Descrição de chapéu Folhajus

Ativista britânica que namorou espião disfarçado será indenizada em R$ 1,7 milhão

Relacionamento durou pouco mais de um ano; polícia de Londres reconhece falhas em operação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Belo Horizonte

A Justiça britânica ordenou nesta segunda (24) que a polícia de Londres pague 229 mil libras (R$ 1,7 milhão) a uma ativista ambiental que foi enganada em um relacionamento amoroso de mais de um ano por um policial disfarçado. O investigador tinha a missão de espioná-la e vigiar grupos que ela apoiava.

Os juízes chegaram à conclusão de que, com a operação, a polícia violou os direitos humanos de Kate Wilson. Ao menos outras 11 mulheres teriam sido vítimas desse método usado pelos investigadores, mas ela foi a que chegou mais longe com o processo, de acordo com a própria polícia.

A ativista ambiental Kate Wilson namorou por mais de um ano um policial disfarçado que tinha a missão de espioná-la
A ativista ambiental Kate Wilson namorou por mais de um ano um policial disfarçado que tinha a missão de espioná-la - Police Spies Out Of Lives

Wilson conheceu o então policial disfarçado Mark Kennedy em 2003, quando ele se passava por um ativista ambiental em Nottingham, a 200 km de Londres. Eles iniciaram um relacionamento em novembro do mesmo ano e ficaram juntos até fevereiro de 2005, quando a ativista se mudou para a Espanha.

A real identidade do investigador, que era casado, só seria descoberta por ela cinco anos após o término. A britânica então iniciou uma campanha para saber como havia sido enganada e processou o Estado, alegando que sua intimidade havia sido violada. Acredita-se que Kennedy tenha passado sete anos se infiltrando em grupos ambientalistas e, de acordo com a BBC, ele teve relações sexuais com até outras dez mulheres durante a missão. Ao todo, a operação policial secreta espionou mais de mil grupos políticos, predominantemente ligados à esquerda, entre os anos 1970 e 2010.

Na decisão, os três juízes responsáveis por analisar o caso destacaram as responsabilidades de oficiais superiores na espionagem. "Ou sabiam do relacionamento ou optaram por não saber de sua existência ou foram incompetentes e negligentes em não acompanhar os óbvios e claros sinais [do relacionamento]", ressaltaram, segundo o jornal britânico The Guardian.

Em setembro, durante audiência do caso, o mesmo tribunal já havia concluído que o fato não era somente sobre um "policial renegado que se aproveitou de sua missão secreta", mas também sobre as autorizações, "que eram falhas". Os magistrados ainda elogiaram o que chamaram de "tenacidade e perseverança" da ativista na tramitação da denúncia. Em grande parte do caso, ainda segundo o periódico inglês, ela conduziu a ação sozinha, devido a problemas financeiros.

Nesta terça (25), Wilson disse à imprensa britânica que "a descoberta de que essas operações violaram os direitos à liberdade de expressão equivale a um reconhecimento muito atrasado de que espionar grupos de ativistas é policiamento político e não tem lugar em uma sociedade democrática".

"É importante, porque vai além do escândalo de policiais disfarçados enganando mulheres para relacionamentos íntimos. A violação de nossos direitos políticos foi a razão para essas mobilizações, e milhares de pessoas tiveram seus direitos políticos violados dessa maneira".

A polícia reconheceu a gravidade do julgamento. "[O veredicto] delineou falhas graves que permitiram que Kennedy permanecesse numa operação secreta de longo prazo sem o nível apropriado de supervisão", disse a comissária-assistente Helen Ball. "Resultou na violação dos direitos humanos de Wilson."

A conduta dos policiais disfarçados durante as quatro décadas de operação está sendo investigada em um inquérito público criado em 2014 e liderado por um juiz aposentado. O grupo deve realizar em maio sua próxima rodada de audiências.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.