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Atacado por aliados e oposição, Boris defende restrições contra Covid e descarta renúncia

Premiê britânico enfrenta racha em sua base, que discorda de medidas contra a pandemia

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Londres | Reuters

Em meio a ataques da oposição e a um racha dentro de sua base de apoio, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, defendeu nesta quarta-feira (15) no Parlamento as medidas impostas por seu governo para controlar a pandemia de Covid-19. Também minimizou a crise de confiança que enfrenta entre os conservadores e descartou renunciar.

Um dia depois de ter enfrentado a maior rejeição parlamentar por parte de legisladores de seu próprio partido, que consideraram o novo pacote de restrições draconiano, o líder britânico reafirmou que ele é necessário diante da ameaça da variante ômicron, e ressaltou que a proposta acabou sendo aprovada.

O premiê Boris Johnson gesticula em sessão turbulenta de perguntas no Parlamento nesta quarta (15) - Jessica Taylor/Parlamento do Reino Unido/AFP

Nesta quarta, o país registrou o recorde de novos casos diários de Covid, com 78.610 diagnósticos em 24 horas —a marca anterior era de 68.053, em 8 de janeiro. Autoridades de saúde destacaram que a marca ainda pode voltar a ser batida seguidamente nas próximas semanas e que veem como provável um aumento nas hospitalizações.

Apelidado de "Plano B", o pacote aprovado nesta terça prevê ações como a obrigatoriedade do uso de máscaras na maior parte dos locais fechados, a exigência do certificado de vacinação em boates e grandes eventos e a vacinação de profissionais da saúde.

Na votação, 99 dos 361 deputados do Partido Conservador se posicionaram contra as medidas —rejeição muito acima dos 60 votos inicialmente esperados.

Durante a sessão semanal de perguntas do Parlamento ao primeiro-ministro nesta quarta, o Partido Trabalhista rapidamente apontou que a aprovação só ocorreu devido aos votos da oposição, com o líder Keir Starmer acusando Boris de ser "o pior primeiro-ministro possível no pior momento possível".

"Seus deputados se equivocam ao votar contra medidas básicas de saúde pública, mas não se enganam ao desconfiar dele", declarou Starmer, para quem o premiê está "muito enfraquecido para liderar".

Boris já vem enfrentando uma série de desgastes. No mais recente, recebeu críticas da opinião pública por uma festa que teria sido realizada em Downing Street, sede do governo, durante o Natal de 2020, quando celebrações presenciais estavam proibidas em razão de restrições sanitárias. O episódio levou à renúncia de uma assessora do premiê na semana passada e continua rendendo acusações de hipocrisia ao alto escalão do governo.

Na turbulenta sessão desta quarta, o legislador trabalhista Colum Eastwood acusou o premiê de ter ignorado esse episódio e afirmou que ele deveria renunciar por "erodir a confiança do público" nas políticas contra a Covid.

"Eu respeito e entendo as ansiedades legítimas que os colegas têm sobre as restrições às liberdades", disse Boris. "Mas acredito que a abordagem que estamos adotando é equilibrada, proporcional e certa para este país." Ele afirmou que vai continuar guiando os esforços do governo para que a população "enfrente a pandemia unida".

Alguns parlamentares conservadores que o desafiaram na terça deram apoio nesta quarta enquanto ele respondia às perguntas da oposição. Pouco antes da sessão, o ministro dos Transportes, Grant Shapps, tentou minimizar a crise.

"No Parlamento, acontece todo tipo de coisa. Governar é difícil, especialmente com algo como o coronavírus. Não há um livro didático, um manual com o qual trabalhar. E vocês sabem que este governo não acertou em algumas coisas com o coronavírus, mas em outras acertou em cheio, como o programa de vacinação", declarou ao canal Sky News.

O temor dos aliados de Boris é que ele siga os passos de sua antecessora Theresa May, vítima de uma crescente rebelião em 2019 em meio às negociações de seu acordo para o brexit. O movimento acabou resultando em uma moção de censura interna e em sua renúncia.

Outro episódio recente que provocou indignação entre os britânicos foi a tentativa do primeiro-ministro de mudar as normas parlamentares para ajudar o deputado conservador Owen ​Paterson —que pressionou membros do governo para defender os interesses de duas empresas para as quais atuava com consultor remunerado.

Nesta quinta-feira (16), a localidade de North Shropshire organizará eleições legislativas parciais para preencher a vaga de Paterson, que renunciou. O país está de olho no destino dessa pequena circunscrição rural do centro da Inglaterra, já que a corrida eleitoral se tornou uma espécie de plebiscito sobre a gestão de Boris. Se os conservadores forem derrotados nesse reduto tradicional, pode ser a gota d'água do descontentamento interno.

200 mil infectados por dia

De acordo com o ministro da Saúde, Sajid Javid, a ômicron estaria infectando quase 200 mil pessoas por dia, mas o número de novos casos oficialmente detectados na terça-feira foi de 59.610.

Para evitar o colapso dos hospitais, o Executivo anunciou a missão gigantesca de oferecer uma dose de reforço da vacina anti-Covid para todos os adultos até o fim do ano.

Isso significa 1 milhão de injeções por dia, um grande desafio logístico. Mas Boris viu sua popularidade disparar com o sucesso da primeira campanha de vacinação e espera repetir a proeza agora.

O premiê passou os últimos dias fazendo uma série de declarações incisivas a respeito da pandemia. No domingo (12), o premiê falou sobre uma inevitável "forte onda" da ômicron no Reino Unido. Na segunda (13), anunciou a primeira morte relacionada à nova cepa no país e pediu que as pessoas descartem a ideia de que a mutação é mais branda.

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