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Jornal pró-democracia em Hong Kong anuncia fechamento após prisão de jornalistas

Stand News se tornou publicação de maior importância desde encerramento do Apple Daily

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Hong Kong | Reuters

Centenas de policiais da segurança nacional de Hong Kong invadiram a Redação do jornal online pró-democracia Stand News na manhã desta quarta-feira (29) —ainda noite de terça no Brasil— e prenderam seis pessoas por "conspiração para divulgar publicações sediciosas". Após a ação, a publicação anunciou que vai encerrar suas atividades.

Criado em 2014 como uma organização sem fins lucrativos, o Stand News era a publicação pró-democracia de maior importância no território após o fechamento do Apple Daily, em junho deste ano.

Segundo a mídia honconguesa, estão entre os detidos nesta quarta a advogada e ex-legisladora democrática Margaret Ng, a cantora pop Denise Ho, o editor-chefe do jornal, Patrick Lam, e dois ex-membros do conselho do Stand News, Chow Tat-chi e Christine Fang.

O jornalista Patrick Lam, editor do Stand News, é conduzido por policiais em Hong Kong nesta quarta - Tyrone Siu - 29.dez.21/Reuters

O Stand News publicou um vídeo da polícia chegando à residência do vice-editor Ronson Chan, que também é chefe da Associação de Jornalistas de Hong Kong.

"A acusação foi de conspiração para divulgar publicações sediciosas. Este é o mandado do tribunal e este é o meu mandado. Seu telefone está obstruindo nosso trabalho", diz um oficial mostrado no vídeo. A emissora local Cable TV disse que Chan não foi preso e apenas auxiliava na investigação.

Em comunicado, a polícia detalhou que prendeu três homens e três mulheres, com idades entre 34 e 73 anos, e que fez buscas em suas casas. Como de costume, não divulgou o nome dos presos.

A Redação do Stand News, localizada em um prédio industrial no distrito de Kwun Tong, foi parcialmente fechada, com dezenas de policiais circulando no saguão e quatro vans estacionadas no térreo, de acordo com a agência de notícias Reuters.

Em nota, a polícia explicou que conduziu uma busca com um mandado que a autorizava a "procurar e levar materiais jornalísticos de relevância". Segundo o texto, mais de 200 policiais participaram da operação.

A operação desta quarta gera preocupação sobre a liberdade de expressão e de mídia na ex-colônia britânica –que retornou para o comando da China em 1997 com a promessa de proteção de diversos direitos individuais.

Sedição não está entre as ofensas listadas na lei de segurança nacional imposta por Pequim na ilha em junho do ano passado. São puníveis, por exemplo, terrorismo, conluio com forças estrangeiras, subversão e secessão, com penas que chegam a prisão perpétua.

Julgamentos recentes, no entanto, têm permitido às autoridades usar poderes conferidos pela nova legislação para implantar leis da era colonial usadas anteriormente de forma escassa, incluindo a Ordem do Crime, que cobre a sedição.

Autoridades defendem que a lei de segurança nacional restaurou a ordem após os protestos pró-democracia de 2019, classificados como frequentemente violentos, e não limita direitos e liberdades. Críticos, por outro lado, argumentam que a legislação é uma ferramenta para sufocar a dissidência e que colocou a ex-colônia britânica em um caminho autoritário.

A operação no Stand News ocorre cerca de seis meses depois de centenas de agentes invadirem a Redação do Apple Daily, prendendo executivos por supostos crimes de conluio com um país estrangeiro. Nos dias que se seguiram à operação, a polícia congelou os bens da publicação e o jornal encerrou sua circulação.

Nesta terça, promotores apresentaram novas acusações de publicações sediciosas contra Jimmy Lai, executivo do Apple Daily, e outros seis ex-funcionários do jornal. Segundo o argumento da promotoria, o conteúdo poderia "trazer ódio ou desprezo" ou "motivar descontentamento" contra autoridades de Hong Kong e da China.

A polícia não divulgou, no entanto, quais reportagens do Apple Daily ou do Stand News foram consideradas sediciosas.

A missão do Stand News determinava que o jornal deveria ser independente, autônomo e comprometido com a garantia dos valores fundamentais de Hong Kong, tais como "democracia, direitos humanos, Estado de Direito e justiça".

Após a invasão do Apple Daily, o Stand News disse que pararia de aceitar doações de leitores e retirou comentários da plataforma para proteger seus apoiadores, bem como autores e a equipe editorial, acrescentando que "crimes de expressão" chegaram a Hong Kong.

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