto pudermos."

Lula ainda se reuniu com Martin Schulz, ex-líder do SPD alemão e ex-presidente do Parlamento Europeu. Schulz, que chegou a concorrer para primeiro-ministro em 2017, mas foi derrotado por Merkel, visitou Lula na prisão em Curitiba em agosto de 2018.

Lula se referiu a Schulz depois do encontro como "um companheiro das horas mais difíceis, a quem sou grato por ter feito questão de ir até o Brasil me visitar quando estava preso em Curitiba". Schulz é atualmente presidente a Fundação Friedrich Ebert, ligada ao SPD e que também é próxima da Fundação Perseu Abramo, do PT.

"Lula é a esperança do Brasil para o fim da política de divisão e provocação de Jair Bolsonaro. Foi uma honra encontrá-lo em Berlim", escreveu Schulz no Twitter sobre o encontro. "Boa sorte nos próximos meses!"

Encontro com deputadas e sindicalistas

No mesmo dia, Lula ainda se encontrou com as deputadas do SPD Yasmin Fahimi e Isabel Cademartori.

Cademartori, 33, é neta de José Cademartori, último e breve ministro da Economia do ex-presidente chileno Salvador Allende e que procurou refúgio na antiga Alemanha Oriental após o golpe militar de 1973. Ela é uma deputada estreante do SPD no Parlamento alemão (Bundestag), tendo sido eleita em setembro.

"É uma grande honra conhecer o ex-presidente do Brasil Lula. Conversamos sobre sua visão de uma política social e sustentável para o Brasil que proteja os recursos naturais. Depois dos resultados desastrosos do mini-Trump Bolsonaro, há muito a ser feito", escreveu Cademartori no Twitter.

Já Fahimi acumula anos de experiência no meio sindical e é deputada federal na Alemanha desde 2017. Ela também é membro do grupo parlamentar Brasil-Alemanha no Bundestag. Sobre o encontro, a deputada Fahimi afirmou ser "uma felicidade e uma honra" ver Lula "com saúde e sua vontade de lutar pela democracia no Brasil".

A deputada alemã liderou entre 2018 e 2019 uma campanha de solidariedade a Lula e criticou a prisão do petista repetidamente. "Agradeço a solidariedade que tiveram comigo e com o povo brasileiro nos últimos anos", disse Lula, após se encontrar com as duas deputadas.

À época da prisão, várias figuras do SPD alemão criticaram publicamente o que classificaram como perseguição ao petista. Esta nem havia sido a primeira manifestação de solidariedade a Lula por figuras do Partido Social-Democrata da Alemanha.

O social-democrata Helmut Schmidt, que foi chanceler da Alemanha entre 1974 e 1982, chegou a se reunir com Lula no Brasil em 1979, em plena ditadura militar, quando o brasileiro havia sido afastado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema após o regime intervir na organização. Trinta anos depois, Lula se reuniu em Hamburgo com Schmidt, que à época tinha mais de 90 anos, e agradeceu o ex-chanceler alemão pelo gesto de décadas antes.

O ex-presidente brasileiro ainda teve encontros em Berlim com figuras do sindicalismo alemão, incluindo Reiner Hoffmann, presidente da influente Confederação Alemã de Sindicatos (DGB); Michael Vassiliadis, presidente do Sindicato de Minas, Química e Energia (IG BCE); Frank Werneke, presidente do Sindicato Unido de Serviços (ver.di); e Christiane Bonner, copresidente do IG Metall, o maior sindicato de trabalhadores da indústria em toda a Europa e que mantém laços com a CUT e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Na segunda (15), em Bruxelas, Lula participará de uma reunião no plenário do Parlamento Europeu, a convite do bloco social-democrata da Casa. Na terça (16), ele seguirá para Paris, onde vai conceder uma palestra durante a conferência sobre o Brasil no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po). A conferência "Qual o lugar do Brasil no mundo de amanhã?" ocorre para marcar os dez anos do título de doutor honoris causa que Lula recebeu do instituto.

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