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Morre Lucía Hiriart, viúva do ditador chileno Augusto Pinochet

Ela foi considerada assessora informal com forte influência no regime

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Santiago

Morreu nesta quinta-feira (16), em Lo Barnechea, ao norte de Santiago, Lucía Hiriart, viúva do ditador Augusto Pinochet (1915-2006). Aos 99 anos, ela passou por uma série de hospitalizações nos últimos anos devido a problemas respiratórios, que se complicaram nas últimas semanas.

Em mensagem publicada nas redes sociais, sua neta Karina Pinochet escreveu: "[Lúcia] entregou sua vida ao serviço dos chilenos, e a história saberá valorizar sua obra grandiosa e seu trabalho por nosso amado país".

Lucía Hiriart com Augusto Pinochet em cerimônia de aposentadoria militar do ditador, em 1998 - Cris Bouroncle - 10.mar.1998/AFP

Assim que a notícia foi divulgada, dezenas de pessoas se encaminharam para a praça Baquedano (também chamada de Dignidad), em Santiago, para celebrar. O local foi o epicentro das manifestações de 2019, que levaram à convocação da Assembleia Constituinte ora em atuação —cuja missão é justamente substituir o texto constitucional escrito nos tempos de Pinochet.

No fim da tarde, ouviam-se buzinas e gritos de celebração na região central da capital chilena. Entre as pessoas que se juntavam na praça, algumas carregavam garrafas de espumante.

O candidato à Presidência de ultradireita, José António Kast, que já defendeu a ditadura de Pinochet, pronunciou-se na noite desta quinta, mas tentou se descolar do ditador. "Não quero fazer disso um tema de campanha, não conhecia à senhora Lucía Hiriart de Pinochet e não sou próximo à família."

Manifestantes celebram notícia da morte de Lucía Hiriart, viúva do ditador Augusto Pinochet, na praça Baquedano, em Santiago, nesta quinta (16) - Pablo Sanhueza/Reuters

Hiriart era considerada uma assessora informal do marido, com influência no regime —tendo inclusive participado das decisões que levaram ao bombardeio do palácio de La Moneda, sede do Executivo, em 11 de setembro de 1973; a ação terminou com o suicídio de Salvador Allende e o início do regime militar (1973-1990).

Durante o período, Hiriart tinha uma sala no palácio de governo e mantinha vínculo direto com Manuel Contreras, então chefe da Dina, serviço de inteligência da ditadura. Contreras esteve à frente da repressão do regime, responsável por mais de 3.000 desaparecimentos, segundo estimativas de organizações de direitos humanos.

De acordo com sua biógrafa, Alejandra Matus, Hiriart foi a responsável por Pinochet ter traído a confiança de Allende com a finalidade de promover a si mesmo. "Ela aceitou a morte de pessoas próximas, a tortura de familiares e até o exílio de pessoas próximas com a finalidade de que o marido se ressaltasse", afirmou, no livro "Doña Lucía".

A obra retrata a esposa do ditador como alguém de personalidade forte, que por muitas vezes confrontou o militar.

Hiriart também dirigiu a Fundação Cema Chile, de ajuda assistencial a mulheres carentes. Em 2005, a entidade foi acusada de corrupção, por supostamente ter recebido edifícios e fundos públicos de modo ilegal. A viúva de Pinochet respondeu a processos por evasão fiscal de US$ 2,35 milhões e apropriação indevida de divisas, imóveis e rendas da fundação, mas nunca foi punida por essas acusações.

Ainda liderou outras associações de caridade e era uma figura recorrente em programas de TV do Chile.

A morte da viúva de Pinochet ocorre a três dias do segundo turno das eleições presidenciais que vão definir o sucessor do presidente Sebastián Piñera. Um dos candidatos, José Antonio Kast, celebra o legado pinochetista e, na campanha, chegou a dizer que o regime não foi uma ditadura.

Tanto Kast como seu rival, o esquerdista Gabriel Boric, devem realizar atos de encerramento de campanha nesta quinta-feira (16).

Pouco antes de seu evento, Boric comentou a morte de Hiriart em um tuíte: "Lucía Hiriart morre impune apesar da profunda dor e da divisão que causou em nosso país. Meus respeitos às vítimas da ditadura da que ela foi parte. Não celebro a impunidade nem a morte, trabalhamos pela Justiça e pela vida digna, sem cair em provocações nem violência".

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