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Candidatos no Chile trocam farpas, mas fazem último debate morno

Segundo turno da eleição presidencial ocorre no próximo domingo; Kast e Boric defendem vacinação contra a Covid

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Buenos Aires

A seis dias da votação no segundo turno, os dois candidatos à Presidência do Chile se encontraram para o último debate da eleição na noite desta segunda-feira (13). O encontro entre o esquerdista Gabriel Boric e o ultradireitista José Antonio Kast foi cheio de interrupções e troca de farpas, mas de tom bem menos agressivo que o anterior.

Em um dos poucos momentos de maior fricção, Kast sugeriu que os dois fizessem um exame para detectar o uso recente de drogas. Boric respondeu sacando um teste realizado em novembro e afirmou: "Eu sabia que você ia falar disso novamente, então já trouxe o resultado, porque não quero fazer parte de um show".

O esquerdista afirmou ser a favor de liberar o cultivo da maconha para consumo próprio, mas não da legalização das drogas. Kast rebateu. "As chamadas drogas leves são uma porta de entrada para as mais pesadas, não é conveniente abrir a porta para o consumo de drogas", disse.

Gabriel Boric e José Antonio Kast, candidatos no segundo turno da eleição no Chile, posam para fotos antes do último debate, nesta segunda - Elvis Gonzalez - 13.dez.21/Pool/AFP

Em outro momento de troca mais intensa de farpas, enquanto Gabriel Boric deu ênfase ao fato de representar uma candidatura "social-democrata", o rival respondeu que "não se troca de roupa" —sugerindo que mantém seus valores sem fazer muitas concessões a aliados.

O deputado de esquerda ainda perguntou o que Kast queria dizer com "ditadura gay", quando o o assunto foi a legalização do casamento igualitário no país, recém-aprovada pelo Congresso.

O ultradireitista afirmou não ser contra o texto, mas reforçou que considerava "um absurdo" o Palácio de La Moneda (sede do Executivo chileno) ter sido iluminado com as cores do arco-íris depois da aprovação, em uma forma de celebração —o atual presidente, Sebastián Piñera, depois de não ter estimulado o debate em seu primeiro mandato, se tornou apoiador do projeto de sua antecessora, Michelle Bachelet.

"As cores e a bandeira que devem estar nos edifícios públicos do Chile deve ser sempre a do nosso país", afirmou Kast.

Os dois postulantes discordaram também sobre a Previdência, uma das principais razões pelas quais os chilenos saíram às ruas em manifestações em 2019.

Enquanto Boric defendeu uma reforma do sistema de pensões, com o estabelecimento de "uma instituição sem fins de lucro na administração", Kast respondeu que não confiaria "em um ente público que possa gerir isso e manter rentabilidade".

Sobre atos de vandalismo em protestos públicos, frequentes nos últimos três anos no país, o ultradireitista afirmou que, com ele na Presidência, os policiais atuariam de acordo com a lei caso ocorressem. Ele aproveitou para ironizar a réplica do rival.

Quando Boric afirmou que era contra atitudes violentas por parte de manifestantes e que agiria com firmeza se estivesse no posto, ouviu: "Acho que vai ser necessário um novo debate, entre o antigo Boric e o novo, porque o atual está cada vez mais parecido comigo".

O debate teve ao menos um ponto de convergência: o apoio à política de vacinação contra a Covid do atual governo. O Chile lidera o ranking de países latino-americanos com a maior parcela da população completamente imunizada (com mais de 84%) —a campanha pode ser considerada o maior legado de Piñera, que encerra o mandato com 20% de aprovação popular, desgastado por acusações de corrupção e protestos.

"Sou partidário de uma quarta dose e do passaporte sanitário", disse Kast, enquanto Boric defendeu a manutenção "do que está sendo um sucesso no atual governo". O candidato da direita, porém, aproveitou o tema para questionar os períodos de quarentena impostos pelo presidente para frear a disseminação do vírus —que, na visão dele, "danificaram muitos negócios e o turismo".

Boric confirmou ter se encontrado com a ex-presidente centro-esquerdista Michelle Bachelet, que está no Chile para as eleições. Ele a colocou ao lado do socialista Ricardo Lagos como os que mais admira entre os que ocuparam o cargo do país. Ambos integraram a chamada Concertação, coalizão que governou o Chile por duas décadas e de quem Boric era crítico até antes das eleições.

Agora, o esquerdista afirmou que pretende integrar a seu governo nomes dos partidos Democrata Cristão e Socialista, que declararam apoio a seu projeto. Kast novamente o criticou por voltar atrás em seus princípios. "Quantas vezes você vai pedir perdão e dar um passo atrás? Quem é você, Gabriel?", perguntou.

Um dos mediadores lembrou que o direitista havia afirmado que iria acabar com o Ministério da Mulher, mas que, depois de ser pressionado pelo candidato governista Sebastián Sichel —que ficou em quarto lugar no primeiro turno—, voltou atrás. O movimento se deu justamente para que ele recebesse o apoio do centro-direitista.

Boric criticou ainda "notícias falsas disseminadas" pelo rival, mencionando uma acusação, feita por Kast no último debate, de um suposto assédio sexual. O caso remete a episódios que teriam ocorrido em 2012, quando Boric era presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile e foi acusado de direcionar "olhares obscenos" e fazer "comentários sexistas".

O esquerdista pediu desculpas nesta segunda-feira à mulher, que se manteve no anonimato mas, em uma série de publicações no Twitter, criticou Kast por usar sua história na campanha. A mulher afirmou, ainda, que votará em Boric.

Segundo a mais recente pesquisa do instituto Cadem, Boric lidera a corrida com 40% das intenções de voto, contra 35% de Kast, enquanto 25% se dizem indecisos. Nesses últimos dias de campanha, é proibido pela lei eleitoral do Chile a divulgação de levantamentos eleitorais.

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