Mesmo partidos de direita no Brasil estão sob influência da China, diz Ernesto a Bannon

Em podcast de ex-estrategista de Trump, ex-chanceler diz que 'big center', ou seja, o centrão, é afetado pelo país asiático

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Washington

Em conversa com o estrategista americano Steve Bannon, o ex-chanceler Ernesto Araújo afirmou nesta terça-feira (4) que todo o sistema político brasileiro —incluindo os partidos de direita— está sob a influência da China e do que ele chamou de "narcossocialismo".

Bannon, que foi conselheiro do ex-presidente dos EUA Donald Trump, havia perguntado em seu podcast "War Room" se Lula estava ligado ao Partido Comunista Chinês —Ernesto disse que provavelmente sim.

Depois, o ex-ministro afirmou que também o centrão —o "big center", na fala dele em inglês— é afetado pelo país asiático. "Mesmo alguns partidos considerados de direita estão totalmente sob a influência de Pequim", disse Ernesto, citando nominalmente o Progressistas (PP), aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) e chefiado por Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil.

O ex-chanceler Ernesto Araújo depões em sessão da CPI da Covid, em Brasília
O ex-chanceler Ernesto Araújo depões em sessão da CPI da Covid, em Brasília - Adriano Machado - 18.mai.21/Reuters

O diplomata afirmou que essa penetração chinesa no Brasil afeta os líderes políticos no Congresso, o Supremo Tribunal Federal, a elite econômica e —"é claro"— a imprensa. Há, ainda, segundo o ex-ministro, influência no governo Bolsonaro. "Basicamente, eles administram o fluxo de dinheiro no país, e a China alimenta esse fluxo. A China prospera onde quer que haja corrupção", afirmou.

Ernesto foi chanceler do Brasil de 2019 a 2021 e fazia parte da dita ala ideológica da gestão. Sua controversa gestão foi marcada pelo atrito constante com a China, maior parceiro comercial do Brasil.

Em março do ano passado, em meio à tempestade de antagonismos com diversos setores políticos e da sociedade, ele deixou o cargo. Desde então, tem sinalizado desgosto com os antigos aliados. Recentemente, por exemplo, disse que o governo Bolsonaro virou uma "base do centrão".

A participação no programa de Bannon nesta terça alimenta seu perfil público ligado a movimentos da ultradireita, dos quais o ex-estrategista de Trump é um dos expoentes mais visíveis nos EUA.

Depois de aconselhar o líder republicano, Bannon tem lançado tentáculos a políticos afins no restante do mundo —com interesse peculiar no Brasil, o que contextualiza a participação de Ernesto. Ao se despedir do ex-chanceler, prometendo convidá-lo uma outra vez para conversar, o americano disse que a "revelação" da penetração chinesa no Brasil era uma história importantíssima.

O podcast "War Room" é um dos megafones mais potentes de Bannon. O estrategista afirmou que o próprio Trump acompanha a produção, visto como ferramenta de expansão de sua base radical. Foi ali que Bannon espalhou as teorias conspiratórias –sem nenhuma base factual— de que as eleições americanas de novembro tinham sido fraudadas para que Joe Biden vencesse.

Tais mensagens incentivaram manifestantes a atacar o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, chocando o país. Um ano depois, os Estados Unidos ainda lidam com as cicatrizes daquele episódio, que deixou ao menos cinco mortos. Centenas de pessoas já foram acusadas formalmente pela participação no ataque.

Durante a conversa de menos de oito minutos, Ernesto concentrou sua mensagem na China. Disse que o país asiático está presente em toda a América Latina, alimentando-se de sistemas socialistas.

Em tom de alerta, citou os governos de México, Argentina, Bolívia, Peru e Chile —para ele, são sinais de que há uma onda de esquerda no continente. "A maior parte dos países está sucumbindo ao socialismo", disse o diplomata. Em relação às eleições deste ano no Brasil, afirmou ser necessário manter o país no conservadorismo. "Somos a única esperança contra a penetração do narcossocialismo na região."

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