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Jornalista chinesa presa por cobertura da Covid está perto da morte, dizem familiares

Zhang Zhan foi condenada a quatro anos de prisão por mostrar situação dos hospitais de Wuhan e fez greve de fome

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Pequim | AFP

Familiares da jornalista Zhang Zhan, 38, condenada a quatro anos de prisão na China em razão da cobertura que fez da pandemia de Covid-19 em Wuhan, escreveram mensagens em redes sociais afirmando que ela está com a saúde deteriorada e perto da morte.

O irmão de Zhang, em um post no Twitter, afirmou que a jornalista está muito magra e "pode não sobreviver ao inverno", que tem início no país em dezembro. "No coração dela, parece que existem apenas Deus e suas crenças, sem importar mais nada", diz a mensagem.

A jornalista e ex-advogada Zhang Zhan, presa em dezembro de 2020 na China por cobrir a pandemia de coronavírus
A jornalista e ex-advogada Zhang Zhan, presa em dezembro de 2020 na China por cobrir a pandemia de coronavírus - 28.dez.20/Reprodução YouTube via AFP

Zhang foi detida em maio de 2020, ainda nos meses iniciais da crise sanitária, acusada de "provocar distúrbios", uma terminologia utilizada com frequência contra os opositores do regime liderado por Xi Jinping.

Em fevereiro daquele ano, ela havia viajado para Wuhan, então epicentro da epidemia, e divulgado reportagens nas redes sociais, muitas das quais focando a situação nos hospitais locais.

Pouco depois da detenção, a jornalista iniciou uma greve de fome e passou a ser alimentada à força durante meses por sondas nasogástricas. Há pouco mais de um mês, 43 ONGs dedicadas à defesa da liberdade de imprensa, incluindo a Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês), divulgaram carta aberta a Xi pedindo a liberação de Zhang, explicando que ela sofreu perda significativa de peso, desenvolveu úlcera estomacal e esofagite.

Diversas organizações de direitos humanos voltaram a se manifestar nesta quinta-feira (4). A Human Rights Watch (HRW) disse que o episódio é mais um em que o regime chinês "permite que um crítico pacífico adoeça gravemente enquanto está injustamente preso".

Segundo a ONG, a mãe de Zhang conversou com a filha por vídeo em outubro e disse que ela não conseguia levantar a cabeça por falta de força. A jornalista tem 1,77 metro de altura e agora pesa menos de 40 quilos. "Os governos devem pedir a libertação urgente de Zhang Zhan para evitar que uma situação já terrível se torne trágica", disse Yaqiu Wang, pesquisador da organização para a China.

A HRW acrescentou que as condições nos centros de detenção chineses são ruins, geralmente com oferta de nutrição mínima e cuidados de saúde rudimentares, o que viola os direitos humanos. "Sentenças injustas proferidas contra ativistas na China frequentemente acabam sendo sentenças de morte."

A Repórteres Sem Fronteiras também pediu à comunidade internacional que pressione o regime chinês e garanta a libertação de Zhang "antes que seja tarde demais". "Ela estava apenas cumprindo seu dever de repórter e nunca deveria ter sido detida", disse o representante da ONG no Leste Asiático, Cédric Alviani.

A direção do sistema penitenciário chinês não aceitou dar declarações à agência de notícias AFP. Um dos advogados da jornalista afirmou que a família pediu autorização para visitá-la na prisão em Xangai, mas não recebeu resposta, tampouco informações sobre seu estado de saúde atual.

Zhang já enfrentou a repressão do regime chinês outras vezes. Em 2019, foi detida pela polícia em Xangai por mais de dois meses após expressar apoio aos manifestantes pró-democracia em Hong Kong.

Anteriormente, sua licença de advogada foi cassada depois que ela participou de atividades de direitos humanos e da assinatura de petições públicas. Segundo a HRW, a mãe da jornalista foi alertada por autoridades para não falar com a imprensa.

Além de Zhang, primeira pessoa que se sabe ter sido julgada pela cobertura relativa à crise do coronavírus na China, ao menos outros três jornalistas independentes –Chen Qiushi, Fang Bin e Li Zehua– estão presos por divulgar informações sobre a situação sanitária em Wuhan.

Desde o início da pandemia, Pequim adotou a estratégia de tolerância zero contra a Covid, posta em xeque com a chegada da variante delta, mais contagiosa. O país registrou cerca de 98 mil casos da doença e mais de 4.600 mortes e tem pouco mais de 74% da população totalmente vacinada, segundo dados da plataforma Our World in Data, ligada à Universidade Oxford.

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