Os Estados Unidos irão remover, na próxima terça-feira (30), as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) de sua lista de organizações terroristas, conforme anunciou um alto funcionário do Departamento de Estado americano à agência de notícias Reuters, nesta sexta (26).
A informação já havia sido antecipada pela imprensa dois diantes antes, conforme relatos de fontes do Congresso. A medida virá cinco anos após a assinatura dos acordos de paz do grupo com o governo colombiano.
Segundo o anúncio desta sexta, a retirada das Farc da lista será acompanha da inclusão de dois subgrupos da ex-guerrilha colombiana, a La Segunda Marquetalia e a FARC-EP.
Espera-se que um anúncio oficial seja feito pelo governo Joe Biden nos próximos dias. "Começamos o processo de consultas ao Congresso de ações que tomaremos em relação às Farc", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em entrevista, na terça (23).
Na ocasião, ele acrescentou que "a administração Biden está comprometida com a implementação e a preservação do acordo de paz na Colômbia".
A mudança na designação poderia facilitar o envio de ajuda americana a projetos que envolvem os ex-rebeldes. As Farc são consideradas terroristas pelos EUA desde outubro de 1997, ainda na gestão de Bill Clinton.
O acordo de paz de 2016 encerrou décadas de um conflito armado que deslocou milhões de colombianos de suas casas e deixou mais de 260 mil pessoas mortas. O processo, que rendeu um Prêmio Nobel da Paz para o ex-presidente Juan Manuel Santos, teve o apoio do mandatário americano à época, Barack Obama —de quem Biden foi vice.
Hoje, as Farc são formalmente um partido político —que a princípio manteve o acrônimo, mas mudou seu significado para Força Alternativa Revolucionária do Comum, antes de se rebatizar como Comunes. Pelo acordo de paz, o grupo recebeu dez cadeiras no Congresso depois que o acordo foi assinado.
Segundo o jornal The Wall Street Journal, que antecipou a informação, o fato de ex-guerrilheiros estarem presentes em tantos aspectos da vida política e econômica da Colômbia teve peso determinante na decisão.
Seria impossível para o governo dos Estados Unidos manter certos acordos com a Colômbia tendo um grupo considerado terrorista no Parlamento, por exemplo, uma vez que americanos são proibidos de fazer negócios com organizações na lista negra do terrorismo.
Procurado pela Reuters, o governo colombiano não fez comentários. Os Colômbia e EUA são fortes aliados na América Latina, e recentemente Biden se encontrou com seu homólogo Iván Duque pela primeira vez após a COP26, em Glasgow —não se sabe se eles discutiram a situação das Farc. Além disso, recentemente o secretário de Estado, Antony Blinken, visitou Bogotá.
Cinco anos de acordo
O secretário-geral da ONU, António Guterres, visitou na terça (23) junto do presidente da Colômbia, Iván Duque, e de Rodrigo Londoño, ex-comandante das Farc, o município de Dadeiba, na Antióquia, uma das áres onde rebeldes ainda concluem seu processo de integração social e econômica, nas comemorações de cinco anos do acordo de paz.
"O objetivo da paz é evitar que haja inimigos em uma sociedade, mas infelizmente há inimigos da paz", afirmou Guterres, ao expressar solidariedade às vítimas e familiares de mortos pela violência contra ex-combatentes e lideranças sociais e indígenas, que continuam a ocorrer mesmo após o acordo.
Houve uma série de reveses depois que o acordo com as Farc entrou em vigor, como a decisão de alguns ex-líderes do grupo de retornar à guerrilha, argumentando que o pacto não foi respeitado. Do outro lado, mais de 300 ex-membros das Farc foram assassinados no país, segundo a entidade colombiana Indepaz.
"Ações de atores armados ilegais afundam as esperanças de comunidades, assim como também colocam em xeque as perspectivas de desenvolvimento sustentável", disse Guterres.
Em entrevista à agência AFP publicada na quarta (24), o ex-presidente Juan Manuel Santos, Nobel da Paz, afirmou que "a paz é irreversível" para a Colômbia e comemorou que o governo conservador de Iván Duque quer se manter no pacto e "entrou no trem da paz", em suas palavras.
"Gostaria de celebrar esses cinco anos porque 95% ou mais dos ex-guerrilheiros estão dentro do acordo e porque a justiça especial para a paz funcionou", disse. "A desmobilização, o desarmamento e a reintegração foram realizados em tempo recorde, e isso deve ser comemorado. Muitos, muitos [outros] acordos foram desfeitos, falharam nos primeiros três, quatro, cinco anos", continuou, antes de dizer que ainda há espaço para melhorar.
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