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Presidente das Filipinas retira candidatura ao Senado em nova reviravolta eleitoral

Aliado de Duterte também desiste de concorrer, abrindo dúvidas sobre futuro político do chefe de Estado

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Manila | Reuters

Em meio a um processo eleitoral marcado por vaivéns nas Filipinas, o presidente do país, Rodrigo Duterte, retirou nesta terça-feira (14) sua candidatura ao Senado nas eleições de maio do próximo ano.

Impedido pela Constituição de concorrer à reeleição, Duterte —que conduziu um governo acusado de violações de direitos humanos— chegou a cogitar candidatar-se à Vice-Presidência, até que desistiu do plano em outubro e disse que se aposentaria da arena política. Pouco depois, no entanto, anunciou a corrida para o Legislativo.

O presidente filipino, Rodrigo Duterte, durante uma entrevista coletiva - Noel Clis/Pool - 30.jan.17/AFP

A desistência de concorrer ao Senado foi informada no mesmo dia em que um de seus principais aliados e apontado como possível sucessor, o senador Bong Go, também retirou a candidatura à Presidência após apresentar maus resultados nas pesquisas de intenção de voto.

A saída das duas figuras da disputa eleitoral agora gera dúvidas, mesmo entre os analistas filipinos, sobre quais são os planos de Duterte. Sua tentativa de manter-se no poder, seja por meio de aliados ou de uma cadeira no Legislativo, era apontada como forma de atenuar as investigações que pesam contra ele no Tribunal Penal Internacional.

O filipino é acusado de ter autorizado a morte de dezenas de milhares de pessoas em meio a uma política de guerra às drogas. Segundo dados oficiais, cerca de 8.000 pessoas morreram em mais de 200 mil operações no arquipélago asiático desde 2016, mas organizações de direitos humanos afirmam que os números são muito maiores.

"A ideia talvez seja a de assegurar continuidade, mas como pode haver continuidade se não há um candidato governista a presidente?", questionou o analista político local Edmund Tayao à agência de notícias Reuters.

De acordo com informações de um porta-voz de Duterte publicadas pela rede americana CNN, o sepultamento da candidatura ao Senado teria como intenção permitir que o chefe de Estado se concentre na resposta à pandemia de coronavírus, que matou mais de 50 mil pessoas no arquipélago, e nos esforços para assegurar eleições transparentes.

O filipino tem afirmado em discursos recentes que organizará uma transição pacífica de poder. Durante a Cúpula da Democracia recém-organizada pelo presidente americano, Joe Biden —para a qual Duterte foi convidado ainda que a democracia nas Filipinas não esteja bem ranqueada em comparativos internacionais—, ele disse que terá "a maior honra de entregar as rédeas do poder ao sucessor".

Também durante o encontro virtual, disse que as liberdades de expressão e de imprensa são "plenamente desfrutadas" nas Filipinas, algo desacreditado por organizações de direitos humanos e pela imprensa independente. Duterte foi eleito como um dos 37 chefes de Estado "predadores da imprensa livre" pela ONG Repórteres Sem Fronteiras.

As críticas às perseguições que seu governo organiza contra jornalistas ganharam maior projeção internacional quando a jornalista filipino-americana Maria Ressa ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2021. Fundadora do site de jornalismo investigativo Rappler, ela é alvo de mais de dez processos iniciados pela gestão de Duterte e teve de pedir autorização da Justiça filipina para sair do país e comparecer à capital norueguesa, Oslo, onde foi entregue o prêmio na última sexta (10).

Um dos nomes inicialmente cotados para disputar as eleições com o apoio de Duterte era a filha dele, Sara Duterte-Carpio, hoje prefeita da cidade de Davao, no sul. Ela, porém, optou por concorrer à Vice-Presidência, aliando-se a Ferdinand "Bongbong" Marcos, filho do ditador homônimo que esteve no poder por duas décadas, de 1965 a 1986.

Victor Manhit, analista do think tank Stratbase, avalia que a retirada de Duterte provavelmente visa transferir sua base de apoio para sua filha e Marcos, de modo a garantir uma vitória nas eleições.

Nas Filipinas, o presidente e o vice são eleitos separadamente. Embora a Vice-Presidência seja um cargo com poucas atribuições, analistas explicam que, caso uma figura de oposição ocupe o posto, isso pode limitar a atuação e o poder do eleito.

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