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Etiópia declara estado de emergência por 6 meses e pede que população pegue em armas

Forças da região do Tigré afirmam terem tomado territórios e consideram marchar na capital, Adis Abeba

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Adis Abeba | Reuters

A Etiópia declarou nesta terça (2) estado de emergência por seis meses, depois de as forças insurgentes da região do Tigré afirmarem que estão ganhando território e considerando marchar em Adis Abeba.

O anúncio ocorre dois dias após o premiê Abiy Ahmed pedir aos cidadãos que peguem em armas para se defenderem da TPLF (Frente de Libertação do Povo do Tigré). No início do dia, as autoridades na capital etíope disseram aos moradores para registrarem suas armas e se prepararem para defender seus bairros.

Tanque danificado após combate entre o Exército do governo da Etiópia e forças do Tigré
Tanque danificado após combate entre o Exército do governo da Etiópia e forças do Tigré - 1.jul.21/Reuters

O estado de emergência foi decretado depois de a TPLF considerar uma marcha até Adis Abeba, cerca de 380 km ao sul de suas posições avançadas, e reivindicar a captura, nos últimos dias, de Dessie, Burka e Kombolcha, cidades na região de Amhara. Um porta-voz do governo chegou a contestar a tomada dos locais, mas depois divulgou nota dizendo que "infiltrados" da TPLF mataram cem jovens em Kombolcha.

A última vez que a Etiópia havia recorrido a essa medida foi em fevereiro de 2018, seis meses antes da transição de poder para Abiy. À época, o governo impôs toque de recolher e restringiu o movimento da população, além de ter efetuado milhares de prisões.

"Os residentes podem se reunir em seus bairros", afirmou o governo, em uma comunicado, nesta terça. "Aqueles que têm armas, mas não podem atuar na proteção de suas áreas, são aconselhados a entregá-las ao governo ou a parentes próximos e amigos." O ministro da Justiça, Gedion Timothewos, disse que quem violar as regras do estado de emergência pode enfrentar de três a dez anos de prisão.

Antes do anúncio, os moradores de Adis Abeba circulavam pela cidade normalmente e tentavam comprar alimentos para estocar. As administrações de quatro das dez regiões do país também convocaram a população a se mobilizar na luta contra as forças do Tigré, de acordo com a estatal Fana TV.

O conflito começou em novembro de 2020, quando forças leais à TPLF tomaram bases militares no Tigré, no norte do país. Em resposta, Abiy, vencedor do Nobel da Paz em 2019, enviou tropas para a região.

A TPLF dominou a política nacional por quase três décadas, mas perdeu influência depois de o atual primeiro-ministro assumir o cargo, em 2018, após anos de protestos contrários ao governo da época.

As relações com a frente do Tigré, por sua vez, azedaram depois que Abiy foi acusado de centralizar o poder às custas das administrações regionais do país —acusação que o premiê nega.

​EUA em alarme

O conflito no país que já foi considerado pelos EUA um aliado estável numa região volátil deixou cerca de 400 mil pessoas em situação de fome, milhares de civis mortos e mais de 2,5 milhões de deslocados.

Jeffrey Feltman, enviado especial dos EUA para a Etiópia, disse nesta terça-feira que Washington estava alarmado com a deterioração da situação humanitária no norte do país e exortou todos os lados na disputa a encontrarem formas de diminuir a tensão e a permitirem a entrada de ajuda.

A autoridade americana disse ainda que a Casa Branca vê as restrições impostas pelo governo etíope como as responsáveis por impedir que a ajuda humanitária chegue à população, algo que o premiê nega.

Também nesta terça, a administração de Joe Biden acusou a Etiópia de "violações graves dos direitos humanos reconhecidos internacionalmente" e disse que planejava retirar o país do African Growth and Opportunity Act (AGOA), acordo que dá ao país acesso a produtos dos EUA livre de impostos.

Quando chegou ao poder, Abiy promulgou reformas importantes, mas grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que muitas dessas liberdades foram revertidas.

O premiê recebeu o Nobel por encerrar uma guerra que já durava 20 anos com a Eritreia, cujo presidente é arqui-inimigo da TPLF. Tropas do país mais tarde entraram no Tigré para apoiar as forças etíopes.

Os eritreus retiraram seus militares da maior parte da região em junho, após diversos relatos de graves violações de direitos humanos —eles negam responsabilidade por quaisquer abusos.

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