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Parlamento da França aprova passe vacinal, em vitória política para Macron

Projeto de lei que exige prova de vacinação para acesso a lugares públicos ainda precisa de aval do Senado

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BAURU (SP)

Apesar da crise política após a fala controversa de Emmanuel Macron, o Parlamento francês aprovou nesta quinta (6) o projeto defendido pelo presidente para impor regras mais duras ao passaporte vacinal.

A maioria dos legisladores votou a favor da proposta depois de uma sessão que se estendeu durante toda a noite com debates acalorados. No placar, 214 a favor, 93 contra e 27 abstenções. Em geral, os que se opuseram à aprovação pertencem aos extremos do espectro político, tanto à esquerda quanto à direita.

O projeto ainda precisa ser aprovado pelo Senado na próxima segunda (10). O cronograma inicial do governo era, depois dessa etapa, fazer com que as novas regras entrassem em vigor no sábado (15), mas é possível que a vigência ganhe uma nova data.

O presidente da França, Emmanuel Macron, exibe frasco com doses da vacina contra a Covid em fábrica na comuna de Saint-Rémy-sur-Avre, a oeste de Paris - Christophe Ena - 9.abr.21/Reuters

O texto propõe, entre outras medidas, que um novo passaporte de vacinação substitua o documento atual, eliminando a opção de apresentar um teste com resultado negativo para Covid como certificado de saúde.

O plano é exigir que todos os maiores de 12 anos mostrem provas de que foram imunizados caso queiram frequentar restaurantes, museus, academias, cinemas e o transporte público.

O projeto prevê ainda multas que podem chegar a 50 mil euros (R$ 322 mil) a empresas que não aderirem ao trabalho remoto quando o governo assim determinar, mesmo tendo condições para tal.

Havia dúvidas acerca da aprovação do projeto depois da repercussão de uma entrevista de Macron ao jornal Le Parisien, durante a qual ele disse "ter muita vontade de irritar os não vacinados". Na fala, utilizou um verbo em francês que, a depender do contexto, pode ser considerado um palavrão.

O líder francês foi criticado por lideranças políticas de todos os espectros, em especial pelos candidatos à Presidência na eleição prevista para o mês de abril. Para analistas, a mudança de tom de Macron —que fez um discurso em 31 de dezembro defendendo a união do país e adotou, quatro dias depois, uma postura bem mais afiada— foi um movimento político calculado, não um deslize.

Assim, ao mesmo tempo que posiciona Macron no lado oposto a candidatos da ultradireita como Marine Le Pen e Eric Zemmour, contrários a quase qualquer nível de restrições mesmo diante da crise sanitária, a fala controversa ajudou a expor incongruências entre outros partidos da oposição. Não houve, por exemplo, unidade entre os Republicanos na votação do passe vacinal.

Além disso, o tom pouco usual entre líderes de Estado moderados teve recepção mista na opinião pública. Uma pesquisa do instituto Elabe aponta que 53% dos entrevistados se disseram chocados com as palavras de Macron, contra 47% que não viram nada chocante no que ele disse.

Em outra frente, o ministro da Saúde, Olivier Véran, comemorou enfaticamente o fato de que mais de 66 mil franceses receberam doses da vacina contra a Covid no dia da publicação da entrevista —de acordo com dados do governo, o maior número desde 1º de outubro.

Embora não haja evidências que sustentem uma possível relação entre a fala de Macron e o índice de imunizados no dia, o dado reforça a tese de que o presidente procurou explorar politicamente a crescente frustração da maioria dos franceses contra os que se recusam a receber o imunizante.

Resta saber se a estratégia, do ponto de vista eleitoral, vai funcionar em abril, quando os franceses irão às urnas escolher seu presidente. Macron até agora não confirmou oficialmente sua candidatura à reeleição.

Na mesma entrevista em que ele se posicionou contra os não vacinados, uma leitora do jornal Le Parisien tocou no assunto ao dizer que não imaginava um cenário sem a participação de Macron no pleito.

Ao responder que não está produzindo um "falso suspense" e que deve fazer um anúncio oficial nas próximas semanas, o líder francês não deixou dúvidas de que quer concorrer a mais cinco anos no Palácio do Eliseu.

"Se eu anunciar hoje [a candidatura], qual será minha capacidade de lidar com o pico de uma crise sanitária?", disse Macron, aproveitando a deixa para tentar passar a ideia de que, para ele, o bem-estar dos franceses é mais importante que suas ambições eleitorais.

Com AFP

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