Descrição de chapéu Mercosul América Latina

Presidenciáveis no Chile têm debate tenso a dias da eleição

Ultradireitista José Kast chegou a acusar o esquerdista Boric de abusar de uma mulher

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Santiago | AFP

Os dois candidatos à Presidência do Chile protagonizaram, nesta sexta-feira (10), um tenso debate, no qual trocaram acusações durante grande parte do tempo.

O candidato de ultradireita, José Antonio Kast, e o de esquerda, Gabriel Boric –que é apoiado pelo Partido Comunista– se enfrentam no próximo dia 19, no segundo turno das eleições.

Organizado pela Associação de Radiodifusores do Chile, o debate durou mais de duas horas, com perguntas constantes sobre as mudanças introduzidas pelos dois candidatos em seus programas de governo, em comparação com seus planos apresentados no primeiro turno.

Durante os 120 minutos de debate, os dois candidatos discutiram, entre vários temas, o sistema de pensões do país, crescimento econômico, descentralização, mudança climática, saúde, segurança e imigração.

Candidatos à Presidência chilena, Gabriel Boric e Jose Antonio Kast, posam antes do debate presidencial, em Santiago
Candidatos à Presidência chilena, Gabriel Boric e Jose Antonio Kast, posam antes do debate presidencial, em Santiago - Martin Bernetti - 10.dez.21 / AFP

As duas últimas pautas são bandeiras de Kast, que se posiciona contrário às atuais políticas de imigração do Chile e já declarou, várias vezes, admiração pela ditadura de Augusto Pinochet (1974-1990), uma das mais severas da América do Sul. A mando do general chileno, ao menos 3.200 pessoas foram assassinadas e mais de 40 mil, torturadas.

Um dos pontos que geraram polêmica no debate foi a defesa de Kast sobre a proposta de encarcerar pessoas em lugares distintos dos atuais presídios, quando houver um "estado de exceção".

Questionado se esses espaços poderiam ser parecidos com os usados pela ditadura de Pinochet para deter opositores, Kast respondeu: "é assim". Por outro lado, ele fez questão de ressaltar que se trata de uma "modificação basicamente para estados de exceção quando tivermos uma situação grave no interior do país", disse.

O ultradireitista defendeu também sua proposta de construir uma vala na fronteira norte do país para evitar a passagem de imigrantes irregulares. Na região, principalmente na cidade de Iquique, a 2.000 km de Santiago, manifestantes repudiam a chegada de levas de migrantes, a grande maioria de venezuelanos e haitianos.

A medida elaborada por Kast foi avaliada em US$ 10 milhões (R$ 56 milhões).

Os ânimos também se exaltaram quando o candidato ultradireitista acusou Boric de abusar de uma mulher quando era presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, em 2012. "Você se desculpou com a mulher que o acusou de abuso? Essa situação ainda não foi esclarecida, tem uma mulher que te denunciou por abuso e você ainda não pediu perdão", disse.

Boric, por sua vez, rechaçou as acusações e disse que "parece lamentável que [Kast] utilize um espaço como este [para falar] sobre temas de que você não tem absolutamente nenhuma ideia".

Mais para o final do debate, o candidato ultradireitista se desculpou e disse ter cometido um erro. "Gabriel Boric não é acusado de abuso, mas de assédio. Peço desculpas pelo caso. Acho que você deve esclarecer isso com a vítima ou a pessoa que indica ter sido vítima de assédio."

O caso remete às acusações de episódios que teriam ocorrido em 2012, quando Boric foi acusado de direcionar "olhares obscenos" e fazer "comentários sexistas".

Neste ano, em meio à campanha presidencial, o esquerdista já tinha negado, em uma entrevista à CNN Chile, as acusações de assédio, mas reconheceu que fez "comentários machistas que são inaceitáveis" e acrescentou que "para melhorar é preciso ser capaz de reconhecer".

Este foi o penúltimo debate até o pleito. Na noite da próxima segunda (13), os dois candidatos voltarão a se encontrar em um debate televisivo organizado pela Associação Nacional de Televisão do país.

Na quarta (8), outro tema ligado à vida pessoal dos candidatos veio à tona. Na ocasião, a agência de notícias americana Associated Press publicou uma reportagem com base em um documento que indica que o pai de Kast foi filiado ao Partido Nazista da Alemanha durante a Segunda Guerra.

As relações da família Kast com os nazistas já eram especuladas, mas o candidato chileno sempre sustentou que seu pai havia sido obrigado a defender o regime de Adolf Hitler no conflito, como todo jovem alemão à época, e que isso não fazia dele um apoiador do ditador –argumento que foi contestado pela reportagem.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.