Alemanha diz que está disposta a pagar preço para retaliar invasão russa na Ucrânia

Berlim alerta que eventuais sanções podem envolver gasoduto, e Moscou responde que politizar projeto seria contraprodutivo

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Florianópolis

Enquanto soldados russos se deslocam na Belarus e na fronteira com a Ucrânia, diplomatas ocidentais movimentaram suas peças em reuniões nesta terça-feira (18). A ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, encontrou-se com seu contraparte russo, Serguei Lavrov, enquanto o premiê Olaf Scholz esteve com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

A mensagem dos representantes de Berlim foi uníssona: o custo para defender Kiev será grande —e eles estão dispostos a pagá-lo. Para resguardar os direitos fundamentais europeus, Annalena defendeu que "não há outra opção, mesmo que isso signifique pagar um alto preço econômico".

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, e o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, em entrevista coletiva após encontro em Moscou
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, e o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, em entrevista coletiva após encontro em Moscou - Maxim Shemetov - 18.jan.22/Reuters

A ministra ainda alertou que as consequências podem chegar ao Nord Stream 2, caso a energia seja usada como arma por Moscou. O gasoduto liga a Alemanha à Rússia e ficou pronto recentemente, mas sua operação foi suspensa e ainda não iniciada, com a possibilidade de ser autorizada apenas em junho.

O recado de Annalena ecoa o de seu premiê, que após reunião com Stoltenberg reforçou que a Alemanha está aberta a impor sanções no caso de um ataque russo e que tudo estaria na mesa, inclusive o Nord Stream 2. Lavrov, por sua vez, afirmou ter deixado claro aos alemães que "tentativas de politizar o projeto seriam contraprodutivas", de acordo com a agência de notícias Interfax.

Além da ministra alemã, o chanceler russo conversou nesta terça com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. O americano instou uma desescalada do conflito e defendeu a via diplomática para solucionar a crise, enquanto Lavrov insistiu que a Rússia espera respostas concretas e que elas cheguem o quanto antes. "Não propague especulações sobre uma suposta 'agressão russa' iminente", afirmou.

Os dois decidiram que seria mais proveitoso encontrar-se pessoalmente.

O comunicado do Departamento de Estado, porém, manteve o tom duro contra os russos, ao anunciar uma turnê europeia de Blinken. Segundo a pasta, o objetivo é "discutir recentes engajamentos diplomáticos com a Rússia e esforços conjuntos para conter uma maior agressão russa contra a Ucrânia, incluindo a prontidão de aliados e parceiros para impor consequências massivas e custos econômicos severos".

A ofensiva diplomática começará nesta quarta (19) em Kiev, onde o secretário se reunirá com o presidente Volodimir Zelenski e o chanceler Dmitro Kuleba. Depois, em Berlim, será a vez de Annalena e de uma reunião conjunta com representantes de EUA, Reino Unido, França e Alemanha.

Por fim, na sexta (21), Blinken se encontrará com Lavrov em Genebra.

As reuniões entre as autoridades se dão enquanto as tensões aumentam no front. Cerca de 100 mil soldados russos continuam na fronteira com a Ucrânia, e Moscou enviou tropas e equipamentos militares para Belarus nesta segunda (17), para exercícios conjuntos que devem começar em fevereiro.

As operações serão feitas numa região a oeste da Belarus, na fronteira com os membros da Otan Polônia e Lituânia, além da própria Ucrânia, anunciou o ditador belarusso, Aleksander Lukachenko.

Para os EUA, a Rússia está preparando um ataque que poderia acontecer a qualquer momento e, por isso, alerta que a resposta americana incluiria todas as opções —ainda que o presidente Joe Biden tenha excluído por enquanto a possibilidade de enviar tropas americanas para lutar contra soldados russos.

"Nenhuma opção está fora da mesa", disse a secretária de imprensa Jen Psaki, que acrescentou o alerta para uma "situação extremamente perigosa".

Mesmo com a movimentação, a Rússia mantém sua posição de que não há intenção de atacar a Ucrânia, ao mesmo tempo em que afirma que poderia adotar ações militares a não ser que o Ocidente atenda às suas demandas —o que inclui uma promessa de que Kiev não ingresse na Otan.

Na entrevista coletiva após a reunião com a ministra das Relações Exteriores alemã, Lavrov insistiu nas demandas, afirmando que "agora espera respostas a essas propostas —como nos prometeram— para continuar as negociações". O ministro russo voltou inclusive a rejeitar o apelo dos ocidentais para retirar as tropas mobilizadas na fronteira com a Ucrânia, ao dizer que esses militares não ameaçam ninguém.

"Mais de 100 mil soldados russos, equipamentos e tanques foram mobilizados perto da Ucrânia sem razão. Fica difícil não ver isso como uma ameaça", rebateu Annalena.

Enquanto cresce o temor de um conflito, o Reino Unido anunciou nesta semana ter iniciado o fornecimento de armamentos antitanque para a Ucrânia. Já a Otan continua tentando a via diplomática. Stoltenberg disse nesta terça ter convidado aliados e a Rússia para mais reuniões com o objetivo de discutir formas de melhorar a segurança na região, já que a última rodada terminou sem avanços.

"Os aliados da Otan estão preparados para discutir propostas concretas sobre como reduzir riscos e aumentar a transparência no que tange a atividades militares e como reduzir ameaças espaciais e cibernéticas", afirmou em entrevista coletiva conjunta com Scholz, acrescentando que a aliança também está preparada para trocar informações sobre exercícios militares e as respectivas políticas nucleares.

A situação ucraniana, por outro lado, é sensível. Ainda que o Ocidente esteja se alinhando para defendê-lo, o país não faz parte da Otan, o que deixa os membros da aliança militar da obrigação de intervir.

Com Reuters e AFP

Erramos: o texto foi alterado

Versão inicial deste texto chamou Annalena Baerbock de chanceler da Alemanha. Como no país a palavra é usada para designar o primeiro-ministro, a maneira correta de definir o cargo dela é ministra das Relações Exteriores.

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