Descrição de chapéu Governo Biden

Steve Bannon se entrega e é detido pelo FBI por obstruir investigação de ataque ao Capitólio

Ex-conselheiro de Trump, que depois foi liberado, descumpriu intimação para depor a comitê do Congresso que investiga a invasão

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BAURU (SP)

Steve Bannon, aliado e ex-conselheiro de Donald Trump, entregou-se ao FBI, a polícia federal americana, nesta segunda-feira (15). Ele foi indiciado por desacato ao não cumprir intimações do Congresso para depor sobre a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, e ficou detido até ser liberado horas depois.

Bannon é um dos nomes mais importantes da ultradireita global na atualidade e estende sua influência também sobre o Brasil por meio de figuras como Olavo de Carvalho e Eduardo Bolsonaro, a quem escolheu como seu representante ao criar um movimento que reúne líderes do populismo de direita pelo mundo.

Cercado de guarda-costas, ele também fez de sua apresentação ao FBI um ato de propaganda de seus ideais. Sorridente, olhou diretamente para a câmera que transmitia tudo ao vivo na Gettr, rede social criada por e para apoiadores de Trump, e disse aos seus seguidores que mantivessem o foco.

"Estamos derrubando o regime de Biden", disse Bannon, usando o termo frequentemente associado a ditaduras. "Quero que vocês fiquem focados, isso é tudo barulho."

Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump, chega à sede do FBI em Washington; no cartaz de um manifestante, lê-se 'articulador do golpe' - Brendan Smialowski - 15.nov.21/AFP

Horas depois, ele se apresentou à juiza Robin Meriweather. A magistrada confiscou o passaporte de Bannon como uma exigência antes de colocá-lo novamente em liberdade e determinou que ele se apresente novamente à Justiça na próxima quinta-feira (18).

Durante a audiência, ele conversou frequentemente com seus dois advogados, sorrindo no tribunal. Instado por um agente da corte, levantou a mão e jurou respeitar as condições de sua libertação.

Falando aos jornalistas, Bannon manteve o tom desafiador, com mais críticas a Biden e a autoridades de seu governo, como o secretário de Justiça, Merrick Garland, e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi.

"Vamos para o ataque. Estamos cansados ​​de jogar na defesa", disse. "Eu nunca vou recuar. Eles estão mexendo com o cara errado." Sua defesa alega que a acusação é ultrajante e fraudulenta desde o início.

Principal estrategista da campanha vitoriosa de Trump em 2016, Bannon tornou-se a primeira pessoa a ser indiciada criminalmente no âmbito da investigação conduzida pela Câmara dos Representantes dos EUA sobre a invasão ao Capitólio. Duas semanas antes da posse de Joe Biden, a insurreição entrou para a história americana como um dos maiores atentados contra a democracia do país.

A abertura do processo por desacato foi aprovada pelos deputados em outubro, decorrente de duas irregularidades na conduta de Bannon: ele se recusou a prestar depoimento ao comitê e a fornecer documentos solicitados pela investigação. As acusações podem acarretar pena de prisão que varia de 30 dias a um ano, bem como uma multa de US$ 100 (R$ 546) a US$ 1.000 (R$ 5.460).

Para os investigadores, comentários de Bannon antes do ataque à sede do Legislativo americano são indícios de que ele sabia previamente da tentativa de insurreição. O ex-banqueiro e veterano da Marinha havia mencionado "eventos extremos" que ocorreriam em 6 de janeiro e, na véspera, disse em seu podcast que "o inferno" começaria no dia seguinte.

Horas antes de a multidão invadir o Capitólio, Trump fez um discurso em Washington que, na visão dos articuladores de seu segundo processo de impeachment, insuflou os milhares de apoiadores a agirem com violência. Cinco pessoas morreram no episódio, mas o ex-presidente não demonstrou nenhum arrependimento por ter incitado seus seguidores a "lutarem para valer" horas antes da cerimônia de certificação da vitória de Biden —Trump afirma que seu discurso foi "totalmente apropriado".

Além de Bannon, há mais de 30 pessoas próximas a Trump convocadas pela Câmara para testemunhar. O ex-presidente tenta bloquear na Justiça as ações do comitê e instruiu seus aliados a fazerem o mesmo.

​Bannon recorreu ao mesmo argumento usado por Trump para tentar justificar sua insistência em não atender às intimações do Congresso. O republicano alega que esta seria uma situação em que ele pode usar o mecanismo conhecido como "privilégio executivo", que permite a um presidente impedir a divulgação de informações ao Legislativo, ao Judiciário ou mesmo à população.

No caso de Trump, o pedido foi barrado por Biden e continua tramitando nas instâncias da Justiça americana. Quanto a Bannon, o caso foi parar no escritório do secretário de Justiça dos EUA, Merrick Garland. Nomeado ao cargo por Biden, Garland disse que o indiciamento de Bannon reflete um "compromisso inabalável" com o Estado de Direito, com a lei e com a Justiça.

A expectativa dos investigadores da Câmara é de que as acusações criminais motivem outras testemunhas a prestarem depoimentos, como Mark Meadows, ex-chefe de gabinete do republicano. Na última sexta-feira (12), ele também se negou a depor na investigação.

O ex-presidente Trump saiu em defesa de seu ex-estrategista em um comunicado divulgado neste domingo (14). "Este país talvez nunca tenha feito a ninguém o que fez a Steve Bannon e está procurando fazer a outros também".

Em agosto de 2020, Bannon foi preso por desviar US$ 1 milhão de uma campanha virtual de doações relacionada à construção de um muro na fronteira entre EUA e México, uma das principais promessas eleitorais de Trump. Ele foi solto no mesmo dia depois de ter pago fiança de US$ 5 milhões.

A poucas horas do fim de seu mandato em 20 de janeiro, Trump concedeu perdão presidencial a Bannon, de modo que, em âmbito federal, ele foi blindado das acusações pelo mecanismo do Poder Executivo.

O indulto foi considerado, à época, um selo da reaproximação entre o presidente e seu estrategista. Eles estavam afastados desde que Bannon foi demitido da Casa Branca por desentendimentos com o republicano. O motor para a retomada da relação foi o apoio de Bannon às falsas alegações de que a vitória de Biden sobre Trump se deu por meio de uma fraude generalizada no sistema eleitoral dos EUA.

Com Reuters

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