Bolsonaro faz discurso anticorrupção na Cúpula da Democracia e ignora escândalos no governo

Presidente também discorreu sobre liberdade de expressão, ainda que ataque a imprensa profissional com frequência

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta sexta-feira (10), em discurso para lideranças mundiais durante a Cúpula da Democracia, que a luta contra a corrupção no país é "prioridade permanente" e aproveitou para criticar seus antecessores, ignorando escândalos relacionados a seu governo.

"A luta contra a corrupção também constitui prioridade permanente. Tanto é que estamos completando três anos sem uma denúncia sequer contra o nosso governo, ao contrário do que ocorria em anos anteriores", afirmou o líder brasileiro no evento promovido pelo governo dos EUA. A cúpula virtual, convocada pelo presidente Joe Biden, tem como objetivo debater a democracia e as ameaças autoritárias pelo mundo.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Lucio Tavora - 9.dez.21/Xinhua

Ainda que tenha levado ao fórum global o discurso de que o Brasil está há três anos sem casos de corrupção, o próprio Bolsonaro costuma dizer que não tem como saber se esse tipo de crime ocorre em seu governo e que não tem ciência de tudo que se passa nos 23 ministérios.

O presidente disse ainda que o Brasil adotou "o mais ambicioso e abrangente plano anticorrupção da história do país" —o governo lançou na quinta um minipacote sobre o tema em evento em Brasília.

Trata-se de um projeto para regulamentar o lobby, além de dois decretos: um para aumentar a transparência da agenda pública de autoridades e outro para garantir proteção ao servidor que denunciar irregularidades.

Do ponto de vista de transparência das agendas públicas, este é um hábito incomum no próprio Planalto. A agenda do presidente não é divulgada na íntegra, nem com detalhes sobre, por exemplo, quem esteve presente. A realização de muitos encontros é descoberta por publicações em redes sociais.

As falas de Bolsonaro também ignoram escândalos relacionados a seu governo. Entre eles, a apuração de irregularidades na compra de vacinas contra a Covid e as investigações que pesam sobre os quatro filhos do presidente, como o caso das rachadinhas ligado ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Ainda no evento de Biden sobre democracia, o presidente falou sobre outro tema caro a ele: liberdade de expressão. "Estamos empenhados em assegurar as liberdades de pensamento, associação e expressão, inclusive na internet, algo essencial para o bom funcionamento de uma democracia saudável", disse. "Valorizamos o direito de todos expressarem suas opiniões e de serem ouvidos."

Bolsonaro virou alvo de um novo inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por ter feito uma falsa relação, durante uma live, entre Aids e a vacinação contra a Covid. Diante disso, voltou a criticar o Supremo. O ministro Alexandre de Moraes é relator do inquérito das fake news, que tem como alvo aliados do presidente. Na leitura do chefe do Executivo, trata-se de uma questão de "liberdade de expressão".

A despeito da defesa discursiva da liberdade de expressão, o chefe de Estado brasileiro acumula episódios de ataque à liberdade de imprensa e à mídia profissional desde antes de assumir o cargo.

O presidente também afirmou que a "proteção dos direitos humanos é valor inerente ao governo", que orienta todas as políticas públicas e programas sociais de sua gestão, e citou, como exemplo, a criação do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

"Reafirmo nossa determinação de proteger e respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todos os brasileiros, independentemente da origem, raça, sexo, cor, idade, religião, sem qualquer forma de discriminação", disse.

Durante o governo Bolsonaro, porém, o Brasil foi incluído em uma lista da Organização das Nações Unidas onde a situação dos direitos humanos é considerada "preocupante", ao lado de nações como Venezuela, China, Honduras, Haiti e Filipinas. Relatório de setembro da alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet​, levantou, entre outras, questões sobre a falta de proteção à população indígena no Brasil, com ataques às etnias yanomami e munduruku.

Bolsonaro repetiu no discurso parte de compromissos já expressados em carta que enviou para a organização do evento na última semana, onde aproveitou para acusar a mídia tradicional de desinformação. Integrantes do governo americano consideraram as promessas do governo brasileiro "inusuais" para a cúpula, que tem como um dos objetivos a proteção de jornalistas profissionais. ​

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