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EUA enfrentam nova crise com incursões da China contra defesas de Taiwan

Com tensão na Europa em fase aguda, Washington envia dois porta-aviões e gera reação de Pequim

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São Paulo

Envolvidos com a aguda fase da crise entre a Rússia e a Ucrânia, que ameaça descambar para uma guerra no Leste Europeu, os Estados Unidos enfrentam uma segunda ameaça em uma frente que estava relativamente calma: o Indo-Pacífico.

Pequim reagiu a manobras navais entre americanos e japoneses, que culminaram com o envio de dois grupos de porta-aviões dos EUA para o disputado mar do Sul da China, e promoveu a maior incursão aérea contra defesas de Taiwan desde outubro.

Caças F-16 de Taiwan, a linha de frente para interceptar aviões chineses em incursões
Caças F-16 de Taiwan, a linha de frente para interceptar aviões chineses em incursões - Patrick Lin - 4.jul.2015/Reuters

Os incidentes ocorreram no domingo (23), e nesta segunda houve uma nova leva de ações militares chinesas sobre a Adiz —área de identificação de defesa aérea, uma espécie de espaço aéreo informal que os países usam para monitorar ameaças— de Taiwan. No domingo, foram 39 aviões, 34 dos quais caças, 4 especializados em guerra eletrônica e 1 bombardeiro. Na manhã desta segunda, foram 10 caças, 1 aeronave de guerra antissubmarino e 2 J-16D, um novo avião de ataque com defesas eletrônicas.

Os taiwaneses fizeram interceptações com seus caças, após duas semanas complicadas, já que a frota do novo avião de linha de frente do país, o F-16V americano, ficou fora de operação devido à queda ainda não explicada de um aparelho no começo do ano.

Os EUA apoiam, politicamente e com venda de armas, o governo taiwanês, embora teoricamente aceitem o princípio de que só há uma China, aquela comandada por Pequim.

Pequim não fez comentários, mas o movimento sugere uma retomada de ações de grande porte. Em outubro, em apenas quatro dias, 148 aviões testaram as defesas da ilha autônoma que o regime comunista considera sua —no dia 4 daquele mês, foi estabelecido o recorde histórico de 56 aeronaves.

De lá para cá, o ritmo diminui, embora seja uma constante. Neste janeiro, 70 aparelhos haviam voado na Adiz taiwanesa. O movimento é uma reação às manobras com os japoneses no mar das Filipinas, que acabaram no domingo, e ao deslocamento dos dois grupos de porta-aviões que participaram do exercício no mar do Sul da China.

Principal leito de rotas marítimas vitais para economia chinesa, o mar é considerado por Pequim seu quintal —com a militarização de ilhotas e atóis, a ditadura clama 85% dele para si, o que é contestado por vizinhos e pelo Ocidente.

"Operações como essa nos permitem melhorar capacidades críveis de combate, tranquilizar nossos aliados e demonstrar nossa determinação como Marinha de garantir estabilidade regional e conter influências malignas", disse o comandante do grupo de ataque liderado pelo USS Abraham Lincoln, J.T. Anderson.

Esse tipo de confrontação por meio de exercícios militares tornou-se intenso desde que os EUA entraram na Guerra Fria 2.0 com os chineses, em 2017, mas atingiu seu ápice nos dois últimos anos.

O governo de Joe Biden aumentou a frequência de manobras, enfatizando o que chama de liberdade de navegação em áreas próximas a interesses chineses, e estabeleceu um pacto militar com a Austrália e o Reino Unido que pode aumentar sua capacidade de ameaçar rotas de Pequim.

Uma potência continental, a China depende de caminhos pelo mar que são fáceis de bloquear, por cruzarem estreitos controlados por países rivais. A novidade da situação é que esse movimento ocorre agora em meio à piora da crise na Europa, com a Otan (aliança militar liderada por Washington) reforçando posições militares com o temor de uma invasão da Ucrânia pela Rússia.

O país de Vladimir Putin quer uma solução para a guerra civil congelada no leste do país, que envolve rebeldes pró-Rússia, e aproveitou para colocar na mesa um menu de demandas para conter a Otan na região. O impasse está dado.

Ao longo da crise e também na ação russa para esmagar uma revolta no Cazaquistão, a China apoiou Putin e disse que ambos os países precisam estar prontos para agir de forma conjunta contra o Ocidente.

Embora nada indique que a ação em Taiwan seja algo combinado com os russos, é inescapável a ideia de que os EUA podem eventualmente ter de lidar com crises simultâneas em dois lados distantes do mundo, esgarçando suas capacidades de engajamento militar.

O assessor de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, chegou a ter de responder uma questão sobre essa possibilidade em entrevista coletiva recente, tergiversando sobre uma aliança Moscou-Pequim.

Seja como for, ambos os países, adversários históricos, estão bastante próximos militarmente em reação às pressões ocidentais. Recentemente, fizeram inclusive manobras navais provocativas contra os aliados EUA e Japão.

Nesta segunda, Pequim negou uma reportagem da agência americana Bloomberg segundo a qual o líder chinês, Xi Jinping, pediu a Putin para não agir na Ucrânia durante os Jogos Olímpicos de Inverno, que ocorrem na capital do país asiático de 4 a 20 de fevereiro.

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