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Militares e líderes civis no Sudão chegam a acordo para recolocar premiê no poder

Liberado de prisão domiciliar, Hamdok vai liderar governo por um período de transição

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Cartum (Sudão) | Reuters

Militares do Sudão anunciaram que vão restituir o primeiro-ministro Abdalla Hamdok no poder e libertar todos os presos políticos após semanas de protestos no país. Sob um acordo assinado com o general Abdel Fattah al-Burhan, Hamdok vai liderar um governo civil de tecnocratas por um período de transição.

O premiê havia sido posto em prisão domiciliar depois de os militares tomarem o poder por meio de um golpe, em 25 de outubro, atrapalhando uma transição democrática acordada após a derrubada de Omar al-Bashir em 2019, movimento que encerrou três décadas de governo autocrático.

O primeiro-ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, deposto no golpe militar de 25 de outubro
O primeiro-ministro do Sudão, Abdalla Hamdok, deposto no golpe militar de 25 de outubro - Hannibal Hanschke - 14.fev.20/Reuters

O acordo enfrenta oposição de grupos pró-democracia que exigem um governo totalmente civil desde que Bashir foi deposto. Além disso, há um forte sentimento de indignação em razão da morte de dezenas de manifestantes nas últimas semanas. Assim, de herói dos protestos, Hamdok rapidamente se tornou um vilão para uma parte do movimento.

Dezenas de milhares de pessoas participaram de atos na capital Cartum e em suas cidades gêmeas, Omdurman e Bahri. As forças de segurança dispararam balas e bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-las, disseram testemunhas à agência Reuters. Um manifestante de 16 anos em Omdurman morreu com um ferimento provocado por arma de fogo, informou o Comitê Central de Médicos Sudaneses.

"Hamdok nos decepcionou. Nossa única opção é a rua", disse Omar Ibrahim, um manifestante de 26 anos em Cartum.

Hamdok afirmou ter concordado com o trato para evitar mais mortes no país. "O sangue sudanês é precioso. Vamos parar o derramamento de sangue e direcionar a energia da juventude para a construção e o desenvolvimento", disse ele. Agora, depois do pacto, os militares do Sudão tiraram as forças de segurança que ficavam do lado de fora de sua casa, segundo o gabinete do premiê à Reuters.

Com o golpe, militares dissolveram o governo de Hamdok e detiveram vários civis que ocupavam cargos importantes na divisão de poder acordada com as Forças Armadas depois que Bashir foi deposto.

Protesto em Cartum, capital do Sudão, contra o golpe militar no país
Protesto em Cartum, capital do Sudão, contra o golpe militar no país - AFP

A atitude dos militares desencadeou protestos em massa, e organizações médicas que apoiam os atos dizem que as forças de segurança já mataram ao menos 41 civis em repressões cada vez mais violentas.

De acordo com uma fonte próxima a Hamdok, a declaração constitucional feita entre militares e civis em 2019, depois que Bashir foi deposto, continuará sendo a base para novas negociações.​

Burhan disse que o acordo será inclusivo. "Não queremos excluir ninguém, exceto, como combinamos, o Partido do Congresso Nacional", disse ele, referindo-se ao antigo partido no poder de Bashir.

No entanto, o trato não fez menção ao FFC (Forças de Liberdade e Mudança), a coalizão civil que dividia o poder com os militares antes do golpe. Várias pessoas presentes na cerimônia de assinatura tinham laços políticos com Bashir.

O FFC disse não reconhecer nenhum acordo com os militares. O Partido do Congresso sudanês, um dos principais membros do FFC, com vários líderes detidos, afirmou que a adesão de Hamdok ao acordo é algo "ilegítimo e inconstitucional" e dá cobertura política para o golpe.

Vários dos comitês de resistência que vêm organizando protestos também emitiram declarações rejeitando qualquer negociação com os militares.

A ONU saudou o acordo, mas disse que todos os lados precisam "tratar urgentemente de questões não resolvidas para completar a transição política de uma maneira inclusiva, com respeito aos direitos humanos e ao Estado de Direito".

"Também esperamos que todos os presos desde 25 de outubro sejam libertados imediatamente como primeiro gesto", afirmou a missão da ONU no Sudão.

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