Bolsonaro decide não enviar representante a posse após hondurenha convidar Lula

Esquerdista Xiomara Castro é mulher do ex-presidente Manuel Zelaya, que tem ligações com o PT

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Brasília

Jair Bolsonaro (PL) decidiu não enviar nenhum representante para a posse da esquerdista Xiomara Castro em Honduras, no final do mês. Ela foi eleita presidente do país da América Central em novembro.

De acordo com interlocutores do Itamaraty, a mensagem formal convidando o presidente brasileiro para a posse de Xiomara —mulher do ex-presidente Manuel Zelaya— foi entregue na semana passada. Os dois líderes hondurenhos têm ligações históricas com o PT.

Também por esse motivo, desde o primeiro momento a participação do próprio Bolsonaro foi descartada, mas havia uma discussão sobre a possibilidade de enviar alguma representação de nível ministerial ou o vice Hamilton Mourão (PRTB).

Candidata da esquerda, Xiomara Castro foi eleita, em novembro, presidente de Honduras
Candidata da esquerda, Xiomara Castro foi eleita, em novembro, presidente de Honduras - Jose Cabezas - 28.nov.21/Reuters

Nos bastidores, o movimento foi tratado como uma decisão política que dificilmente será revertida até 27 de janeiro, data das celebrações na capital hondurenha. Caso ela se confirme, o país deve ter uma representação protocolar, limitada à presença do embaixador brasileiro em Honduras, Breno da Costa.

De acordo com a agência de notícias EFE, além da mensagem formal a Bolsonaro, a presidente eleita de Honduras despachou convites para Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Interlocutores dos dois ex-presidentes disseram que não está prevista a ida deles a Tegucigalpa.

No governo Lula, após ser deposto por um golpe de Estado no final de 2009, Zelaya passou quatro meses refugiado na embaixada do Brasil. Após um período no exílio na Nicarágua, o hondurenho retornou ao país em 2011, quando fundou o Libertad y Refundación, partido pelo qual sua mulher concorreu à Presidência.

O casal tem também elos com o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, de quem toma inspiração para projetos contra a desigualdade —o chavismo apoiou Zelaya quando ele foi deposto e fez campanha para a restituição de seu poder.

Xiomara foi eleita em novembro, com 51,1% dos votos, 14 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o direitista Nasry Asfura, apoiado pelo atual presidente, Juan Orlando Hernández. JOH termina seu segundo mandato envolvido em denúncias de tráfico de drogas nos Estados Unidos —ele nega qualquer irregularidade— e com especulações de que pode vir a se refugiar na Nicarágua.

Ao não enviar representantes de Brasília para Honduras, Bolsonaro deve repetir o que fez na posse recente de outro líder da esquerda latino-americana. Em novembro de 2020, na cerimônia de início de mandato de Luis Arce na Bolívia, o Brasil esteve representado apenas pelo embaixador em La Paz, Octávio Côrtes.

Houve atritos também com o principal parceiro comercial do Brasil no continente. Em dezembro de 2019, após ameaçar não despachar emissário ou se fazer representar pelo então ministro da Cidadania, Osmar Terra, o presidente escalou Mourão para comparecer à posse de Alberto Fernández na Argentina.

Tanto no caso boliviano como no argentino o Itamaraty era comandado por Ernesto Araújo, um dos principais expoentes da ala ideológica do governo. O substituto, Carlos França, atuou para que o Brasil enviasse representantes para a posse no Peru de Pedro Castillo, também de esquerda. Na ocasião, ele acompanhou Mourão na delegação.

Nesta semana, em outra cerimônia na América Central, o ditador Daniel Ortega iniciou seu quarto mandato consecutivo na Nicarágua, após vencer eleições de fachada em novembro. O Brasil também não teve representante formal.

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