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Boris quer cortar verba da BBC a partir de 2027 em meio a escândalo de festas na pandemia

Emissora e governo britânico negociavam acordo de financiamento; oposição vê motivação política

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Florianópolis

Enquanto enfrenta uma crise motivada pela realização de festas em meio à pandemia de Covid-19, o governo de Boris Johnson sinalizou que quer cortar o financiamento da BBC a partir de 2027, segundo reportagem do Daily Mail publicada no sábado (15).

A emissora pública e o governo britânico negociavam desde novembro passado um acordo de financiamento previsto para começar em abril de 2022, com duração de cinco anos. Na conclusão das tratativas, na noite deste sábado, a secretária de Cultura, Nadine Dorries, informou sobre o congelamento, pelos próximos dois anos, da taxa de 159 libras (R$ 1.200) paga pelos contribuintes.

O premiê britânico, Boris Johnson, deixa a residência oficial na Downing Street
O premiê britânico, Boris Johnson, deixa a residência oficial na Downing Street - Paul Childs - 12.jan.22/Reuters

Segundo o jornal britânico, Dorries também estaria considerando atrelar aumentos futuros a índices abaixo da inflação entre 2024 e 2027 —a partir de então, se os conservadores ainda estiverem no poder, um novo modelo de financiamento deve ser adotado, encerrando a taxa paga pelo contribuinte.

A secretária reforçou essa intenção ao compartilhar em rede social a reportagem do Daily Mail, afirmando que "este anúncio de taxa será o último". "Os dias dos mais velhos sendo ameaçados com sentenças de prisão e oficiais de justiça batendo em suas portas acabaram", escreveu. "O momento agora é para discutir e debater novas maneiras de financiamento, apoiando e vendendo um ótimo conteúdo britânico."

A BBC não quis comentar a publicação de Dorries.

O debate sobre o financiamento da British Broadcasting Corporation, que depende em parte dos contribuintes britânicos, é constante no país, e o próprio governo do primeiro-ministro Boris Johnson recentemente sugeriu uma reforma no seu financiamento.

A informação, no entanto, vem em meio a um desgaste do premiê por eventos realizados em sua residência oficial na Downing Street, o que gerou acusações de motivação política por parte da oposição trabalhista.

"O primeiro-ministro e a secretária de Cultura parecem decididos a atacar essa grande instituição britânica porque não gostam do seu jornalismo", disse a parlamentar do partido Lucy Powell.

A justificativa para a medida, no entanto, seria a inflação no Reino Unido, que deve atingir seu maior valor em 30 anos em abril: 6% ou mais. Assim, congelar a taxa significaria um alívio aos consumidores que lidam com um custo de vida em alta.

Seria, por outro lado, um baque nas finanças da BBC, que enfrenta um ambiente competitivo formado por veículos de mídia privados e serviços de streaming bancados por assinaturas.

​As publicações da emissora são frequentemente criticadas por políticos no Reino Unido. A cobertura nas questões ligadas ao brexit —a saída da União Europeia que é ponto central do governo de Boris— há tempo é vista como crítica demais pelos apoiadores do divórcio.

Na última semana, um parlamentar conservador, mesmo partido do premiê, disse que a cobertura da emissora relacionada às festas na residência oficial durante as restrições impostas para conter o coronavírus equivalia a uma tentativa de golpe contra o primeiro-ministro.

Boris enfrenta pedidos de renúncia, inclusive de membros de seu próprio partido, justamente devido às festas na residência oficial no momento em que o Reino Unido estava sob confinamento rígido.

Uma pesquisa divulgada na sexta aponta que a oposição, do Partido Trabalhista, abriu dez pontos de vantagem para os conservadores de Boris. Com 42% da preferência, a legenda alcançou sua melhor marca desde 2013 —o partido do premiê ficou com uma fatia de 32%.

No levantamento feito com 2.151 adultos, 70% disseram querer que o primeiro-ministro renuncie.​

A série recente de escândalos começou quando veio à tona outro evento realizado em Downing Street, durante a época do Natal de 2020, quando celebrações presenciais estavam proibidas em razão de restrições sanitárias. O episódio levou à renúncia de uma assessora de Boris.

Já no mês passado, os jornais britânicos The Guardian e The Independent fizeram uma investigação apontando que cerca de 20 funcionários do governo realizaram uma festa em maio de 2020 —mas há relatos de que seriam até 40. Uma foto do evento, regado a queijo e vinho, mostrava o premiê no jardim da residência oficial, o que contrariava sua versão inicial de que não havia ocorrido celebração alguma.

A crise se agravou na segunda (10), quando a rede ITV divulgou um email enviado pelo secretário particular do premiê convidando ao menos cem funcionários do gabinete para a ocasião.

"Após um período incrivelmente movimentado, seria bom aproveitar ao máximo o clima agradável e tomar, com distanciamento social, algumas bebidas, nos jardins do número 10", afirmava a mensagem de Martin Reynolds. "Por favor, junte-se a nós a partir das 18h e traga sua bebida!"

Sob pressão, Boris admitiu pela primeira vez na quarta (12) ter furado as regras de confinamento ao participar da festa. Diante do Parlamento, disse que a indignação causada era compreensível.

Na versão do premiê, ele pensou que o evento era uma reunião de trabalho, já que o jardim da residência oficial funciona, segundo ele, como uma extensão do escritório. Boris afirmou que lá permaneceu por 25 minutos para agradecer aos funcionários e, depois, voltou ao seu escritório.

Outro pedido de desculpas, desta vez à rainha Elizabeth 2ª, veio na sexta (14), após a imprensa revelar que funcionários do governo quebraram as regras de confinamento e fizeram festas em Downing Street na véspera do funeral do príncipe Philip.

A informação sobre as festas um dia antes do funeral do marido da rainha foi veiculada pelo Telegraph nesta quinta-feira (13). De acordo com o jornal britânico, funcionários do gabinete de Boris beberam álcool em abundância, e alguns convidados dançaram até tarde na despedida do diretor de comunicação James Slack e de um fotógrafo do líder britânico, eventos que ocorreram separadamente.

Na sexta, veio outra denúncia. O tabloide Daily Mirror divulgou que os funcionários chegaram a comprar uma geladeira de bebidas para o gabinete e faziam uma espécie de happy hour toda sexta-feira, inclusive nos períodos em que festas particulares em ambientes fechados estavam vetadas. Segundo o jornal, Boris compareceu a vários desses encontros, encorajando que seus funcionários "extravasassem".

E neste domingo, mais uma festa entrou para a lista da residência oficial. Próximo ao Natal de 2020, Boris teria participado de uma festa de despedida de seu conselheiro de segurança, capitão Steve Higham, publicou o Daily Mirror. O premiê teria feito um discurso e permanecido no local por alguns minutos.

Com Reuters

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