Descrição de chapéu Rússia Europa

Ucrânia treina civis para defender país em caso de ataque da Rússia

Em meio à escalada de tensões, potências vão se reunir em Genebra para discutir crise

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Kiev (Ucrânia) e Washington | AFP

Em uma área florestal próxima à capital da Ucrânia, Kiev, tropas russas falsas cercam reservistas do exército ucraniano, com uniformes de camuflagem. Os aspirantes a soldados, que incluem arquitetos e pesquisadores, respondem aos tiros com réplicas de fuzis Kalashnikov, enquanto granadas de fumaça explodem ao redor.

"Acredito que todos nesse país devem saber o que fazer em caso de invasão do inimigo", diz Daniil Larin, estudante universitário de 19 anos, durante uma pausa no treinamento. Ele é um dos 50 civis ucranianos que viajaram de Kiev até uma fábrica soviética de cimento abandonada para treinar durante o fim de semana e aprender como defender seu país de uma possível invasão russa.

Dezenas de civis alistaram-se no Exército de reservistas da Ucrânia nos últimos meses, diante do medo de invasão da Rússia, que Kiev acusa de concentrar 100 mil soldados em suas fronteiras.

Civis ucranianos recebem treinamento militar para atuar em caso de invasão russa - Sergei Supinsky/AFP

Com 215 mil militares, o exército ucraniano enfrenta desde 2014 um conflito com os separatistas pró-Rússia do leste do país, que já provocou 13 mil mortes.

Moscou nega qualquer plano de invasão, mas o presidente russo, Vladimir Putin, não descarta uma resposta militar se a Otan, organização que a Ucrânia deseja integrar, persistir com sua expansão para o leste.

O corpo de reservistas ucraniano, que alcançou 100 mil membros, aprende "como usar armas, como se comportar no campo de batalha e como defender cidades", explica Larin.

Marta Yuzkiv, médica de 51 anos, afirma que o Exército russo é "amplamente superior" ao da Ucrânia, mas que o risco de uma escalada militar justifica a adesão aos reservistas. "Só teremos uma chance se estivermos todos preparados para defender nossa terra."

Desde que se uniu aos reservistas em abril, Yuzkiv treina várias horas a cada domingo: ela fornece assistência médica, atira com fuzis e cria pontos de controle. O exército forneceu um uniforme militar, mas ela comprou o capacete, o colete à prova de balas e óculos táticos com o próprio dinheiro.

Seu grupo de aprendizes é parte de um batalhão treinado para defender Kiev em caso de ataque contra a capital da Ucrânia.

Vadim Ozirny, comandante de batalhão, explica que os reservistas devem trabalhar para proteger edifícios administrativos e infraestruturas críticas, assim como ajudar na retirada dos moradores. "Com o equipamento, as armas e as ordens de comando, essas pessoas devem ter a capacidade defender sua casa", diz.

Denys Semyrog-Orlyk, arquiteto de 46 anos e um dos reservistas mais experientes, conta à agência AFP que está preparado para enfrentar uma ofensiva real. "Há oito anos, estou vivendo com o pensamento de que, até que consigamos dar um bom golpe na cara da Rússia, eles não nos deixarão em paz", afirma. "Entendo perfeitamente que sou um soldado. Posso ser convocado e tenho atuar como um militar."

EUA E RÚSSIA VÃO SE ENCONTRAR EM GENEBRA PARA DISCUTIR UCRÂNIA

Os Estados Unidos e a Rússia anunciaram nesta terça-feira (28) que vão se reunir em 10 de janeiro em Genebra, em encontro que deve abordar as tensões na Ucrânia e os temores sobre a segurança na Europa, após as exigências de Moscou para limitar a influência ocidental em suas fronteiras.

"Dia 10 de janeiro será o principal das consultas bilaterais Rússia-EUA", afirmou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, à agência de notícias Tass.

As relações entre Moscou e Washington passam por um momento de tensão devido ao envio de tropas russas à fronteira com a Ucrânia, o que provoca o temor da Casa Branca e de outros governos ocidentais sobre a possibilidade de uma invasão da ex-república soviética.

A Rússia afirma que atua diante da ameaça representada pelo avanço da Otan e exigiu que a aliança militar transatlântica proíba qualquer expansão futura em direção às suas fronteiras, além de interromper qualquer cooperação militar no que Moscou considera sua área de influência.

Uma fonte do Conselho de Segurança Nacional dos EUA afirmou que as negociações serão acompanhadas por uma reunião entre Rússia e Otan em 12 de janeiro. Um dia depois deve acontecer um encontro entre a Rússia e a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), criada durante a Guerra Fria para favorecer o diálogo Leste-Oeste e que também conta com presença americana.

Moscou nega qualquer intenção bélica e se apresenta como vítima das "provocações" do Ocidente, que apoia política e militarmente a Ucrânia.

Em um sinal de que as negociações serão duras, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, descartou "qualquer concessão" e afirmou que Moscou está "em uma posição de força no que diz respeito à defensa de seus interesses".

O Kremlin exige "garantias de segurança", incluindo o fim da expansão da Otan para os territórios da ex-União Soviética. "É sobre isso que temos que falar, são as propostas apresentadas pelo lado russo", afirmou Riabkov.

Vladimir Putin ameaçou na semana passada adotar medidas "militares e técnicas" caso suas reivindicações não sejam atendidas.

Em resposta a uma revolução pró-Ocidente, a Rússia anexou em 2014 parte da Ucrânia, a península da Crimeia. Também é acusada de apoiar os separatistas pró-Moscou que lutam desde então contra o governo de Kiev no leste do país.

A reunião bilateral em 10 de janeiro acontecerá no âmbito do diálogo estratégico de segurança iniciado pelos presidentes Joe Biden e Vladimir Putin durante o encontro de cúpula em Genebra, em junho. Embora esse formato tenha como objetivo principal renegociar os tratados de controle de armas nucleares pós-Guerra Fria, as discussões também abordarão a situação na fronteira russo-ucraniana, indicou um alto funcionário do governo americano que pediu anonimato.

Em um movimento que rompe o caráter geralmente confidencial das discussões diplomáticas, a Rússia apresentou recentemente dois projetos de tratados para impedir qualquer ampliação da Otan e para acabar com as atividades militares ocidentais perto das fronteiras russas.

Os EUA indicaram que estão "dispostos a discutir" os documentos, mas já destacaram que eles incluem "algumas coisas que os russos sabem que são inaceitáveis".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.