Descrição de chapéu refugiados

Mediterrâneo é 'cemitério sem lápides', diz papa sobre refugiados na Grécia

Francisco visitou pela segunda vez a ilha de Lesbos e disse que pouco mudou em 5 anos

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Lesbos | AFP

O papa Francisco denunciou, neste domingo (5), o "naufrágio da civilização" que abandona os migrantes, em sua chegada a um campo de refugiados da ilha grega de Lesbos, onde foi calorosamente recebido por numerosas famílias.

No segundo dia da viagem do pontífice à Grécia, Francisco visitou o campo de Mavrovouni, que abriga cerca de 2.200 requerentes de asilo em condições difíceis.

A estrutura foi construída às pressas em um antigo campo de tiro do Exército após o incêndio no campo de Moria, em setembro de 2020 —um acampamento insalubre que era o maior da Europa.

O papa Francisco conversa com duas jovens refugiadas na ilha de Lesbos
O papa Francisco conversa com duas jovens refugiadas na ilha de Lesbos - Louisa Gouliamaki/AFP

No local, durante um discurso emotivo, Francisco fez um apelo para enfrentar o "naufrágio da civilização", cinco anos após sua primeira visita à mesma ilha grega em meio à crise migratória. Na viagem de 2016, ele disse que "somos todos migrantes", ao visitar o campo de Moria. Desta vez, lamentou que "pouca coisa tenha mudado desde então".

"O Mediterrâneo está se tornando um cemitério frio sem lápides [...] Eu imploro, vamos parar este naufrágio da civilização", declarou, sobre o mar onde vários migrantes morrem tentando chegar à Europa em embarcações precárias.

O pontífice argentino cumprimentou e abençoou as famílias presentes, incluindo muitas crianças. "Bem-vindo, nós te amamos", disseram a ele.

Cerca de 40 requerentes de asilo, a maioria católicos de Camarões e da República Democrática do Congo (RDC), assistiram ao Angelus dominical e estiveram presentes no discurso proferido pelo papa sob uma tenda, na presença de vários líderes religiosos, da presidente grega, Katerina Sakellaropoulou, do vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, e do ministro grego das Migrações, Notis Mitarachi.

Alguns refugiados dizem esperar voltar com ele para Roma, como aconteceu em 2016. Naquele ano, Francisco retornou com 12 refugiados sírios. Desta vez, 50 migrantes serão transferidos do Chipre, onde ele esteve na quinta e na sexta-feira.

Em Atenas, a possibilidade de que alguns dos requerentes de asilo de Mavrovouni possam acompanhar o papa de Lesbos à Itália não foi descartada.

Três acampamentos do tipo já foram abertos nas ilhas de Samos, Leros e Cos, e outros em Lesbos e Chios estão previstos para o próximo ano. Os campos são cercados por arame farpado e fechados com portas de raios-x.

Um dos temas centrais do pontificado de Francisco, a causa dos refugiados continua sendo a pedra angular da 35ª viagem do papa, que começou na quinta-feira (2) no Chipre com a previsão de durar cinco dias.

Jorge Bergoglio, que vem de uma família de migrantes italianos radicados na Argentina, tem defendido constantemente o acolhimento de milhares de "irmãos e irmãs", independentemente de sua religião ou condição de refugiado.

​Em Atenas, no sábado, ele criticou diante dos dirigentes gregos "a comunidade europeia, dilacerada pelos egoísmos nacionalistas", que "às vezes parece bloqueada e descoordenada, em vez de ser um motor de solidariedade".

No Chipre, na sexta-feira (3), Francisco fez um paralelo entre os campos de refugiados e a Segunda Guerra Mundial e pediu "abrir os olhos para a escravidão e a tortura" sofridas pelos migrantes nesses refúgios.

"Isso nos lembra a história do século passado, dos nazistas, de Stálin, e nos perguntamos como isso pode ter acontecido. Mas o que aconteceu no passado está acontecendo hoje nas costas vizinhas", disse.

A questão é particularmente atual, devido às recentes tensões entre a União Europeia e a Belarus sobre o uso de migrantes como reféns e a grave tragédia que ocorreu no Canal da Mancha, com 27 pessoas mortas quando tentavam atravessar da França ao Reino Unido em um barco. Foi a pior tragédia na área desde 2014.

Na terça-feira (30), 36 ONGs de ajuda a migrantes, incluindo Médicos do Mundo e Liga Grega para a Defesa dos Direitos Humanos, solicitaram um encontro com o papa para informá-lo sobre os refugiados na Grécia, denunciando as condições de vida nos campos e a lentidão procedimentos de asilo.

As autoridades gregas, por sua vez, disseram esperar "o reconhecimento do peso que o acolhimento de tantos migrantes representa para a Grécia" e que pretendiam "que a visita não se reduza apenas à dimensão migratória".

'Herege'

A visita de Francisco à região também busca uma aproximação com a igreja Ortodoxa Oriental —que tem relações difíceis com a Católica Romana desde a divisão do Cristianismo, em 1054, no chamado Grande Cisma.

Prevendo possíveis manifestações hostis, o governo grego mobilizou um forte esquema de segurança para a chegada do pontífice, com 2.000 agentes, drones, veículos blindados e bloqueios nas estradas.

Padre Orthodoxo é contido pela polícia após chamar o papa Francisco de 'herege' em Atenas no sábado (4)
Padre Orthodoxo é contido pela polícia após chamar o papa Francisco de 'herege' em Atenas no sábado (4) - Louiza Vradi/Reuters

Mesmo assim, no sábado, um padre ortodoxo foi levado pela polícia após gritar "Papa, você é um herege" na passagem de Francisco por Atenas.

Um vídeo mostrou o homem, de longa barba branca e vestido com túnica e chapéu pretos, gritando as palavras em grego do lado de fora do prédio antes que a polícia o empurrasse.

Francisco disse que a viagem buscava reforçar os vínculos com "irmãos de fé", os cristãos ortodoxos. À tarde, ele renovou o pedido de perdão dos católicos aos ortodoxos, referindo-se a "erros da Igreja".

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