Bolsonaro silencia, e aliados lamentam vitória de Boric no Chile

Presidente é praticamente o único na América do Sul que ainda não se manifestou

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Brasília

Um dia após o Chile eleger Gabriel Boric, Jair Bolsonaro (PL) ainda não havia parabenizado o esquerdista até as 18h desta segunda (20). Aliados, por sua vez, lamentaram o resultado nas redes sociais.

Entre os principais mandatários da América do Sul, só o presidente brasileiro não se pronunciou. Ele está, desde sexta (17), em Guarujá (SP). O líder do Paraguai, Mario Abdo Benítez, por exemplo, felicitou Boric e disse que os países trabalharão juntos para seguir fortalecendo as relações entre os países.

O presidente da República, Jair Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro - Adriano Machado - 16.dez.21/Reuters

Alberto Fernández, da Argentina, prometeu "fortalecer os laços de irmandade que unem nossos países e trabalhar unidos na região para pôr fim à desigualdade na América Latina".

Em reserva, embaixadores relatam mal-estar com a demora do Brasil em se manifestar. O processo deve partir do presidente, e depois o Itamaraty divulga uma nota. Quando Fernández foi eleito, em 2019, Bolsonaro não o parabenizou e lamentou a vitória. O argentino é aliado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Líder dos protestos estudantis de 2011 no Chile, Boric foi eleito no domingo ao derrotar o ultradireitista José Antonio Kast. Venceu com 4,6 milhões de votos, recorde para um candidato à Presidência.

O voto não é obrigatório no país, mas mais da metade da população compareceu às urnas (55,65%).

Ainda assim, aliados de Bolsonaro destacaram o nível de abstenção e faziam relações com a disputa em 2022 no Brasil. "Bater no peito dizendo que não votou em político nenhum só fará a história [no Brasil] se repetir", disse Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e filho do presidente. "Se não percebermos a estratégia da esquerda acabaremos governados por um deles."

Carlos Bolsonaro, outro filho do presidente e vereador do Rio, disse que, "enquanto isso, no Brasil", cresce o possível voto na "terceira via", que chamou de "LULO", dando a entender que pode beneficiar Lula.

O tom nas redes bolsonaristas, que levantaram a hashtag #JairOuJáEra, foi de alarmismo. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles afirmou que "o Chile caiu", e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, publicou um mapa da América do Sul com o símbolo comunista da foice e do martelo. A imagem foi compartilhada por apoiadores do presidente.

"Como ainda tem gente que não entendeu, me pediram para desenhar! Não é de Bolsonaro que falo, é de esperança, é de democracia! A mais importante eleição do mundo no ano de 2022 acontecerá no Brasil!"

Ainda que Boric seja diametralmente oposto no espectro ideológico a Bolsonaro, experientes diplomatas no Itamaraty o enxergam como diferente de outras lideranças esquerdistas mais tradicionais da região.

A avaliação é a de que ele não terá uma postura tão nacionalista na economia como Fernández, por exemplo. O Chile é um importante parceiro comercial do Brasil. A expectativa é a de que ele terá de fazer alianças com demais partidos, de forma a caminhar mais ao centro. Sua agenda à esquerda, apostam, se dará mais quanto à pauta dos "costumes", como questões de gênero.

Para conseguir se eleger, Boric teve de adotar um tom mais moderado em seu discurso e se reconciliou com a Concertação, aliança de centro-esquerda que governou o Chile por 20 anos. Ele representa a nova geração de políticos de esquerda que emergiram das revoltas estudantis de 2011.

O resultado da eleição chilena marca também a derrota de Kast, que sustenta bandeiras consideradas conservadoras do ponto de vista social e é um admirador do ditador Augusto Pinochet, cujo regime militar matou mais de 3.000 pessoas, segundo estimativas oficiais.

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