Descrição de chapéu Ásia talibã

Retirada de animais do Afeganistão joga mais pressão para saída de Boris Johnson

Oposição afirma que premiê priorizou animais em vez de pessoas no ápice da crise humanitária após retorno do Talibã

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Guarulhos

Uma nova polêmica bateu à porta do premiê britânico, Boris Johnson, alvo de pedidos de renúncia devido a uma série de festas realizadas na sede do governo durante períodos de restrições para conter a pandemia. Desta vez, o caso envolve o resgate de dezenas de animais do Afeganistão em meio à caótica retirada do país após o grupo fundamentalista Talibã retomar o poder, em agosto.

Dois emails da chancelaria britânica tornados públicos nesta quarta (26) sugerem que Boris autorizou a retirada de cães e gatos organizada por uma ONG local. O caso veio à tona em dezembro e gerou críticas de que animais teriam sido priorizados em vez de pessoas. O premiê negou ter envolvimento na decisão.

O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, durante encontro com militares britânicos que participaram da retirada do Afeganistão - Dan Kitwood/Pool - 2.set.2022/Reuters

A operação foi pleiteada pela ONG Nowzad, administrada pelo ex-fuzileiro naval Paul Farthing. Apoiadores da organização arrecadaram dinheiro para um avião particular, mas precisavam de permissão para pousar em Cabul. Cerca de 150 cães e gatos foram resgatados em um dos últimos voos que saíram do local.

Quando o assunto ganhou projeção nacional e Boris foi questionado sobre se havia atuado no caso, o premiê disse que a alegação era um "completo absurdo". O governo fez coro, em comunicado, e disse que em nenhum momento o premiê interferiu. "Sempre priorizamos pessoas em detrimento de animais."

As mensagens divulgadas nesta semana, porém, sugerem que o político conservador sabia da decisão e participou dela. No primeiro email, datado de 25 de agosto, um funcionário da diplomacia britânica pressiona um colega para ajudar uma segunda instituição de caridade animal e diz: "[O caso] Nowzad recebeu muita publicidade, e o premiê acaba de autorizar a retirada da equipe e dos animais."

Na segunda mensagem, do mesmo dia, outro funcionário repete a alegação ao usá-la como argumento para defender que outra instituição de caridade, cujo nome não é revelado, receba ajuda. Ele diz que a autorização deve ser dada "à luz da decisão do primeiro-ministro de retirar a equipe da instituição de caridade animal Nowzad". Diante das novas informações, Boris voltou a negar participação no caso.

Segundo informações do jornal britânico The Guardian, um porta-voz disse que o premiê não teve nenhum papel na autorização de evacuações individuais no Afeganistão, incluindo a de animais.

O assunto voltou a ser tema do comitê de Relações Exteriores do Parlamento britânico e acirrou as críticas a Boris. O parlamentar trabalhista John Healey disse, em uma rede social, que o premiê "mais uma vez foi pego mentindo". "Ele nunca deveria ter dado prioridade à retirada de animais do Afeganistão enquanto os afegãos que trabalhavam para nossas forças eram deixados para trás."

Os emails foram fornecidos ao comitê por Raphael Marshall, um ex-diplomata do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido que, desde o ano passado, tem feito denúncias públicas sobre a forma como o país organizou a evacuação de cidadãos e aliados. Marshall alega, por exemplo, que cerca de 75 mil a 150 mil pessoas solicitaram resgate por temerem o Talibã, mas somente 5% da estimativa teriam recebido assistência. Ele também diz que os animais foram retirados seguindo uma instrução direta de Boris.

A participação do premiê é negada pelo secretário de Defesa britânico, Ben Wallace. À emissora pública BBC ele declarou que em nenhum momento foi instruído pelo primeiro-ministro a retirar Pen Farthing, sua equipe e os animais resgatados pela ONG. "Não colocaríamos animais de estimação na frente de pessoas, e, como os fatos mostram, Farthing saiu por último."

A retirada de dezenas de milhares de pessoas do Afeganistão quando o Talibã tomou o poder foi marcada por cenas caóticas e de desespero. Dezenas morreram, alguns após tentarem embarcar em aviões durante a decolagem. Dos que permaneceram, muitos tentam emigrar para outros países como forma de fugir do regime fundamentalista e da pobreza que assolou o país com maior intensidade nos últimos meses.

Entre acusações e negativas, os emails divulgados colocaram mais lenha na fogueira em um momento no qual Boris está envolto em camadas de crise. As revelações de festas realizadas em Downing Street durante momentos críticos da crise sanitária desaguaram em uma investigação policial que talvez resulte apenas em multas, mas que também ajuda a fragilizar a percepção pública da figura do premiê.

Espera-se que um relatório interno do governo, capitaneado pela segunda-secretária de gabinete, Sue Gray, detalhe a extensão das violações às regras sanitárias promovidas por membros de Downing Street. A previsão era de que o documento fosse publicado nesta semana, e fontes disseram ao Guardian que o material já foi finalizado, mas que, após o anúncio da investigação policial, a divulgação pode atrasar.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.