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Presidente do Peru fará 3ª reforma ministerial em 6 meses de governo após nova crise

Saída do titular da pasta do Interior leva a pedido de demissão da primeira-ministra, o que força formação de novo gabinete

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Buenos Aires

O presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou nesta segunda-feira (31) que renovará mais uma vez seu gabinete, após aceitar a renúncia da primeira-ministra, Mirtha Vásquez. Até a publicação deste texto, ainda não havia sido anunciado nenhum novo nome da equipe.

A legislação peruana determina que, no caso de demissão do primeiro-ministro, ao designar outro ocupante para o cargo, o presidente precisa nomear todo um novo gabinete —embora possa manter algumas posições, se desejar. Todos passam pelo voto de confiança do Congresso até um mês após a indicação. Castillo passará por esse processo pela terceira vez em pouco mais de seis meses no posto.

O esquerdista fez o anúncio por meio de suas redes sociais, agradecendo à auxiliar demissionária. "Agradeço o apoio de Mirtha Vázquez, assim como o dos titulares das diferentes carteiras", afirmou. "Seguiremos pelo caminho do desenvolvimento pelo bem do país."

O presidente do Peru, Pedro Castillo, em encontro da Aliança do Pacífico, na Colômbia - Luis Robayo - 26.jan.22/AFP

O presidente ainda escreveu que "o gabinete está em constante avaliação" e que esta seria a razão pela qual teria decidido renová-lo. A troca de equipe, porém, se dá muito mais devido a uma nova crise política, desencadeada com a saída do governo de Avelino Guillén, que estava à frente do Ministério do Interior.

O político pediu demissão no último dia 28, depois de ter entrado em choque com o comandante-geral da Polícia Nacional, Javier Gallardo, por se opor a uma série de mudanças de oficiais, com alguns promovidos e outros transferidos para a reserva.

Vázquez entrou no circuito e vinha tentando demover Guillén da ideia de renúncia. Em um encontro com o presidente na manhã desta segunda (31), porém, a primeira-ministra disse ter falhado. Em suas redes sociais, anunciou: "Apesar dos esforços realizados, a essa altura meu papel se esgotou".

Em documento entregue a Castillo, ela ainda definiu como crítico o momento em que o governo se encontra. "Por infortúnio, chegamos ao ponto de não obter consensos sobre a liderança de um setor tão importante como o [Ministério do] Interior", afirmou. "Pelo respeito às linhas institucionais, coloco em dúvida a possibilidade de que realizemos mudanças importantes para o país", afirmou.

Desde que assumiu o cargo, em 28 de julho, após derrotar Keiko Fujimori por uma pequena margem no segundo turno, o líder esquerdista já enfrentou pedidos de impugnação do pleito, a renúncia do chefe das Forças Armadas pouco antes da posse, um processo de impeachment que acabou rejeitado no Congresso e demissões pontuais de auxiliares —por declarações polêmicas, denúncias de irregularidades e pela realização de uma festa em meio a restrições impostas pelo governo para conter a pandemia.

Isso tudo sem contar a formação de dois gabinetes, que se deu em meio a atritos com seu próprio partido, o Perú Libre; lideranças mais à esquerda da legenda criticaram a indicação de nomes chamados por eles de "caviares", mais moderados. Vásquez havia sido nomeada primeira-ministra após a saída de Guido Bellido, que responde a processos por corrupção e apologia do terrorismo, por comentários elogiosos ao Sendero Luminoso —guerrilha que, em conflito com o Estado, causou a morte de mais de 70 mil peruanos.

Nas nomeações anteriores, Castillo passou por provas de fogo no Congresso. Na primeira delas, foram necessárias duas sessões e mais de 18 horas para a concessão do voto de confiança; na segunda, houve dez horas de debate, marcadas pela morte de um deputado, que se sentira mal horas antes.

A crise atual ainda pode respingar no presidente, já que Guillén diz ter apresentado sua renúncia devido à falta de apoio do mandatário em suas denúncias de irregularidades na Polícia Nacional.

Em entrevista recente, antes de se demitir, o agora ex-ministro afirmou que o presidente teria preferido não se intrometer em sua fricção com a corporação. "Se o presidente não me apoia, não tenho porque ficar."

O político criticou o modo como a polícia estava se reorganizando após um corte de orçamento, deixando áreas importantes desprotegidas e fazendo "promoções seletivas", principalmente na região de Lima.

O ex-titular do Interior ainda recebeu manifestações de apoio de ministros-chave do atual governo, como Pedro Francke, da Economia. "Guillén é um paladino na defesa dos direitos humanos. No gabinete foi pontual na luta contra a corrupção. Estou certo de que continuaremos encontrando-nos na luta por um país melhor", escreveu nas redes sociais.

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