Ilhas Canárias confinam 3.000 pessoas após novo fluxo de lava de vulcão atingir o mar

Autoridades recomendam a moradores que usem máscaras para evitar contato com gases nocivos

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São Paulo

As autoridades de La Palma, nas ilhas Canárias, determinaram o confinamento de cerca de 3.000 pessoas nesta segunda-feira (22) devido à chegada de um novo fluxo de lava do vulcão Cumbre Vieja ao mar, processo que pode liberar gases nocivos à saúde.

Segundo divulgou o serviço de emergência 112 no Twitter, o confinamento determinado pelo Plano de Emergência Vulcânica das Ilhas Canárias (Pevolca) impacta a população de San Borondón, Tezacorte e do trecho entre El Cardón e Camino Los Palomares, no norte.

A chegada ao mar desse novo fluxo de lava, o terceiro desde que o Cumbre Vieja entrou em erupção há 64 dias, leva ainda à formação de um novo delta. Desta vez, o fenômeno se dará na área chamada de El Perdido, de acordo com o jornal espanhol El País, situada a pouco menos de 2 quilômetros ao norte do anexo que surgiu em 28 de setembro.

Foto divulgada pelo serviço de emergência militar mostra bombeiro observando emissão de gases pelo contato de fluxo de lava do Cumbre Vieja com a água do mar em La Palma, nas ilhas Canárias - Luismi Ortiz - 22.nov.21/UME/AFP

Apesar de os fluxos de lava afetarem apenas o oeste da ilha, as cinzas vulcânicas voltaram a obrigar nesta segunda a suspensão das operações do aeroporto de Santa Cruz de la Palma, capital da ilha, que se encontra na região leste. A companhia aérea regional Binter, a principal a operar ligações com as ilhas vizinhas, anunciou o cancelamento de todos os voos de e para La Palma.

Além disso, o diretor técnico do Pevolca, Miguel Ángel Morcuende, recomendou que os habitantes da capital se protejam com máscaras PFF2 do dióxido de enxofre e de outras partículas nocivas suspensas no ar pela erupção. É a primeira vez que esse tipo de recomendação é feita. As pessoas que sofrem de problemas respiratórios ou cardíacos devem ficar em casa e limitar absolutamente suas saídas, aconselhou.

O Cumbre Vieja já entrou em seu terceiro mês de erupção sem fim à vista, afetando quase 1.500 edifícios até o momento —dos quais quase 1.100 são residências. De acordo com os últimos dados do sistema europeu de medição geoespacial Copernicus, a lava já cobriu 1.065 hectares das ilhas.

Além do impacto nos imóveis, as formações de deltas modificam a geografia da ilha, criando um limbo jurídico quanto aos terrenos costeiros. A lei espanhola determina que a primeira faixa de uma costa integra o domínio público marítimo-terrestre, ou seja, pertence ao Estado.

Segundo a norma estabelecida na Constituição e na Lei Costeira, a linha inclui "a zona ou espaço marítimo-terrestre compreendido entre a linha de baixa-mar [...] e o limite que as ondas atingem nas maiores tempestades conhecidas". Ou seja, com um delta que avança sobre o mar, essa faixa é modificada, e o que antes estava sob domínio público marítimo-terrestre pode agora se tornar propriedade privada. Isso depende, no entanto, da abertura de um processo para que se declare que um bem estatal não possui mais utilidade pública.

Já a nova formação fica inteiramente a cargo do Estado, pois, segundo a mesma Lei Costeira, "ascensões na orla marítima por depósito de materiais ou por retirada do mar, quaisquer que sejam as causas" também estão dentro da zona de domínio público marítimo-terrestre.

Além disso, a Lei do Patrimônio Natural e da Biodiversidade determina que recursos naturais geológicos devem ser protegidos pelo governo espanhol.

E há ainda o impacto na biodiversidade da ilha. Segundo explicou Manuel Nogales, biólogo do Conselho Superior de Investigações Científicas no Instituto de Produtos Naturais e Agrobiologia, ouvido pela Folha em outubro, estima-se que apenas 30% das plantas sobrevivam a quadros como esse provocado pelas erupções, e animais como répteis são fortemente atingidos —morrendo devido ao calor ou por asfixia.

Na parte marítima, apesar das alterações causadas pela lava quente que lá desemboca, a expectativa é a de uma recuperação rápida. Nogales lembrou que, há cerca de dez anos, uma erupção submarina destruiu a biodiversidade local, mas que esta se recuperou em dois anos e meio —até um ponto em que pode ser considerada melhor do que antes.

Com AFP

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