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Etiópia proíbe divulgação de informações 'não oficiais' sobre guerra no Tigré

Medida aumenta temor de restrições à liberdade de imprensa; premiê e ex-atleta olímpico se somaram ao combate

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Nairóbi | Reuters

O governo da Etiópia ampliou as restrições para o compartilhamento de informações sobre a guerra que ocorre no norte do país. Detalhes de manobras militares ou das frentes de combate só podem ser publicados caso sejam fornecidos pelos militares, de acordo com comunicado divulgado na noite desta quinta-feira (25).

Ainda está pouco claro como a regra impactará jornalistas e meios de comunicação locais que cobrem o conflito na região do Tigré e quais seriam as consequências para aqueles que publicarem informações fornecidas por fontes não governamentais.

Retrato do premiê etíope, Abiy Ahmed, em um edifício da capital Adis Abeba; o líder afirma que se somou aos soldados do país no Tigré - Tiksa Negeri - 7.nov.21/Reuters

Questionado pela agência de notícias Reuters sobre o assunto, o órgão regulador de mídia etíope não respondeu. A porta-voz do premiê Abiy Ahmed, Billene Seyoum, porém, disse que a mídia está inclusa na lista de entidades proibidas de disseminar informações sobre as atividades do front, mas não forneceu mais detalhes.

As dúvidas aumentam o temor de que a diretiva do governo asfixie a liberdade de imprensa no país, já enfraquecida. Ainda que o premiê Ahmed tenha revogado proibições de meios de comunicação quando assumiu o cargo, em 2018, organizações independentes sinalizam que o ambiente para a imprensa livre diminuiu desde o início da guerra.

Pelo menos 38 jornalistas e trabalhadores do setor de mídia foram detidos desde o início do ano passado, de acordo com uma contagem da agência Reuters. Questionado sobre as prisões, o órgão regulador da mídia disse que "a liberdade de expressão e a proteção da imprensa são valores sagrados que estão consagrados na Constituição etíope".

O conflito na região do Tigré entre as forças governistas e a TPLF (Frente de Libertação do Povo do Tigré) teve início há um ano e desencadeou uma onda de deslocados internos, além da deterioração das crises econômica e social. Ao longo do período, calcula-se que 2 milhões de pessoas deixaram suas casas.

O governo do país, também criticado pela comunidade internacional, decretou no início do mês estado de emergência nacional por seis meses. O premiê Ahmed pediu que a população pegasse em armas para defender o país frente ao avanço da TPLF, e dezenas de milhares saíram às ruas da capital Adis Abeba para apoiar o governo e criticar a interferência externa, especialmente dos Estados Unidos.

O governo também subiu o tom em relação à Casa Branca. Dois dias após a embaixada americana no país exortar seus cidadãos a manterem vigilância devido à "possibilidade contínua de ataques terroristas na Etiópia", o ministro de Estado etíope, Kebede Dessisa, disse que Washington deveria parar de "disseminar notícias falsas e vergonhosas".

Nesta quinta, dezenas de manifestantes se concentraram em frente ao prédio da representação diplomática americana com faixas que diziam "a interferência é antidemocrática" e "a verdade vence".

A tensão também aumenta no campo de batalha. Imagens divulgadas pela mídia estatal nesta semana mostram o premiê Ahmed usando um uniforme militar na linha de frente com o exército. Ele anunciou, na noite de segunda (22), que estava se dirigindo para o norte.

Outras figuras de destaque no país também prometeram se somar aos combatentes. O principal nome é o do medalhista de ouro olímpico e herói nacional Haile Gebrselassie, 48. O atleta aposentado fez o anúncio pouco após saber que Ahmed iria para a guerra.

Estudo das Nações Unidas divulgado nesta sexta (26) mostra que mais de 9 milhões de pessoas da região norte do país precisam atualmente de ajuda alimentar. A desnutrição também aumenta e afeta entre 16% e 28% das crianças, e cerca de 50% das mulheres grávidas e lactantes estão desnutridas no Tigré.

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