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Que mensagens a China dá sobre a terceira era Xi Jinping

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Igor Patrick
Xangai (China)

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Nada foi mais importante aqui na China nesta semana do que a 6ª Sessão Plenária do 19º Comitê Central do Partido Comunista.

Se o nome do evento é longo, a importância dele é ainda maior: a reunião alinhou ideologicamente o PC Chinês em torno da figura de Xi Jinping, consolidando-o como um dos líderes mais poderosos da história nacional desde Mao Tsé-tung.

Retrato de Xi Jinping exposto no Museu do Partido Comunista Chinês, em Pequim - Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Historicamente, as plenárias são convocadas ao menos uma vez por ano desde 1977, um ano após a morte de Mao. A reunião lança as bases para mudanças legislativas e promove debates entre os 370 membros titulares e suplentes do Comitê Central, o coração da hierarquia comunista chinesa. Participam também vários ministros, generais, executivos de empresas estatais e líderes provinciais.

  • O evento é considerado um dos mais secretos da agenda política. É comum que o líder chinês faça um discurso confidencial aos participantes. Chineses recebem apenas pistas do que foi tratado em pequeno boletim publicado ao fim do evento.

A plenária formulou uma resolução histórica, colocando o "pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era" na centralidade da política nacional.

A reunião de 2021 aconteceu a um ano da renovação na estrutura da liderança nacional, quando Xi deve conquistar um terceiro mandato de cinco anos e romper com a transição de poder iniciada com Deng Xiaoping e Jiang Zemin em 1989.

Por que importa:

  • Usualmente, cada plenária do Comitê Central dura um dia. Em 2021, ela teve quatro. É apenas um indicativo da importância histórica do evento, que prepara as bases para a ascensão de Xi não só a mais um mandato, mas também à posição de figura essencial na história chinesa.

  • A edição deste ano foi um dos últimos e mais importantes passos rumo à eleição em novembro do ano que vem, que define a liderança do país e também os principais burocratas ao lado dele no poderoso Comitê Permanente do Politburo.

o que também importa

Um caso de assédio sexual explodiu nas redes sociais chinesas nos últimos dias. Uma estudante da Universidade de Nanjing (NJU) ---uma das melhores do país--- foi até o Weibo, espécie de Twitter chinês, denunciar um colega que invadia os banheiros femininos para fotografar as alunas. O abusador, identificado como Liu, vinha espiando mulheres desde outubro de 2020, mas a denúncia só foi revelada quando uma mensagem de uma das vítimas à direção da universidade viralizou.

"Olá, você pode, por favor, me dizer quando vai responsabilizar esse canalha? Como aluna da NJU, não quero viver uma vida em que precise me preocupar em ser fotografada ao usar o banheiro", escreveu ela. A postura da universidade desagradou internautas.

A instituição emitiu uma advertência e colocou o estudante em uma lista de observação por um ano, incentivando posteriormente as vítimas a "esquecerem a experiência desagradável". Líderes universitários foram proibidos de se manifestar, mas muitos não se intimidaram: nos banheiros e nos corredores, vários cartazes foram espalhados com palavras de ordem como "quem vocês estão protegendo?" e "não vamos parar".

Já imaginou prestar o Enem 13 vezes para conseguir entrar na USP? Guardada as devidas proporções, o chinês Tang Shangjun ficou conhecido nacionalmente nesta semana por algo assim, depois que um portal de notícias local contou a saga dele para ser aprovado na Universidade Tsinghua, a melhor da China (e onde se formou o atual líder chinês, Xi Jinping).

Natural da região autônoma de Guangxi Zhuang e nascido em uma família pobre, Tang tentou o Gaokao, o exame de seleção universitária chinês, pela 13ª vez neste ano e ainda não conseguiu ser aprovado. A Tsinghua é conhecida por selecionar apenas os donos das melhores notas em cada província.

O jovem fez a prova pela primeira vez em 2009. Escondeu os planos dos pais e refez o teste sete vezes até ser descoberto em 2016. A família não o reprimiu, e ele voltou ao ensino médio por dois anos para tentar novamente. Mesmo assim, não deu certo.

Atualmente, Tang faz entregas de comida e dá aulas particulares para estudantes mais novos. Embora viesse melhorando as notas nos últimos anos, os resultados de 2021 foram abaixo da média, e ele projeta que a prova no ano que vem será a sua última.

Na internet, a história do jovem de Guangxi foi vista mais de 190 milhões de vezes e motivou um debate nacional sobre o elitismo das universidades bem colocadas em rankings.

Um homem conhecido como "Capitão América" foi condenado a 5 anos e 9 meses de prisão após ser considerado culpado por violar a lei de segurança nacional de Hong Kong. Ex-entregador de comida, Adam Ma Chun-man foi preso após desfilar pelas ruas da região administrativa especial chinesa gritando palavras de ordem como "Libertem Hong Kong" e "a independência de Hong Kong é a nossa única saída".

O juiz responsável pelo caso, Stanley Chan Kwong-chi, disse que a pena se justifica, dado que Adam "incitou repetidamente o separatismo" e "não conseguiu demonstrar o mínimo remorso" pelos atos.

"O réu não cometeu o crime por impulso momentâneo. Ele sempre vinha preparado e defendia sua postura em voz alta. Ele até se intitulava Capitão América. A gratificação de fazer tudo isso estava estampada em seu rosto", disse o juiz.

Em uma carta enviada ao tribunal, Adam diz que foi abandonado pelos colegas manifestantes, mas não recuou. "Não sinto vergonha nem o menor remorso pelo que fiz no passado. Também prometo que não demonstrarei a menor fragilidade na luta pela democracia e pela justiça", escreveu o ativista.


fique de olho

O governo chinês emitiu regras mais claras para empresas que queiram atuar no mercado de aulas particulares, alvo de grande repressão desde meados deste ano. De acordo com o Wall Street Journal, quem quiser continuar no ramo vai ter de conseguir uma licença e criar uma organização sem fins lucrativos para reiniciar as aulas. Ainda segundo o jornal americano, o governo planeja emitir em torno de 12 licenças nos próximos meses.

Por que importa: neste ano, Pequim proibiu os "cursinhos" para as disciplinas de ensino fundamental e médio. A medida foi pensada para reduzir custos de pais na criação de filhos. A seleção para as melhores universidades, porém, segue tão competitiva quanto sempre foi. Com as brechas abertas, o governo parece reconhecer a incapacidade para acabar com o serviço definitivamente.


​para ir a fundo

  • Quer renovar o acervo de sinologia na sua estante com bons descontos? A plataforma Shumian fez um compilado dos melhores títulos disponíveis na 23ª Festa do Livro da USP, que acontece de forma virtual até o próximo dia 15. São títulos que vão de volumes mais técnicos sobre política e economia até clássicos da literatura chinesa. (gratuito, em português)
  • Para quem perdeu os debates e palestras do 4º Encontro Nacional da RBChina (Rede Brasileira de Estudos da China), o comitê organizador da UFF e da UFRJ disponibilizou a maioria das sessões gratuitamente no YouTube neste link. (gratuito, em português e em inglês)
  • Divulgado o primeiro (e espetacular) trailer da primeira adaptação para "O Problema dos Três Corpos", um dos maiores best-sellers da ficção científica da China. A série é aguardada ansiosamente pelos fãs dos livros e deve estrear antes da mega produção internacional produzida pela Netflix em parceria com os criadores de "Game of Thrones". (gratuito, em chinês com legendas em inglês)
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