Democrata peça-chave para aprovação do pacote social e ambiental de Biden diz que votará contra projeto

Senador Joe Manchin se opõe ao tamanho do plano; Casa Branca classificou a postura como inexplicável e repentina

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Washington | Reuters

O senador americano Joe Manchin, democrata moderado que é considerado peça-chave para a aprovação do pacote de investimentos sociais e ambientais proposto pelo governo de Joe Biden, afirmou neste domingo (19) que não apoiará o projeto, avaliado em US$ 1,85 trilhão (R$ 10,30 trilhões).

"Fiz tudo o que era humanamente possível", disse Manchin, da Virgínia Ocidental, à Fox News, sobre os esforços para diminuir o tamanho do pacote. "Não posso votar para continuar com isso. Não posso."

O senador democrata Joe Manchin é seguido por repórteres ao sair do Capitólio, sede do Legislativo americano - Anna Moneymaker/Getty Images - 14.dez.21/AFP

A Casa Branca classificou a postura do senador como uma mudança inexplicável e repentina. "A luta pelo Build Back Better é muito importante para desistir", disse a porta-voz Jen Psaki, por meio de comunicado, acrescentando que encontrariam uma maneira de avançar com o conteúdo no próximo ano.

Ao lado da também democrata Kyrsten Sinema, Manchin tem sido um obstáculo ao plano apelidado de BBB (Build Back Better), principal parte da agenda de Biden para aumentar gastos públicos e, assim, gerar empregos, baixar o custo de vida e tornar os EUA mais competitivos. O pacote foi aprovado pela Câmara americana em novembro, por 220 votos a favor e 213 contra —os republicanos, em peso, o rechaçaram.

Agora, é preciso que o Senado aprove a pauta, e o voto de Manchin é decisivo, porque a maioria democrata na Casa é estreita: 50% dos senadores mais o poder de desempate da vice, Kamala Harris, que preside as sessões. Se um único membro do partido se opuser, o avanço do pacote seria travado.

Biden disse na semana passada, após conversar com Manchin, que o senador havia declarado apoio ao BBB e prometeu pressionar o Legislativo para finalizar o acordo nas próximas semanas. Manchin não negou o conteúdo da conversa, mas divulgou opiniões bem diferentes das apresentadas pelo presidente.

À Fox News ele disse que, com a inflação crescente —a maior dos últimos 31 anos—, a dívida nacional, a "agitação geopolítica" e a Covid, o projeto apoiado pelos colegas democratas seria prejudicial.

"Quando você tem essas coisas vindo até você da maneira que estão agora... Não posso votar para continuar este projeto", afirmou. "Este é um não. Eu tentei de tudo o que sei fazer", acrescentou.

Embora as negociações com Manchin tenham se mostrado infrutíferas, assessores de Biden expressaram confiança, ao longo dos últimos dias, em relação à aprovação. Muitos democratas consideram o BBB essencial para as chances do partido de manter o controle do Congresso nas eleições do próximo ano.

Por enquanto, o Senado entrou no recesso de fim de ano e, como não concluiu o trabalho em torno da proposta, prometeu continuar a análise assim que os legisladores voltarem, no início de janeiro.

Entre outros pontos, o BBB aumentaria os impostos de americanos de alta renda e levaria empresas a financiarem programas para mitigar a emergência climática, aumentar os subsídios à saúde e fornecer creche gratuita. Biden argumentou que reduzir esses custos é crucial em um momento de aumento da inflação e em que a economia se recupera de consequências da crise sanitária, que tem assistido a um repique nos EUA. Já os republicanos dizem que a proposta alimenta a inflação e prejudicaria a economia.

O senador progressista Bernie Sanders, presidente da Comissão do Orçamento, criticou Manchin por retirar o apoio ao pacote. "Ele terá muito o que explicar ao povo da Virgínia Ocidental", disse, em entrevista à CNN. Sanders está entre os que pressionam o Partido Democrata para que a legenda somente submeta o projeto ao plenário da Casa quando houver certeza de que Manchin e Sinema vão apoiá-lo.

Já o republicano Ben Sasse, também membro da Comissão do Orçamento, aproveitou o episódio para criticar o pacote. "O megaprojeto de gastos do presidente está morto, e Manchin cravou o último prego no caixão", disse, em comunicado, argumentando que o BBB é uma proposta "abertamente partidária".

Não é de hoje que Manchin é foco de preocupação da Casa Branca. O democrata, eleito em um estado de maioria branca e forte tendência republicana, já apresentou dissidência pública com a ala mais progressista do partido diversas vezes. Ele é abertamente pró-armas, antiaborto e anti-imigração.

Em comunicado divulgado após a entrevista à Fox News, Manchin alegou que o pacote levaria ao aumento da dívida pública dos EUA, prejudicando a capacidade do país de responder à pandemia e às disputas geopolíticas. "Meus colegas democratas em Washington estão determinados a remodelar dramaticamente nossa sociedade de uma forma que deixe nosso país ainda mais vulnerável às ameaças."


Entenda o BBB (Build Back Better)

Status: aprovado na Câmara; aguarda análise do Senado

Proposta prevê:

  • US$ 555 bilhões para o combate às mudanças climáticas, como incentivos para fontes de energia menos poluentes e verbas para reflorestamento
  • US$ 400 bilhões para universalizar o acesso à escola para crianças de três e quatro anos; a medida deve atender mais de 6 milhões de crianças e garantir recursos para os seis primeiros anos do programa
  • US$ 200 bilhões em abatimento ou créditos de impostos para famílias com crianças; válido por um ano
  • US$ 165 bilhões para reduzir o gasto com plano de saúde e ampliar o acesso a planos gratuitos e de baixo custo (Medicaid e Medicare)
  • US$ 150 bilhões para ampliar o acesso a cuidados para idosos
  • US$ 150 bilhões para ampliar o acesso à moradia com preço acessível
  • US$ 100 bilhões para os serviços de imigração, a serem usados para acelerar a análise de vistos e de pedidos de asilo, entre outras medidas
  • US$ 40 bilhões para treinamentos de trabalhadores e bolsas de ensino superior
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