Descrição de chapéu Financial Times China Ásia

Número de casamentos na China é o mais baixo em 13 anos em meio a crise demográfica

Muitos homens para poucas mulheres e presentes que chegam a R$ 90 mil têm inviabilizado uniões

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Sun Yu
Xangai (China) | Financial Times

Os esforços para reduzir o custo do casamento e elevar o índice de natalidade não resultaram em mais casamentos, prejudicando um projeto crucial para combater o envelhecimento da sociedade chinesa.

O país mais populoso do mundo enfrenta uma crise demográfica, e as autoridades encaram os desafios econômicos causados pelo encolhimento da população. Dados do censo chinês divulgados neste ano mostram que o aumento da população foi o menor em décadas.

Em abril, o Ministério de Assuntos Civis lançou uma campanha informativa para baratear o casamento em 20 cidades, já que o custo do matrimônio subiu e está fora do alcance da média das famílias.

Casais se cumprimentam durante casamento em grupo em Nanning, região autônoma de Guangxi Zhuang, no sul da China
Casais se cumprimentam durante casamento em grupo em Nanning, região autônoma de Guangxi Zhuang, no sul da China - Lu Boan - 25.out.21/Xinhua

"Uma redução nos casamentos afetará a taxa de natalidade e, por sua vez, o desenvolvimento econômico e social", ponderou no ano passado Yang Zongtao, funcionário sênior do Ministério de Assuntos Civis. "Esperamos criar condições favoráveis para que mais pessoas de idade apropriada se casem."

Mas a emissão de licenças de casamento caiu para 5,9 milhões nos três primeiros trimestres de 2021 –número mais baixo em 13 anos. Além disso, a quantidade de casamentos está em queda há oito anos.

Um estudo em cinco províncias pela universidade Southwest Jiaotong, de Chengdu, constatou que o valor médio gasto por casais da zona rural para cobrir presentes de noivado, que inclui o dote da noiva e varia de dinheiro vivo a imóveis, subiu entre 50% e 100% nos últimos sete anos, chegando a pelo menos 300 mil renminbis (R$ 262 mil). É mais de seis vezes a renda familiar anual média. "O problema está se agravando mais e mais", disse Wang Xiangyang, um dos autores do estudo da Southwest Jiaotong.

O condado central de Ningling, uma área identificada como uma "zona experimental" do novo projeto, anunciou um preço sugerido de até 30 mil renminbis (R$ 26 mil) para os presentes de noivado, contra os 100 mil renminbis (R$ 87 mil) que as mulheres jovens do condado e seus pais geralmente pedem.

O condado também criou centenas de conselhos matrimoniais, integrados por autoridades locais, dignitários e facilitadores de casamentos, para persuadir os casais a seguir a orientação oficial.

"Dizemos constantemente às moças e a seus pais que a felicidade não tem nada a ver com quantos presentes de noivado elas recebem", disse um funcionário local de Ningling.

Uma das grandes dificuldades é o desequilíbrio de gênero: após décadas de política do filho único, o número de rapazes supera consideravelmente o de moças da mesma faixa etária. "A possibilidade de êxito de qualquer política oficial nova é limitada quando temos mais homens jovens que mulheres", disse um assessor em Pequim. "É inevitável que muitos homens permaneçam solteiros por toda a vida."

O assessor disse que o desequilíbrio de gênero no país praticamente não diminuiu desde o censo de 2010, que constatou haver 2,2 milhões de homens solteiros na faixa dos 25 a 34 anos e 1,2 milhão de mulheres solteiras na mesma faixa. "Não veremos um aumento nos casamentos enquanto o desequilíbrio de gênero continuar tão grande", acrescentou o assessor.

A situação é exacerbada pelo fato de menos mulheres chinesas estarem interessadas em se casar. Muitas vêm optando por casar-se mais tarde ou permanecer solteiras, para dedicar-se à carreira profissional.

Em pesquisa feita em maio com adultos jovens em Lishui, condado rural do leste do país, 60% das mulheres entrevistadas consideraram o casamento necessário, contra 82% dos homens. Várias pesquisas regionais e nacionais feitas por volta de 2010 indicaram que mais de 80% das mulheres entrevistadas viam o casamento como uma necessidade. O índice de homens dessa opinião passou de 85%.

Casal posa para fotos nos arredores da Cidade Proibida, em Pequim - Greg Baker - 26.fev.21/AFP

A funcionária de escritório em Lishui Olivia Wang, 35, disse: "Vou pelo que eu penso, não pelo que diz o governo, sobre quando e com quem me casar". Alguns homens em Ningling também não creem que a mudança de política oficial vá modificar os comportamentos.

"Nenhuma mulher se casaria comigo se eu fizesse o que manda a propaganda oficial", disse um homem de 28 anos com o sobrenome Wang, que pagou aos sogros 99.999 renminbis (R$ 87 mil) em dinheiro e a metade desse valor em joias de ouro antes de seu casamento, em agosto. "Estou feliz por ter uma esposa, mas não tanto por meus pais terem tido que zerar suas economias para me ajudar a alcançar essa meta."

Tradução de Clara Allain

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