Descrição de chapéu União Europeia

Olaf Scholz é eleito primeiro-ministro da Alemanha e encerra era de Angela Merkel

Social-democrata assume comando do país em meio a desafios como a pandemia de Covid e a crise climática

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BAURU (SP)

O Parlamento da Alemanha elegeu nesta quarta-feira (8) o social-democrata Olaf Scholz como o novo primeiro-ministro, encerrando a era de 16 anos em que o país esteve sob a liderança de Angela Merkel.

Scholz, 63, atuou como vice de Merkel e seu ministro das Finanças. A eleição dele abriu caminho para um governo de coalizão tripla apelidada de "semáforo", em referência às cores dos partidos que a formam: o vermelho do SPD (social-democrata), os Verdes e o amarelo do FDP (liberal).

Seguindo a liturgia alemã, a nomeação formal de Scholz foi feita pelo presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, no Palácio de Bellevue, em Berlim. Depois, ele voltou ao Bundestag, o Parlamento, para prestar juramento diante dos legisladores.

O novo primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, recebe um buquê de flores de sua antecessora, Angela Merkel, durante cerimônia no Parlamento alemão - John Macdougall - 8.dez.21/AFP

A presidente do Bundestag, Baerbel Bas, informou que Scholz foi eleito com 395 votos de um total de 736. A votação foi secreta, mas os desafios dentro da coalizão — a primeira envolvendo três legendas desde o pós-guerra— ficaram evidentes.

Isso porque o SPD, os Verdes e o FDP somaram 416 assentos no último pleito; logo, 21 deputados da base governista não endossaram o nome de Scholz no comando da Alemanha. Segundo os dados oficiais, 6 parlamentares se abstiveram e 303 votaram contra o social-democrata.

O novo premiê, de máscara preta, foi aplaudido de pé pelos parlamentares. Além da tarefa de governar a Alemanha pelos próximos anos, ganhou buquês de flores e uma cesta de maçãs.

O social-democrata posicionou-se como um sucessor natural da agora ex-primeira-ministra. A emblemática líder alemã, por sua vez, não bateu o recorde de longevidade no poder de Helmut Kohl por apenas nove dias.

Presente no Bundestag, Merkel também foi aplaudida pelos parlamentares e desejou boa sorte ao sucessor. "Sei por experiência própria que momento comovente é ser eleito para este cargo", disse.

Conhecido pelos hábitos pragmáticos e objetivos, Scholz assume com a missão de conduzir a Alemanha em meio a desafios imediatos, como a quarta onda de coronavírus, e outros de médio e longo prazos, como as relações com Rússia, China e Belarus. Também terá como prioridade o enfrentamento da crise climática.

Quando, há duas semanas, ele anunciou o acordo entre os partidos de sua coalizão, a pandemia de Covid foi o primeiro ponto anunciado em seu discurso. Ele ressaltou que o coronavírus ainda não foi derrotado e prometeu rigor na aplicação das medidas de controle do avanço da doença —àquela altura, a variante ômicron não havia sido identificada.

Como ministro, Scholz montou um pacote de 750 bilhões de euros (R$ 4,7 trilhões) contra a crise sanitária, que ele apresentou como "a bazuca necessária" para segurar empregos e apoiar empresas.

Mais recentemente, defendeu a imposição de restrições contra os não vacinados na Alemanha e apoiou a discussão sobre a obrigatoriedade da vacina, que pode ser votada pelo Bundestag nesta semana. A meta, segundo Scholz, é administrar mais 30 milhões de doses do imunizante contra a Covid até o Natal.

Algumas medidas também já foram anunciadas pelo novo governo, tais como: o aumento do salário mínimo de 9,6 para 12 euros (de R$ 60,76 para R$ 75,94) por hora, a proposta de venda controlada de maconha a adultos em lojas autorizadas e o direito ao voto ampliado a todos os maiores de 16 anos.

Na política externa, o novo premiê deu sinais de que deve se comprometer mais com a integração europeia, por meio de uma defesa mais assertiva dos interesses do bloco no cenário internacional. Scholz afirmou ainda que a soberania da Europa é a chave e um dever para o novo governo, e a coalizão também defende a tomada de decisões em questões diplomáticas por maioria em vez de por unanimidade.

O novo premiê deu uma amostra da abordagem mais incisiva já nesta quarta-feira. Ao ser questionado por uma TV alemã se o gasoduto Nord Stream 2 poderia ser usado como um instrumento de pressão sobre a Rússia, respondeu mencionando a tensão existente entre o país de Vladimir Putin e a Ucrânia.

"Temos uma visão muito clara. Queremos que todos respeitem a integridade das fronteiras", disse Scholz, em referência aos rumores de uma possível invasão russa do território ucraniano. "Todo mundo entende que haverá consequências se isso não acontecer, mas o importante é fazer de tudo para garantir que eles permaneçam inalterados."

Horas antes, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, havia dito que "não há outra alternativa senão o diálogo para resolver as divergências mais graves" entre Rússia e Alemanha. Disse ainda esperar que Scholz desenvolva "relações construtivas" com Putin.

Na China, o dirigente Xi Jinping afirmou que Pequim "está disposta a consolidar e a aprofundar a mútua confiança política e a aumentar os intercâmbios e a cooperação em diferentes âmbitos com a Alemanha", segundo a agência estatal de notícias Xinhua.

Das negociações para formar a coalizão "semáforo" saiu um governo que concilia visões de antigos adversários. Scholz terá em seu gabinete Annalena Baerbock, colíder dos Verdes, que será ministra das Relações Exteriores, e o líder do liberal FDP, Christian Lindner, agora chefe do Ministério das Finanças.

Destaca-se também a presença de um epidemiologista no novo gabinete. O social-democrata Karl Lauterbach assumirá o posto de ministro da Saúde, no momento em que a Europa volta a registrar aumento no número de casos de Covid-19.

Serão 16 ministérios no total, um a mais do que tinha o gabinete de Merkel devido à criação da pasta da Construção. O SPD de Scholz fica com seis deles, enquanto os Verdes de Baerbock e o FDP de Lindner assumem cinco cada um. Pela primeira vez na história dos governos da Alemanha, haverá igualdade de gênero na distribuição das pastas: serão oito ministros e oito ministras.

​De personalidade controlada, o novo premiê chegou a ser apelidado por jornalistas de "Scholz-o-mat", expressão que o identifica com algo tão previsível quanto uma máquina de lavar roupas. Descrito como "sem carisma" ou "alguém que saiu de um congresso de contadores", respondeu, durante a campanha, que não era candidato a animador de circo quando questionado se não lhe faltava demonstrar emoção.

Filho de um gerente comercial de empresas têxteis, Scholz é o mais velho de três irmãos. Nasceu em Osnabrück, no noroeste alemão, e cresceu em um bairro de classe média em Hamburgo, no norte do país.

Entrou para a juventude do SPD aos 17 anos, ainda no ensino médio. Nessa segunda metade dos anos 1970, identificou-se com o marxismo e protestou contra o "imperialismo americano". A fase mais à esquerda foi branda e durou pouco. Ele se moveu para o centro da centro-esquerda durante o curso de direito na Universidade de Hamburgo, na qual se especializou em direito trabalhista.

Ainda tinha uma farta cabeleira castanha e ondulada quando se elegeu deputado federal, em 1998. Dois anos depois, foi eleito chefe do SPD em Hamburgo, estabelecendo-se na ala moderada da agremiação.

Scholz tornou-se secretário-geral do partido no ano 2000 e a partir de 2002 fez parte do governo social-democrata de Gerhard Schröder, que reformou as regras trabalhistas alemãs. Depois foi ministro do Trabalho até 2009, prefeito de Hamburgo de 2011 a 2018 e vice-premiê e ministro das Finanças no governo Merkel. Na campanha deste ano, chegou a ficar na terceira posição nas pesquisas de intenção de voto, mas acumulou trunfos que o levaram à liderança e, posteriormente, à vitória.

Desde 1998 está casado com Britta Ernst, que ele conheceu no SPD e é hoje secretária da Educação de Brandemburgo. O casal decidiu não ter filhos.


Principais nomes do ministério de Scholz

Annalena Baerbock, 40

Ministério: Relações Exteriores

Partido: Verdes

Líder de sua legenda, concorreu na eleição e chegou a ficar, por um curto período, no topo das pesquisas. Será a primeira mulher a ocupar o cargo na história. Defende linha dura em relação à Rússia e à China.

Cem Özdemir, 55

Ministério: Comida e Agricultura

Partido: Verdes

Crítico do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, será o primeiro descendente de turcos a ocupar o cargo de ministro na Alemanha. É conhecido por ser especialista em relações internacionais, mas não tem histórico de amplo conhecimento na área sobre a qual ficará responsável.

Christian Lindner, 42

Ministério: Finanças

Partido: FDP

Líder dos liberais, ele ocupará o segundo mais importante cargo do país. Terá em suas mãos um orçamento de € 500 bilhões (R$ 3,14 trilhões). Tem como principal objetivo cumprir as visões fiscalmente conservadoras de seu partido tanto na Alemanha quanto na União Europeia.

Christine Lambrecht, 56

Ministério: Defesa

Partido: Social-democrata

Foi ministra da Justiça no governo de Angela Merkel e, desde maio, concilia a função com a chefia do Ministério da Família, Idosos, Mulheres e Jovens. Não tem experiência militar, mas terá que administrar um orçamento de € 50 bilhões (R$ 314 bilhões), em um momento em que a Otan tem relação tensa com a Rússia.

Karl Lauterbach, 58

Ministério: Saúde

Partido: Social-democrata

É parlamentar desde 2005 e três anos depois se tornou professor adjunto de políticas de saúde em Harvard. Ele ficou popular ao comentar a pandemia de Covid-19 em vários programas de televisão, defendendo o lockdown como forma de conter o avanço do vírus e sendo favorável à vacinação obrigatória.

Nancy Faeser, 51

Ministério: Interior

Partido: Social-democrata

É considerada a maior surpresa no gabinete de Scholz. Atualmente líder do SPD no estado de Heese, a 410 quilômetros de Berlim, ficará responsável por supervisionar todo o aparato de segurança interna da Alemanha. Tem prometido lutar contra a extrema-direita.

Robert Habeck, 52

Ministério: Economia e Proteção Climática, e vice-chanceler

Partido: Verdes

O filósofo e escritor comandará uma das novas pastas criadas por Scholz. Ele ficará responsável por supervisionar a transição verde da Alemanha e fazer cumprir o plano para eliminar o uso de carvão até 2030 e as emissões de carbono até 2045.

Com AFP e Reuters

Erramos: o texto foi alterado

O Parlamento alemão tem 736 membros, e não 796, como dizia versão anterior desta reportagem. O texto foi corrigido.

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