Papa Francisco agradece a jornalistas por ajudarem a expor abusos na Igreja

Investigação recente revelou que clérigos na França abusaram de mais de 200 mil crianças ao longo de 70 anos

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Cidade do Vaticano | Reuters

O papa Francisco agradeceu neste sábado (13) aos jornalistas por terem ajudado a revelar abusos sexuais cometidos dentro da Igreja Católica —que antes tentava encobrir os crimes.

O pontífice elogiou o que chamou de missão do jornalismo e disse ser vital para repórteres saírem de suas redações e descobrirem o que acontece mundo afora para combater desinformações frequentemente encontradas no meio online.

Papa Francisco participa de cerimônia que homenageou jornalistas por sua cobertura do Vaticano
Papa Francisco participa de cerimônia que homenageou jornalistas por sua cobertura do Vaticano - Simone Risoluti/Imprensa do Vaticano/Reuters

"Agradeço a vocês pelo que nos disseram estar errado na Igreja, por nos ajudar a não varrer para debaixo do tapete e pela voz que deram a vítimas de abuso", afirmou Francisco durante cerimônia que homenageou dois correspondentes —Philip Pullella, da Reuters, e Valentina Alazraki, da mexicana Noticieros Televisa— por suas longas carreiras cobrindo o Vaticano.

Sobre a missão dos repórteres, o pontífice acrescentou que faz parte dela "explicar o mundo, para que seja menos obscuro, para fazer com que aqueles que o habitam tenham menos medo dele". Para isso, o papa afirmou que jornalistas precisam "fugir da tirania" de estar sempre online. "Nem tudo pode ser dito por um email, pelo telefone ou por meio de uma tela."

Os escândalos chegaram às manchetes dos jornais em 2002, quando o americano The Boston Globe publicou uma série de reportagens expondo um padrão de abusos de menores de idade por clérigos da Igreja Católica e uma difundida cultura de encobrimento por parte da instituição. O caso foi retratado no filme Spotlight, que levou o Oscar de Melhor Filme em 2016.

Desde então, episódios têm abalado a Igreja em diversos países. Mais recentemente, uma grande investigação na França, divulgada em outubro, revelou que clérigos do país abusaram de mais de 200 mil crianças ao longo dos últimos 70 anos.

A apuração também descobriu que, em um universo de 115 mil padres e oficiais religiosos, a Igreja abrigou entre 2.900 e 3.200 pedófilos —uma "estimativa mínima". A maioria das vítimas era formada por meninos com idade entre 10 e 13 anos.

Após a divulgação da investigação, encomendada pela Conferência Episcopal da França e pela Conferência de Religiosas e Religiosos de Institutos e Congregações, a Igreja francesa anunciou que irá vender bens de dioceses ou recorrer a empréstimos para indenizar as vítimas de pedofilia.

Em junho, Francisco disse que o escândalo dos abusos sexuais na Igreja Católica era uma "catástrofe" mundial. À época, o Vaticano divulgou a revisão mais abrangente das leis da instituição nos últimos 40 anos, endurecendo as regras contra violência sexual.

Desde que foi eleito, em 2013, o papa tomou uma série de medidas para erradicar o abuso sexual de menores cometido por clérigos. Em 2019, emitiu um decreto que tornou obrigatório que bispos e padres informem suspeitas de abusos sexuais e permitiu a qualquer pessoa enviar denúncias diretamente ao Vaticano. Caso os bispos não informem os casos de abuso, podem ser considerados corresponsáveis pelo crime que ocultaram.

Mas os críticos acusam o pontífice de responder muito lentamente aos escândalos de abuso sexual, de não ter empatia com as vítimas e de acreditar cegamente na palavra de seus colegas clérigos.

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