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Confrontos de grupos armados deixam ao menos 23 mortos na Colômbia

Guerrilheiros e dissidentes lutam por controle de região próxima à fronteira com Venezuela; governos também brigam entre si

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Bogotá e Caracas | AFP e Reuters

Ao menos 23 pessoas morreram, desde o fim de semana, em meio à retomada de conflitos armados entre criminosos colombianos na região de Arauca, na fronteira com a Venezuela. Segundo o presidente do país, Iván Duque, é provável que haja civis entre os mortos.

A disputa envolve o ELN (Exército de Libertação Nacional), considerado a última guerrilha da Colômbia, e dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupo que selou um acordo de paz com o governo em 2016 depois de décadas de atuação clandestina.

De acordo com um comunicado divulgado pelo Exército colombiano na noite de domingo (2), os dois grupos se enfrentam pelo controle de práticas ilegais como o tráfico de drogas.

O presidente colombiano, Iván Duque, fala, no final de uma reunião do conselho de segurança, sobre reforço de tropas que será enviado para Arauca, na fronteira com a Venezuela
O presidente colombiano, Iván Duque, fala, no final de uma reunião do conselho de segurança, sobre reforço de tropas que será enviado para Arauca, na fronteira com a Venezuela - Presidência da Colômbia - 3.jan.21/AFP

A mesma situação ocorreu em meados dos anos 2000, quando as guerrilhas se enfrentaram na região, numa batalha que avançou para o lado venezuelano, no estado de Apure.

Ao final do conflito, em 2010, mais de 58 mil pessoas haviam sido deslocadas e ao menos 868 civis foram mortos, de acordo com a ONG Human Rights Watch. Em março do ano passado, quando grupos armados colombianos enfrentaram militares venezuelanos na região, cerca de 5.000 pessoas fugiram de Apure.

Devido ao embate mais recente, o governo colombiano deslocou tropas para o local, onde, ao longo de 2021, integrantes das forças de segurança também entraram em conflito com os criminosos.

Em reunião de líderes militares e policiais para avaliar a situação em Arauca, Duque afirmou ter ordenado o envio de dois batalhões nas próximas 72 horas "para ajudar na tarefa de controle territorial".

De acordo com a inteligência colombiana, ao menos dois chefes das dissidências foram assassinados no lado venezuelano recentemente, em disputas envolvendo outros grupos armados, que incluem narcotraficantes. Estima-se que o ELN tenha cerca de 2.500 combatentes, entre homens e mulheres, segundo o centro de estudos independente Indepaz. Por outro lado, o grupo formado por dissidentes das Farc soma aproximadamente 5.200 guerrilheiros, sendo que 85% nunca fizeram parte da extinta guerrilha.

Na noite desta segunda, autoridades venezuelanas informaram que ao menos sete pessoas, incluindo um adolescente com menos de 15 anos, morreram num confronto entre grupos armados durante a celebração do fim do ano, em Barrancas del Orinoco, município de 30 mil habitantes no estado de Monagas.

A região fica a quase 1.500 quilômetros de Arauca, distante do controle das autoridades colombianas. Mesmo assim, políticos da oposição e meios de comunicação locais destacam que o episódio envolveria disputas entre uma quadrilha local e uma guerrilha colombiana. Segundo María Gabriela Hernández, ex-deputada de Monagas pela oposição, "grupos irregulares com sotaque colombiano" lutam pelo controle da região que, segundo ela, é base do tráfico de pessoas e do contrabando de minerais, drogas e armas.

O conflito ainda se estende a disputas de narrativas envolvendo os governos colombiano e venezuelano. Duque acusa o regime chavista de "compactuar com a existência de grupos armados ilegais".

O presidente colombiano disse, ao final de um conselho de segurança em Cartagena, que o ELN e os dissidentes das Farc "têm operado à vontade em território venezuelano com o consentimento e a proteção do regime ditatorial", referindo-se ao regime de Nicolás Maduro. O venezuelano nega as acusações.

Os dois países romperam relações logo depois de Duque chegar ao poder, em agosto de 2018 —o colombiano é próximo do governo dos EUA, um dos principais adversários de Maduro.

Em 40 anos de combate ao narcotráfico, com financiamento americano, a Colômbia continua a ser o maior produtor de cocaína do mundo, e os EUA, seu maior consumidor. No final de novembro, os americanos removeram as Farc de sua lista de organizações terroristas, mas acrescentaram na relação dois grupos de dissidentes. A mudança na designação facilita o envio de ajuda a projetos que envolvem os ex-rebeldes. A guerrilha era considerada terrorista desde outubro de 1997, na gestão de Bill Clinton.

Hoje, as Farc são formalmente um partido político —que a princípio manteve o acrônimo, mas mudou seu significado para Força Alternativa Revolucionária do Comum, antes de se rebatizar como Comunes. Pelo acordo de paz, o grupo recebeu dez cadeiras no Congresso depois que o pacto foi assinado.

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