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Exposição de dados de repórter de TV gera reação à misoginia na China

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Igor Patrick
Xangai (China)

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Uma das mais famosas repórteres da rede de televisão estatal chinesa CCTV foi alvo de uma violenta onda de ataques online nesta semana, o que despertou discussões sobre feminismo e o papel da mulher no mercado de trabalho.

A história começou com o vazamento de dados da jornalista Wang Bingbing por um grupo de perfis anônimos.

Jornalista Wang Bingbing, da rede de televisão estatal chinesa CCTV - Credito: Reprodução

Um documento mostra que ela foi reprovada no teste oficial de inglês aplicado a alunos do ensino superior. Outro revela que Wang compartilhava apartamento com o então namorado aos 19 anos e que, hoje, aos 31, está divorciada.

  • As primeiras reações às revelações foram carregadas de misoginia. Posts acusavam a repórter de "se comportar mal em sua vida pessoal" e de ser um "mau exemplo";

  • Críticos disseram que a reprovação no exame de inglês "prejudica a imagem dela como uma mulher profissionalmente bem-sucedida".

Nas redes sociais chinesas, questionamento aos ataques: "Mulheres não podem se casar ou se divorciar aos 31 anos? Elas não podem escolher entre serem putas ou virgens? O que mais vocês vão exigir?", escreveu um usuário no Weibo, espécie de Twitter chinês.

Em uma rara reação da mídia oficial, a imprensa estatal também manifestou apoio à repórter. Um jornal ligado à Comissão Central de Assuntos Políticos e Jurídicos publicou artigos exortando um "comportamento racional dos usuários online no tratamento de figuras públicas, evitando o doxxing (prática de vazar documentos para destruir reputações)".

Vítima do vazamento, Wang não comentou o caso.

Por que importa:

  • Discussões sobre papéis de gênero e sexualidade têm se tornado cada vez mais frequentes desde o ano passado no país. O caso de Wang impressiona por despertar o interesse mesmo da mídia oficial.

  • Após a polêmica envolvendo a tenista Peng Shuai, a imprensa chinesa tem evitado tocar na pauta feminista, mas o ataque à jornalista da CCTV e toda a discussão posterior ao caso certamente cruzaram a linha do aceitável.


o que também importa

Dois dos principais bancos chineses, o China Eximbank e o China Development Bank, anunciaram que vão adotar termos mais rígidos para empréstimos a nações estrangeiras.

Segundo o jornal Financial Times, as duas instituições começaram a exigir que receitas provenientes de projetos financiados sejam canalizadas a uma conta especial que garanta o pagamento do empréstimo. Os bancos estão solicitando orçamento detalhado dos projetos.

A decisão ocorre após Xi Jinping pedir mais cautela financeira durante o Fórum Trienal de Cooperação China-África, realizado em Senegal em novembro do ano passado.

Países africanos, destino de boa parte dos empréstimos, devem ser os mais impactados. O volume de empréstimos chineses a nações africanas chegou a ser de US$ 29,5 bilhões anuais e caiu para US$ 7,6 bilhões.

A China anunciou que estrangeiros no país vão poder usar o chamado e-Yuan, a moeda digital baseada em uma carteira no celular, durante os Jogos Olímpicos de Inverno.

Na semana passada, o país expandiu o acesso em caráter excepcional ao permitir o download de um aplicativo para armazenar o dinheiro e fazer pagamentos. O sistema atraiu quase 140 milhões de usuários devido às taxas menores para transação.

Os atletas vão receber uma pulseira com a tecnologia de aproximação (NFC), que facilitará os pagamentos. A ideia não agradou todo mundo. Nos EUA, três senadores republicanos pediram ao Comitê Olímpico americano que proíba o uso da moeda por atletas do país, alegando riscos de espionagem.

Ainda sobre Olimpíadas, o comitê organizador anunciou que atletas vão conseguir acessar a internet sem censura durante o evento. O país bloqueia várias redes sociais, veículos de imprensa e sites críticos ao regime há anos, mas os participantes dos Jogos receberão chips de celular especiais.

Pequim atende a uma preocupação antiga do COI, que garantiu à imprensa na época da escolha da sede que a liberdade de acesso à internet tinha sido assegurada pelos chineses na candidatura.

A decisão não tranquilizou a delegação americana, que em documento instou os atletas a presumirem que "todos os dados e as comunicações na China podem ser monitorados, comprometidos ou bloqueados".


fique de olho

O Conselho de Estado da China publicou na quarta-feira (12) o novo plano de desenvolvimento da economia digital, elaborado para corresponder às metas previstas no plano quinquenal 2021-2025.

O documento destaca que a China "participará proativamente no estabelecimento de padrões internacionais" para a tecnologia de comunicação móvel 6G.

Por que importa: ninguém sabe ainda como será a internet de sexta geração, mas a corrida pelo 5G deixou claro que ela certamente representará uma enorme vantagem estratégica para quem for o pioneiro.

Os EUA cometeram um erro estratégico ao subestimar o impacto do 5G, capaz de conectar não apenas computadores e celulares, mas toda uma variedade de dispositivos. Ao apostar tão precocemente no 6G, a China quer garantir nova vitória e a liderança do setor nas próximas décadas.


para ir a fundo

  • A Universidade do Povo da China (Renmin) abriu inscrições para a bolsa de estudos na Escola da Rota da Seda, em Suzhou. O projeto oferece um curso de mestrado em estudos da China contemporânea com foco nas áreas de ciência política, economia, direito e cultura chinesa. As bolsas são integrais e cobrem todos os custos associados ao curso. (gratuito, em inglês)
  • Fundadores e proprietários de empresas e startups de qualquer setor já podem se inscrever para o programa educacional Masterclass Netpreneur, oferecido pela gigante do comércio chinesa Alibaba. O curso tem duração de quatro semanas e visa treinar empreendedores a realizar negócios na era digital. (gratuito, em inglês)
  • ​Neste ótimo artigo, a diplomata e ex-ministra-conselheira da embaixada do Brasil em Pequim, Tatiana Rosito, analisa os acertos e as contradições na condução da economia e da política na China, ampliando o debate para os interesses nacionais brasileiros nessa história. (gratuito, em português)
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