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Traga sua bebida, dizia convite de gabinete de Boris para evento durante confinamento

Festa teria ocorrido em maio de 2020 e contado com a presença do premiê e de sua mulher

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Londres | Reuters

Um email que veio a público nesta segunda-feira (10) vai de encontro à alegação do gabinete do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, de que um encontro com assessores realizado nos jardins da residência oficial em maio de 2020 era um evento profissional.

A rede britânica ITV divulgou a mensagem, que teria sido enviada pelo secretário particular do premiê, Martin Reynolds, a mais de cem funcionários do governo na ocasião. "Depois de um período incrivelmente movimentado, seria bom aproveitar ao máximo o clima agradável e tomar, com distanciamento social, algumas bebidas, nos jardins do número 10 [referência ao endereço 10, Downing Street], nesta noite", escreveu. "Por favor, junte-se a nós a partir das 18h e traga sua própria bebida!"

À época, vigoravam restrições severas impostas pelo governo para tentar frear a disseminação do coronavírus. Elas incluíam o veto ao funcionamento de bares e restaurantes e proibiam reuniões de mais de duas pessoas residentes em casas diferentes.

O premiê britânico, Boris Johnson, acena a jornalistas ao deixar a residência oficial, em Londres - Toby Melville - 5.jan.22/Reuters

O gabinete de Boris a princípio negou a realização da festa. Em dezembro, quando foram divulgadas pelo jornal The Guardian fotos que mostravam o próprio premiê no evento, em uma mesa com queijos e vinhos, a versão foi de que assessores estavam trabalhando no jardim naquele dia.

Cerca de 40 funcionários teriam comparecido à festa​, segundo a ITV. Procurado pela agência de notícias Reuters, o premiê não comentou a publicação. Nesta segunda, questionado sobre ter estado no local com a mulher, Boris se recusou a responder, dizendo que "tudo isso é objeto de uma investigação".

O premiê se refere a uma investigação interna para esclarecer denúncias de que ao menos cinco festas foram realizadas por órgãos do governo durante a vigência de medidas de isolamento. Em dezembro, Simon Case, secretário de gabinete que liderava a apuração, deixou o cargo após a imprensa apontar que um evento foi feito em seu escritório; Sue Gray, segunda secretária de gabinete, assumiu o caso.

Na semana passada, o ex-conselheiro-chefe de Boris confirmou que uma festa com bebidas foi realizada no jardim da residência oficial do premiê em 15 de maio de 2020. Segundo Dominic Cummings, ele alertou na ocasião que o evento contrariava as regras impostas pelo próprio governo.

A polícia de Londres, que antes havia negado a investigação desses encontros com autoridades durante o isolamento, informou nesta segunda estar em contato com o gabinete do premiê depois do que classificou de "relatos generalizados" de violações na sede do governo de medidas para conter a Covid.

A revelação da rede ITV rendeu uma nova rodada de críticas a Boris no Parlamento. O Partido Trabalhista, principal sigla de oposição, acusou o premiê de "não ter consideração pelas regras que estabeleceu para o resto de nós". Nota do Partido Nacional Escocês chamou o email de Reynolds de "totalmente ultrajante".

Além da suposta festa de maio de 2020, outro evento teria sido realizado em Downing Street durante o Natal de 2020, quando celebrações presenciais também estavam proibidas. O episódio levou à renúncia de uma assessora, no início de dezembro.

As celebrações representam um dos vários escândalos relacionados ao conservador nos últimos meses. Pesa ainda contra Boris um episódio em que ele foi responsabilizado —e seu partido, multado— por uma reforma feita na residência oficial com verba não declarada oriunda de uma doação privada.

Há, ainda, queixas contra o premiê por tentar mudar normas parlamentares para ajudar aliados políticos, por suas férias luxuosas no exterior, por vínculos duvidosos com algumas empresas e acusações de clientelismo na designação de cadeiras na Câmara dos Lordes (equivalente ao Senado).

Como sinal do desgaste, o Partido Conservador perdeu, em dezembro, a eleição em North Shropshire por uma cadeira no Parlamento. O resultado do pleito, apesar de não ameaçar a maioria conservadora, teve um peso simbólico relevante, já que a região era dominada pela sigla há quase 200 anos.

Boris ainda enfrentou uma rebelião dentro de seu partido na votação de um novo conjunto de restrições para frear o avanço da variante ômicron. A medida só foi aprovada graças aos votos da oposição.

O número oficial de mortos por Covid no Reino Unido superou a marca de 150 mil no último sábado (8).

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