Homem sobrevive a vulcão e tsunami em Tonga depois de ficar 27 horas à deriva

Carpinteiro aposentado de 57 anos ganhou nas redes apelido de 'Aquaman da vida real'

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BAURU (SP)

À medida que Tonga começa a entender melhor a dimensão dos estragos provocados pelo tsunami formado após uma erupção vulcânica no último fim de semana, surgem relatos de sobreviventes com histórias cinematográficas e quase milagrosas.

Um deles é de Lisala Folau, carpinteiro aposentado e com deficiência, que contou sua experiência a uma rádio tonganesa. O homem de 57 anos disse ter ficado por cerca de 27 horas no mar, nadando e flutuando entre as ilhas do arquipélago depois de ser arrastado pelas ondas gigantes.

Folau contou que estava pintando sua casa no sábado (15), na ilha de Atata, onde moram cerca de 60 pessoas, quando recebeu o alerta de tsunami. Depois que a primeira onda atingiu o local, Folau, um irmão mais velho e um sobrinho se protegeram indo para uma parte mais alta da casa.

Foto divulgada no Facebook da ministra da Economia de Tonga mostra a destruição provocada pelo tsunami na ilha principal do país, Tongatapu - Viliami Uasike Latu no Facebook - 20.jan.22/AFP

Novas ondas, que ele estimou em até 6 metros de altura, atingiram Atata, onde as imagens de satélite dos danos foram descritas como catastróficas. Os três homens e uma sobrinha de Folau tiveram então que subir em uma árvore para se proteger e, quando acharam que o pior havia passado, desceram.

A aparente calmaria, no entanto, foi o prenúncio de uma onda ainda maior, segundo o relato do carpinteiro. "Quando a onda quebrou em terra bem abaixo da gente, minha sobrinha e eu não tínhamos onde nos segurar e fomos arrastados para o mar", contou. Segundo ele, eram 19h de sábado, no horário local.

Era noite, continuou Folau, e a visibilidade estava bastante limitada. O carpinteiro disse que só conseguia ouvir a sobrinha pedindo socorro e seu filho o chamando. Nesse momento, ele afirmou ter feito uma escolha difícil para salvar a vida do filho. "Como pai, mantive o silêncio, pois, se eu respondesse, ele pularia [no mar] e tentaria me resgatar", disse. Ele se agarrou a um tronco entre as ondas, na esperança de que, se morresse, pudesse ter o corpo localizado pela família.

Começaram, então, o que seriam em torno de 27 horas à deriva após o tsunami. A princípio, Folau disse ter ficado próximo à ilha de Toketoke, a leste de Atata. Ainda flutuando, contou ter visto dois barcos de patrulha marítima e acenou aos agentes, que não o viram.

Imagens de satélite mostram dimensão do impacto de tsunami em Tonga

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As instalações do porto da capital do país, Nukualofa, em 29.dez.21, antes da erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai e do tsunami, e nesta terça, 19.jan.22- - Maxar Technologies/Reuters

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Casas em bairro da capital tonganesa Nukualofa antes da erupção e do tsunami, em 29.dez.21, e nesta terça, 18.jan.22

O carpinteiro tentou chegar à ilha de Polo'a, em uma saga que ele estima ter durado cerca de oito horas a nado. O que o mantinha disposto, segundo seu relato, era a lembrança dos familiares —a sobrinha cujo destino em alto-mar ele desconhecia, uma irmã que tem diabetes e a filha que tem problemas cardíacos.

Por volta das 22h de domingo, Folau conseguiu chegar a Sopu, no extremo oeste da capital de Tonga, Nukualofa. Ele disse que estava praticamente se arrastando até uma estrada quando foi resgatado por um motorista que passava pelo local. Não há informações oficiais sobre o que aconteceu com os familiares de Folau, mas nenhum dos três óbitos confirmados em Tonga até esta quinta (20) ocorreu em Atata.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Erika Radewagen, presidente da Associação de Natação da Samoa Americana, descreveu o relato de Folau como "absolutamente impressionante".

"Mesmo nadadores experientes têm limites físicos, e é preciso uma mentalidade diferente para fazer o que ele fez", disse. "Não é como se ele tivesse caído de um barco. Ele estava escapando de um vulcão em erupção e foi varrido por um tsunami." Nas redes sociais, o relato de Folau viralizou e rendeu a ele o apelido de "Aquaman da vida real", em referência ao super-herói dos quadrinhos e do cinema.

Lisala Folau (de camisa estampada, ao centro), ao lado de outros moradores da ilha de Atata, durante entrevista a rádio em a Nukualofa - Marian Kupu - 19.jan.22/Broadcom Broadcasting FM 87.5/Reuters

Moradores de Tonga podem ficar sem água potável

Um levantamento das Nações Unidas estima que cerca de 84 mil pessoas, mais de 80% da população de Tonga, foram gravemente afetadas pelo desastre. Agora, de acordo com a ONU, o maior problema dos tonganeses é o risco de escassez de água potável.

"Cada casa tem seus próprios tanques de abastecimento de água, mas a maioria deles está cheia de cinzas [vulcânicas], então não é seguro", disse à agência de notícias Reuters a jornalista Marian Kupu.

Os resíduos da erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'api também estavam impedindo o pouso de aviões carregados de ajuda humanitária enviados por países como Austrália e Nova Zelândia. Nesta quinta, porém, após um longo esforço de limpeza das pistas, as primeiras aeronaves conseguiram aterrissar.

Um avião Hercules C-130 da Força Aérea neozelandesa levou toneladas de suprimentos de emergência. O país vizinho também enviou, por meio de um navio, 250 mil litros de água potável e equipamentos para dessalinização capazes de produzir mais de 70 mil litros por dia.

Já um Boeing Globemaster C-17 australiano carregou equipamentos para a construção de cozinhas e abrigos temporários, além de mais materiais para tornar potável a água do mar.

Em um discurso transmitido por uma rádio local, o rei de Tonga, Tupou 6º, pediu que a população tenha coragem e trabalhe duro para o processo de reconstrução do país.

Com Reuters

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