Canadá abre investigação sobre protesto de caminhoneiros antivacina que parou capital

Com Covid, Justin Trudeau rechaça manifestações e condena apoio da oposição conservadora

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São Paulo

A polícia de Ottawa anunciou "uma série de investigações criminais" para apurar suspeitas de crimes nos protestos de caminhoneiros contrários à obrigatoriedade de vacinas contra a Covid que lotam o centro da capital canadense desde sexta (28). Os profissionais têm chamado o ato de "comboio da liberdade".

Segundo a corporação, há denúncias de ameaças e intimidação a policiais, trabalhadores municipais e outros indivíduos, além de depredação do Memorial Nacional da Guerra e de um veículo da prefeitura. "Não toleraremos comportamentos ilegais, que serão investigados a fundo", disse o órgão em nota.​

Moradores têm reclamado do barulho incessante de buzinas e do fato de os manifestantes usarem as ruas como banheiro ao ar livre. Um abrigo para pessoas em situação de rua anunciou que gente em busca de comida invadiu suas dependências. Houve ainda registro de hasteamento de bandeiras nazistas.

Caminhoneiros marcham em direção à Colina do Parlamento, no Canadá, em protesto contra obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 - Blair Gable/Reuters

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, reagiu nesta segunda-feira (31) aos protestos, após um ato marchar em direção à Colina do Parlamento, onde funciona o Legislativo do país.

"Não seremos intimidados por aqueles que insultam trabalhadores de pequenas empresas e roubam comida dos sem-teto", disse. "Não cederemos a quem hastear bandeiras racistas. Não cederemos a quem praticar vandalismo. Não há lugar no nosso país para ameaças, violência ou ódio." Trudeau também anunciou, pela manhã, ter recebido o diagnóstico de Covid —ele, que passa bem, ficará isolado em casa.

Lideranças do opositor Partido Conservador, que no ano passado perdeu a terceira eleição consecutiva para os liberais, elogiaram os manifestantes, o que também foi criticado pelo primeiro-ministro. Um deles foi Erin O'Toole, que, nas palavras de Trudeau, "vai precisar refletir com muito cuidado sobre como ele apoia pessoas que não representam os caminhoneiros".

Havia a expectativa de que os caminhões começassem a deixar os atos nesta segunda, mas os ativistas insistem que permanecerão a postos. Na sexta, a polícia disse que passaria a rebocar veículos, mas na noite de domingo as autoridades evitaram o movimento, para não provocar novos confrontos.

O Canada Unity, um dos grupos envolvidos nas manifestações, disse querer reunir mil pessoas para fazer compras sem máscaras como forma de protesto. O Rideau Centre, grande shopping na região, afirmou que fecharia as portas pelo segundo dia nesta segunda.

O prefeito de Ottawa, Jim Watson, condenou o que chamou de extremismo. "Minha mensagem para os caminhoneiros é que vocês já protestaram, já fizeram seu comício, agora é hora de voltar para casa."

As manifestações, que começaram como atos contra a exigência de vacina a caminhoneiros que cruzam a fronteira com os EUA, acabaram tendo o próprio Trudeau e suas políticas contra a Covid como alvo.

Marian Tudor, 61, que mora em Chilliwack, na Colúmbia Britânica, disse à agência de notícias Reuters que não pode mais transportar mercadorias pela fronteira porque não está vacinado. Ele parou seu trailer, repleto de comida, em frente ao Parlamento e afirmou estar disposto a ficar "o tempo que for preciso, até que essas obrigatoriedades sejam removidas para todos, não apenas para os caminhoneiros".

O Canadá ostenta uma das taxas mais altas de vacinação do mundo, mas mesmo assim tem apertado o cerco para incentivar a parcela da população que insiste em não se proteger contra a doença, que matou quase 34 mil pessoas no país —número muito inferior aos vizinhos EUA, que somam 883 mil vítimas.

Em janeiro, Québec, a segunda província mais populosa do país, viu um aumento de 300% na procura por vacinas após determinar que só imunizados poderiam comprar bebidas alcoólicas ou maconha em lojas.

Com Reuters

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