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Primeira-ministra da Suécia renuncia poucas horas após ser eleita 1ª mulher no cargo

Disputa sobre Orçamento derrubou coalizão frágil de Magdalena Andersson após Verdes retirarem apoio

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Estocolmo | Reuters e AFP

Cerca de oito horas após ter sido eleita primeira-ministra da Suécia pelo Parlamento do país, a social-democrata Magdalena Andersson renunciou ao cargo nesta quarta-feira (24), em meio a uma disputa sobre o Orçamento. Ela seria a primeira mulher a ocupar o posto de chefe de governo da nação escandinava.

Andersson era ministra das Finanças do governo do premiê Stefan Löfven, que renunciou depois de sete anos no cargo. Após dias de negociação, a social-democrata recebeu 117 votos a favor de que ela assumisse o posto e 174 contra, além de 57 abstenções —na Suécia, um candidato ao cargo de chefe de governo não precisa do apoio da maioria no Parlamento, só que a maioria (175 ou mais) não se oponha a seu nome.

Magdalena Andersson, ex-primeira-ministra da Suécia - Ninni Andersson/Regeringskansliet/via Xinhua

Na noite de terça (23), no limite do prazo, a economista e ex-nadadora de 54 anos conseguiu um acordo com o Partido de Esquerda, considerado o passo que faltava para que sua coalizão chegasse ao governo.

Nesta quarta, porém, o Partido de Centro anunciou que não votaria a favor do Orçamento proposto, justamente devido ao acordo anunciado com os esquerdistas. "Não podemos apoiar o Orçamento de um governo que está se movendo largamente à esquerda", disse a líder da legenda, Annie Loof.

Isso abriu espaço para que o Parlamento rejeitasse o projeto da nova primeira-ministra e para que a oposição de direita impusesse emendas como a redução de impostos ligados à atividade petrolífera e o aumento de gastos no sistema judiciário para combater o crime. A princípio, Andersson minimizou o revés: "Sou da opinião de que isso [o Orçamento] é algo com o qual eu posso conviver", disse, antes da votação.

Horas depois, porém, veio um novo golpe, com o Partido Verde resolvendo também se retirar da coalizão após a rejeição do texto. O movimento obrigou a recém-eleita a deixar o cargo.

"Há uma prática constitucional segundo a qual um governo de coalizão renuncia quando um partido sai. Não quero liderar um governo cuja legitimidade esteja em questão", disse, acrescentando que espera ser reeleita em votações futuras.

Outra reviravolta ainda é possível, e Andersson tem boas chances de ser reconduzida ao cargo. Os partidos Verde e de Esquerda disseram que a apoiariam em uma nova eleição, enquanto o Centro prometeu se abster. Embora os partidos não tenham conseguido chegar a um acordo em relação ao Orçamento, estão unidos no propósito de manter o SD (Partido dos Democratas Suecos), populista e anti-imigração, longe do governo.

Magdalena Andersson foi eleita a menos de um ano das próximas eleições legislativas, programadas para setembro de 2022. O desafio dela seria conseguir manter os sociais-democratas no poder, no momento em que o partido registra seu menor índice histórico de aprovação.

Löfven, que deixou o cargo, havia conseguido formar uma coalizão minoritária dos sociais-democratas com os Verdes, além de manter o apoio dos partidos de Esquerda e Centro. Esse complexo equilíbrio agora colapsou, com o Centro tendendo à direita e desconfiado da crescente influência do Partido de Esquerda.

Mesmo que conseguisse acalmar a base, Andersson enfrentaria uma série de desafios. A violência aumentou na maior parte das cidades suecas, com brigas de gangues e tiroteios. Além disso, a pandemia da Covid-19 também expôs lacunas no elogiado estado de bem-estar social sueco, uma vez que o país não estabeleceu medidas nacionais de lockdown ou de contenção do vírus pelo uso de máscara.

Também há pressões para que o governo acelere a mudança para uma economia verde, para a atingir os objetivos de redução de poluentes e conter as mudanças climáticas.

Andersson se tornou, ainda que por poucas horas, primeira-ministra cem anos depois de as mulheres passarem a ter direito a voto na Suécia e 40 anos depois que a vizinha Noruega elegeu a primeira mulher para o cargo. "Sei o que isso significa para as meninas do nosso país", disse. "Também fui uma menina na Suécia, e a Suécia é a terra da igualdade de gênero. Estou profundamente emocionada."


Quem é Magdalena Andersson, 54

  • Histórico e formação: Nadadora de elite na juventude, formou-se na prestigiada Escola de Economia de Estocolmo
  • Carreira: Entrou na política recrutada pelo primeiro-ministro Goran Persson (1996-2006); foi vice-chefe da agência sueca de impostos entre 2009 e 2012 e assumiu o Ministério das Finanças em 2014
  • Situação política: Assumiria a menos de um ano das próximas eleições, com uma coalizão política fragilizada e sem acordo para aprovar Orçamento
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