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Ingrid Betancourt, ex-refém das Farc, anuncia candidatura à Presidência da Colômbia

Ex-senadora ficou em cativeiro na floresta amazônica durante seis anos, de 2002 a 2008

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Belo Horizonte

A política colombiana Ingrid Betancourt, que ficou conhecida por ter sido mantida refém ao longo de seis anos pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), anunciou nesta terça-feira (18) que é pré-candidata à Presidência do país. O pleito está marcado para o final de maio.

Ela, que estava em campanha presidencial quando foi sequestrada e levada para um cativeiro na floresta amazônica, ficou sob domínio dos então guerrilheiros de 2002 a 2008. Durante o período, chegou a ser amarrada com correntes de metal a uma árvore em diversas ocasiões para que não fugisse.

Betancourt também teve que fazer vídeos com os rebeldes para provar que estava viva. Nas primeiras gravações, pedia às autoridades que investigassem as circunstâncias que haviam levado a seu sequestro, mas depois começou a implorar para que as negociações de paz com os guerrilheiros fossem retomadas. As filmagens circularam por todo o mundo, e ela se tornou símbolo de campanhas de paz na Colômbia.

Ingrid Betancourt durante entrevista coletiva para anunciar que vai concorrer à Presidência, em Bogotá, na Colômbia
Ingrid Betancourt durante entrevista coletiva para anunciar que vai concorrer à Presidência, em Bogotá, na Colômbia - Luisa Gonzalez - 18.jan.22/Reuters

Em 2008, uma operação militar com soldados disfarçados de trabalhadores humanitários conseguiu chegar ao cativeiro e resgatar reféns mantidos pela Farc, entre os quais Betancourt. De acordo com o governo colombiano, não houve troca de tiros durante a ação.

A paz entre as autoridades e os guerrilheiros só seria estabelecida oito anos depois, quando o então presidente colombiano Juan Manuel Santos, amparado por forte apoio internacional, conseguiu aprovar no Parlamento o acordo que fizera com as Farc, ainda que a população tenha votado contra a resolução.

As negociações deram ao líder colombiano um Nobel da Paz.

Hoje, o grupo rebelde é formalmente um partido político —que a princípio manteve o acrônimo, mas mudou seu significado para Força Alternativa Revolucionária do Comum, antes de se rebatizar como Comunes. Pelo acordo de paz, o grupo recebeu dez cadeiras no Congresso.

Nesta terça, Betancourt anunciou que concorrerá à Presidência pelo Oxígeno Verde, mesma sigla de quando se candidatou há 20 anos e que hoje faz parte de uma coligação de forças de centro. Para isso, ela precisará passar por uma consulta eleitoral em março que reúne candidatos dos demais partidos da aliança e, se vencer, disputará o primeiro turno das eleições presidenciais em 29 de maio.

Concorrem ainda para ser cabeça de chapa da coligação nomes como o intelectual progressista Alejandro Gavíria, o centrista Sergio Fajardo (conhecido como o homem que deu nova vida a Medellín) e Juan Manuel Galán, filho do liberal histórico assassinado em plena campanha nos anos 1980.

"Hoje estou aqui para terminar o que comecei com muitos de vocês em 2002. Com a convicção de que a Colômbia está pronta para mudar de rumo", disse Betancourt em entrevista coletiva. "Estou aqui para reivindicar os direitos de 51 milhões de colombianos que não estão encontrando justiça, porque vivemos em um sistema projetado para recompensar criminosos."

A ex-senadora pretende investir no discurso do combate à corrupção como um dos pilares de campanha. "Minha história é a história dos colombianos. Enquanto eu e meus colegas estávamos acorrentados pelo pescoço, as famílias colombianas eram acorrentadas por corrupção, violência e injustiça."

Betancourt também promete defender medidas sociais para atenuar a desigualdade social no país. No ano passado, milhares de manifestantes saíram às ruas, durante semanas, para exigir o fim da proposta de uma reforma tributária vista como prejudicial por uma parcela da população, além de mais empregos, maior acesso à saúde e à educação e a implementação de uma renda básica mínima durante a pandemia.

"Acredito em um mundo com a visão de uma mulher", afirmou.

Na disputa presidencial, analistas avaliam que a líder dos verdes pode encontrar dificuldades para vencer políticos mais experientes. Desde que foi libertada do cativeiro, Betancourt se retirou da vida pública e foi para a França, onde viveu com a família até o ano passado. Sua candidatura também terá início meses depois das de outros nomes, que já têm viajado pelo país para fazer campanha —notadamente o esquerdista Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá, hoje à frente nas pesquisas.

Por outro lado, ela se apresenta como uma alternativa centrista à disputa entre a direita do atual presidente Iván Duque e a esquerda de Petro. "Durante décadas só tivemos opções ruins: extrema direita, extrema esquerda. Agora é a hora de ter uma opção de centro", defendeu.

O analista de risco político Sergio Guzmán considera que, com mais de uma dúzia de candidatos ainda disputando a Presidência e a dois meses das primárias, será difícil para Betancourt causar impacto.

Para ele, ainda que os verdes "representem reconciliação", os colombianos têm outras prioridades. "O principal sentimento é de frustração com um sistema que não oferece oportunidades", disse à agência Associated Press. "E outros candidatos têm feito um bom trabalho aproveitando esse sentimento."

Além da esquerda de Petro e a aliança centrista, deve estar na disputa o ultraconservador Óscar Iván Zuluaga, que também se candidatou em 2014, quando perdeu para Santos. Pesquisa recente aponta que ele tem 12,7% das intenções de voto, enquanto o esquerdista tem 43%.

É nesse amplo espaço que o centro de Betancourt tenta jogar as principais fichas. ​

Com AFP e Associated Press

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