Putin envia bombardeiros para apoiar Belarus na crise contra a Polônia

Varsóvia prende ao menos 50 refugiados que diz terem sido enviados pela fronteira por Minsk

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São Paulo

Respondendo a um apelo da Belarus, que vive uma grave crise fronteiriça com a Polônia, a Rússia de Vladimir Putin enviou dois bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear para patrulhar o espaço aéreo do aliado nesta quarta (10).

Os dois Tu-22M3 fizeram uma ronda para "checar as capacidades de defesa do Estado da União", disse o comunicado do Ministério da Defesa em Moscou, usando o nome da aliança política entre Rússia e a Belarus, planejada em 1999 mas que nunca foi concretizada.

Enquanto isso, forças de segurança polonesas prenderam pelo menos 50 refugiados vindos da Belarus na noite de terça (9) e na madrugada de quarta, aumentando a tensão com a ditadura de Aleksandr Lukachenko.

Imigrantes em campo de refugiados na fronteira entre Belarus e Polônia
Imigrantes em campo de refugiados na fronteira entre Belarus e Polônia - Leonid Shcheglov/Belta/AFP

O governo em Minsk voltou a acusar o Ocidente de fabricar a crise, negando ter orquestrado com a Rússia o influxo de imigrantes de países afetados por guerras no Oriente Médio e no sul da Ásia. Ao mesmo tempo, um enviado belarusso a Moscou pediu ajuda do governo de Vladimir Putin para ofertar uma "resposta conjunta" à crise, evidenciando o caráter geopolítico da disputa —que ficou ainda mais claro com a flexão de musculatura militar.

Os Tu-22M3 são versões modernizadas de um antigo modelo soviético, em plena atividade ainda, e patrulhas do gênero são raríssimas. Eles são empregados para ataques de precisão, com mísseis de cruzeiro, hipersônicos e até armas nucleares.

A crise vem se formando desde meados do ano, quando talvez 15 mil refugiados foram atraídos à Belarus com a perspectiva de entrar em países da União Europeia fronteiriços, como Polônia e Lituânia. Desde a última segunda-feira (8), forças belarussas estão, segundo relatos, pressionando a saída dos imigrantes.

O bloco afirma que eles estão sendo usados como peões por Lukachenko para pressionar os vizinhos, em retaliação às sanções aplicadas ao regime do ditador devido à repressão que seguiu sua reeleição fraudada, em agosto de 2020.

O premiê polonês, Mateusz Morawiecki, por sua vez escancarou o substrato geopolítico da questão ao acusar Putin diretamente pelo caos. Varsóvia é um dos países da UE e da Otan (aliança militar ocidental) mais agressivos ante o que chamam de neoimperalismo russo.

Nesta quarta, Morawiecki afirmou que o que está em curso é um ato de "terrorismo de Estado".

Minsk e o Kremlin negam as alegações, e o Ministério das Relações Exteriores russo rebate com um argumento retórico, lembrando que os refugiados só o são porque fogem de guerras que foram fomentadas, como no caso afegão e iraquiano, pelos Estados Unidos e seus aliados.

Na prática, o chanceler russo, Serguei Lavrov, recebeu nesta quarta seu colega belarusso, Vladimir Makei, que pediu a "reação conjunta contra atos inamistosos". O russo concordou e atacou os EUA e a Europa, a quem acuso responsabilidade pela crise.

A realidade é que qualquer solução passa por Putin, como ressaltou também nesta quarta a líder alemã Angela Merkel, de saída do cargo. Ela pediu que o russo intervenha para evitar uma tragédia humanitária.

Por ora, ela está sendo cozinhada. As temperaturas na fronteira em questão caem abaixo de zero à noite e há talvez 4.000 pessoas imediatamente presas numa faixa organizada por forças belarussas, que negam pressionar a saída dos refugiados.

Na prática, foi o que ocorreu na noite passada. Segundo relatos de ONGs ligadas a direitos imigratórios, não há certeza acerca do paradeiro dos detidos e houve espancamento de pelo menos quatro refugiados curdos pelos poloneses.

A alta comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que a situação na região é "intolerável" e também pediu uma solução conjunta rápida.

A situação, diz o Ministério da Defesa polonês, é tensa. Há de 15 mil a 20 mil policiais e soldados do país na região, e a Belarus também moveu tropas de seu lado. O temor é de que haja um confronto militar que escale entre o país da Otan e o principal aliado de Putin.

Nesse sentido, o envio dos bombardeiros serviu como um alerta simbólico por parte do Kremlin acerca de suas intenções.

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