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Primeiras eleições em Hong Kong após intervenção da China têm baixa participação

Eleitores preferiram passear de transporte público a comparecer aos centros de votação, relatam políticos locais

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Hong Kong | Reuters

Somente 29,3% dos 4,5 milhões de eleitores aptos a votar nas eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong compareceram às urnas neste domingo (19), segundo informações divulgadas às 21h30 do horário local, uma hora antes do encerramento da votação.

No último pleito, realizado em 2016, quando o regime comunista da China ainda não havia promovido ampla repressão no território semiautônomo, a taxa de comparecimento foi de 52,6%. Projeta-se que as eleições deste ano terão os menores índices de comparecimento desde que o Hong Kong deixou de ser uma colônia britânica e foi devolvida aos chineses, em 1997.

O resultado de alta abstenção já era projetado. Nem por isso, no entanto, Pequim deixa de se preocupar, já que a participação popular é desejada para aferir legitimidade a uma eleição na qual os candidatos pró-democracia estão ausentes, já que só aqueles considerados "patriotas" pela China puderam se candidatar.

Propagandas de candidatos ao Conselho Legislativo de Hong Kong no distrito de Wanchai
Propagandas de candidatos ao Conselho Legislativo de Hong Kong no distrito de Wanchai - Peter Parks/AFP

Ao jornal honconguês South China Morning Post a líder do Partido do Povo, a conservadora Regina Ip, descreveu o cenário de votação como "extremamente terrível". Ela distribuía panfletos nas ruas da região de Sai Wan na tentativa de acelerar o lento comparecimento eleitoral. "Muitas pessoas viajaram para outros locais de transporte público em vez de votar; os sistemas de transporte estão lotados."

O governo enviou mensagens de texto aos residentes no sábado (18), pedindo às pessoas que votassem, enquanto alguns opositores apelaram para que as pessoas se ausentassem como protesto à censura e ao controle chineses —ainda que configure crime incitar alguém a não votar no território semiautônomo.

Cerca de 10 mil policiais foram às ruas, e mais de 40 mil funcionários eleitorais do governo, mobilizados. Os resultados devem ser divulgados nesta segunda-feira (20), noite de domingo no horário de Brasília.

Estas são as primeiras eleições desde que Pequim impôs novas regras em resposta às massivas manifestações pró-democracia que ocuparam as ruas de Hong Kong em 2019. O regime instituiu a Lei de Segurança Nacional, encerrando na prática o regime de autonomia consagrado na chamada Lei Básica, que estipulou o sistema de "um país, dois sistemas" —estabelecendo Hong Kong como uma ilha de capitalismo desregulado, Judiciário e imprensa livres.

A repressão avançou, ainda, para o regime eleitoral, que foi reformulado de modo a impedir que candidatos considerados antipatrióticos concorressem. No total, 153 nomes —a maioria composta por figuras pró-Pequim e elites emergentes de empresas chinesas— disputam 90 assentos no Conselho Legislativo.

Apenas 20 das cadeiras, porém, serão preenchidas com os nomes que receberam mais votos nas eleições diretas. Do restante, 40 assentos serão escolhidos pelo Comitê Eleitoral, grupo de 1.448 membros visto como parte da instrumentalização chinesa na política local e composto quase que totalmente por membros pró-Pequim. Os 30 nomes restantes são escolhidos por representantes comerciais locais.

"O objetivo do governo é garantir alta participação porque, caso contrário, isso poderia deslegitimar a eleição", disse Jean-Pierre Cabestan, professor de ciência política na Universidade Batista de Hong Kong.

John Lee, atual chefe de administração do território semiautônomo —segundo cargo mais alto na hierarquia regional— e ex-secretário de Segurança, instou a população a comparecer argumentando que aqueles que não o fizessem seriam traidores que desejavam assistir ao fracasso das eleições.

Jack Ng, um vendedor de frutas na casa dos 20 anos, disse à Reuters que não participaria de uma eleição que não considerava justa, tampouco democrática. "Não entendo por que [os partidos pró-Pequim] estão fazendo campanha, afinal, vão ganhar com certeza", afirmou. "É um absurdo."

A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse a repórteres que o governo local não havia definido nenhuma meta para a taxa de comparecimento e que não havia recebido ordens relacionadas a isso vindas de Pequim. "Não tenho nenhuma expectativa em particular."

Ainda durante a corrida eleitoral, pelo menos dez pessoas foram presas por supostamente incitarem eleitores a votar em branco, incluindo quem compartilhou postagens de terceiros com conteúdo do tipo nas redes sociais. Dos 153 candidatos, somente cerca de 12 afirmam não estar alinhados com o regime do Partido Comunista Chinês, segundo informações da agência Reuters.

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