Virada na Times Square tem filas enormes, pizza de rua a R$ 195 e policiais sem máscara

Réveillon de rua em Nova York dividiu público reduzido em cercadinhos

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Nova York

O novo ano começou na Times Square ao som de "New York, New York", de Frank Sinatra, com pedaços de papel laminado voando pelo ar e a bola de luzes coloridas no alto de um prédio se apagando, como de costume. Apesar dos rituais tradicionais, a virada de 2022 foi diferente das anteriores na praça mais conhecida de Nova York.

Na primeira festa de Réveillon com público na cidade desde o começo da pandemia, o número de pessoas foi limitado a 15 mil, frente a mais de 60 mil antes da crise sanitária. Era preciso mostrar identidade e comprovante de vacinação na entrada.

Para tentar garantir o distanciamento social, a plateia foi dividida em vários espaços separados por gradis, como currais, que ficavam a vários metros de distância uns dos outros.

Show de Ja Rule e Ashanti durante a virada de 2022 na Times Square, em Nova York
Show de Ja Rule e Ashanti durante a virada de 2022 na Times Square, em Nova York - Hannah Beier/Reuters

Cada espaço desses, no entanto, não tinha estrutura alguma. Era apenas um pedaço de asfalto —sem assentos, banheiros, água ou comida por perto. O acesso a cada um deles era fechado quando determinada quantidade era atingida, e quem saísse era avisado que teria de pegar a fila de novo, desde o início, caso quisesse voltar.

Sete horas antes da virada, às 17h, havia uma fila para entrar que se estendia por cinco quadras. Quem a vencia conseguia acesso a áreas já distantes —a quase dez quarteirões— do epicentro da festa. Os setores perto dos palcos e da bola lotaram rápido, pouco depois da abertura dos portões, às 15h.

"Cheguei aqui no começo da tarde e só consegui espaço longe. Acho que quem fica perto do palco chegou às 6h", contou Alicia, 22, que não quis dar o sobrenome. Ela estava em um espaço mais à frente, mas acabou tendo de ir mais para o fundo depois de precisar sair para ir ao banheiro. Em vez de pegar a fila de novo, acabou pulando a grade, enquanto a polícia não via.

"Vim para cá porque queria viajar. E não gosto de festas onde as pessoas enchem a cara", conta ela, que mora na Virgínia e tinha viajado de ônibus. Um amigo a encontraria na Times Square, mas não conseguiu vir porque a viagem foi cancelada, um reflexo do vertiginoso avanço da pandemia nas últimas semanas no país —de acordo com o que, no mundo, a OMS classificou de "tsunami" de casos, associados à circulação conjunta das variantes delta e ômicron.

Na hora da virada, algumas pessoas pularam as barreiras de metal, em busca de lugares melhores para tirar fotos dos breves fogos de artifício. Em cada cercadinho, havia espaço de sobra para que todos ficassem sem se aglomerar. Mas, como em qualquer show, a maioria das pessoas preferia se juntar na grade com melhor vista do palco, e o resto do espaço ficava vazio, com alguns sentados no chão.

O uso de máscaras também era exigido, mas muitas pessoas as baixavam para o queixo logo depois de entrar —e não havia fiscalização (vários policiais, inclusive, não estavam com o item de proteção). O agente que controlava o acesso ao espaço em que a Folha estava era um deles: ele ficou cerca de meia hora conversando com um casal de frequentadores que também tinha o rosto desprotegido.

O público da festa era variado. Havia jovens casais, grupos de amigos, famílias com crianças, senhoras sozinhas. As conversas aconteciam em muitos idiomas e sotaques diferentes —mas todos entenderam quando um homem, perto das 19h, surgiu do lado de fora da grade gritando "pizza''.

O vendedor, que não trazia credenciais, apoiou na grade sete caixas com pizzas de queijo e oferecia cada uma por US$ 35 (R$ 195) —é comum achar fatias por US$ 2 (R$ 11) na região. Mas, em dez minutos, todas foram vendidas.

Nas horas seguintes, raros vendedores voltaram, oferecendo pizzas e hambúrgueres a preços igualmente salgados. Uma banca de jornal, de modo discreto, funcionava entreaberta. Em outra área, ao lado de uma farmácia, era preciso conversar com um policial para conseguir sair, comprar algo e voltar.

Cada agente parecia agir de uma forma. Questionado sobre banheiros, um deles sugeriu: "Tente ver se algum hotel deixa você usar".

Vários hotéis e restaurantes promoviam festas de fim de ano na região. Quem tinha convite, em geral vestidos muito arrumados, podia acessar a área restrita sem pegar filas e circular pelos corredores entre as grades. Assim, muitos saíam para tirar fotos e logo voltavam para dentro. O custo para isso poderia chegar, no caso da festa do Marriot Marquis, a pelo menos US$ 1.000 (R$ 5.500).

Nas áreas mais afastadas do palco, o clima era mais de espera do que de festa, porque o som chegava baixo —telões em alta definição mostravam quem estava se apresentando. A noite teve números musicais de Mariah Carey, Journey, KT Tunstall, Ja Rule e Ashanti. Três nomes que haviam sido anunciados inicialmente –Carol G, LL Cool J (que pegou Covid) e Chloe– não se apresentaram.

Público enfrentou longas filas para entrar e sair dos cercadinhos de metal
Público enfrentou longas filas para entrar e sair dos cercadinhos de metal - Wang Ying/Xinhua

Na rua, para passar o tempo, alguns casais ensaiavam passos de dança quando a música ficava mais animada. Outros comiam lanches que trouxeram de casa, sentados no chão. E quase todos mexiam no celular, a maioria para tirar fotos, fazer chamadas de vídeo e compartilhar que estavam ali.

"Vim porque sempre quis conhecer essa festa, por ser considerada o maior Ano-Novo do mundo", comentou Thrupthi, jovem de origem indiana que veio estudar nos EUA (e também não quis dar o sobrenome).

A cada hora, havia uma contagem regressiva e uma pequena explosão de fogos de artifício, como forma de esquenta para a hora da virada. Quando a meia-noite se aproximou, a aglomeração aumentou bastante, e todos tentavam achar um bom ângulo. A contagem regressiva começou, os celulares subiram e mal dava para ver o telão. Mas os fogos de artifício, a chuva de papel colorido e o clima da virada fizeram valer a pena as várias horas de espera.

A multidão começou a ir embora minutos depois, ao som de "What a Wonderful World", de Louis Armstrong. Muitos tentaram parar para tirar mais fotos, mas a polícia mandou que todos circulassem. Perto de 0h30, o metrô levava muitas pessoas ainda vestidas com óculos em formato de "2022" e chapéus que desejavam "Happy New Year''.

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