Jacob Chansley, que ficou conhecido como 'xamã do QAnon' depois de aparecer usando um chapéu de pele com chifres e com o rosto pintado de vermelho, branco e azul durante a invasão da sede do Legislativo americano em janeiro, foi condenado nesta quarta-feira (17) a 3 anos e 5 meses de prisão por um juiz federal dos EUA.
Em setembro, Chansley, 34, declarou-se culpado das acusações de obstrução de um processo oficial —o ataque ao Capitólio ocorreu durante a sessão de certificação da vitória eleitoral do democrata Joe Biden, que sucedeu Donald Trump na Casa Branca.
Os promotores do caso haviam pedido ao juiz Royce Lamberth, responsável pela sentença, que estabelecesse pena mais longa, de 51 meses (4 anos e 3 meses). O magistrado, porém, seguiu a mesma pena aplicada na última semana a um ex-lutador de artes marciais que também participou do episódio e foi filmado agredindo um policial –a pena de 41 meses é a mais severa aplicada até agora nos quase 700 casos criminais decorrentes da invasão do Capitólio.
Ainda que aquém do demandado, a procuradora Kimberly Paschall disse que a sentença é suficiente para dissuadir outros americanos a cometerem atos do tipo. "A Justiça não ficará de braços cruzados enquanto a transferência pacífica de poder é atacada", declarou.
Para detalhar a gravidade do caso, ela lembrou que Chansley havia publicado mensagens nas redes sociais com ameaças a políticos antes mesmo da invasão. "Se o acusado fosse pacífico, não estaria aqui hoje", disse Paschall. "Uma multidão que invade o Capitólio com o objetivo de interromper as atividades dos parlamentares não é pacífica."
Chansley compareceu ao tribunal com um macacão verde-escuro da prisão, barba e cabeça raspada. "A parte mais difícil disso é que eu sei que sou culpado", disse, em um longo comunicado antes de a sentença ser proferida. "Achei que ia pegar 20 anos de prisão."
O americano insistiu que não é um criminoso perigoso nem um homem violento. "E certamente não sou um terrorista", acrescentou. "Sou apenas um bom homem que violou a lei."
Detido desde janeiro, Chansley recebeu diagnóstico de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão e ansiedade. Ao se declarar culpado, disse que ficou decepcionado por não ter recebido de Trump o perdão presidencial, algo que o blindaria das acusações criminais.
Natural de Phoenix, no Arizona, ele ficou conhecido como "QAnon Shaman" (xamã QAnon, em português) devido à propagação que faz de teorias da conspiração QAnon.
Ele foi preso três dias após a invasão da sede do Legislativo americano e acusado de desordem civil, obstrução e conduta desordeira. De acordo com promotores do caso, durante o ataque Chansley deixou um bilhete na mesa do então vice-presidente dos EUA, Mike Pence, no qual estava escrito: "É apenas uma questão de tempo, a justiça está chegando".
Cinco pessoas morreram durante a invasão do Capitólio, entre as quais um policial, que foi atacado por manifestantes. Meses depois, quatro agentes, que também estavam presentes durante o ataque, cometeram suicídio. Cerca de 140 oficiais de segurança ficaram feridos.
O ataque foi insuflado por Trump, então presidente, que, durante manifestação na capital Washington, orientou ativistas a se dirigirem até a sede do Legislativo.
Nesta segunda (15), Steve Bannon, aliado e ex-conselheiro do republicano e outro nome envolvido no episódio, entregou-se ao FBI, a polícia federal americana. Ele foi indiciado por desacato ao não cumprir intimações do Congresso para depor e apresentar documentos sobre a invasão do Capitólio e ficou detido até ser liberado horas depois. Bannon se declarou inocente das acusações nesta quarta.
Mais de 30 pessoas já foram condenadas por conexão com o ataque, e a maioria evitou a pena de prisão ao se declarar culpada de crimes menores, como conduta desordeira.
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